29.8.08

EXPERIMENTAR DEUS

Ele está lá. Experimentando a dor, o desespero e o medo.
Para alguém que viveu a sua vida para amar e amou os seus até o fim, encontra-se agora pendurado num pedaço de madeira. Não queria, mas está; tentou evitar, mas não teve jeito. Vitimado por sua própria mensagem, o Reino de Deus.

Ele só queria que Deus fosse mais acessível e presente para o seu povo que aprendeu que a realidade divina é transcendente. Por causa desta postura, foi chamado de blasfemo, de louco, herege e beberrão.

Deus para ele não era um conceito, uma doutrina. Viveu a profundidade da relação com Deus ao ponto de chamá-lo de Abbá, paizinho. Para quem ouvia isso era um absurdo – “onde já se viu referir-se a Deus desse jeito?” Inconcebível. Imperdoável.

Ele queria colocar vida naquele sistema religioso que oprimia o pobre e acentuava a condição social de “favorecidos de Deus” de quem detinha o poder religioso. Era uma nova postura, uma nova maneira de ver Deus e experimentá-lo no cotidiano.

Agora ele esta lá. Gemendo de dor e agonia. Vivenciando a solidão de Deus: “Deus meu Deus meu, por que me desamparastes?” Ele grita. Grita porque os seus amigos o abandonaram; ele grita porque aquele povo que ele teve tanta compaixão e foi como pastor preferiu Barrabás.

Não tem um porquê. Não tem explicação. Ele não procura saber a causa do sofrimento humano, apenas participa; ele não procura entender a morte, apenas chora pelo amigo que se foi; ele não faz nenhum tratado sobre o mal, apenas certifica-se de que ele está aí.

A sua experiência com Deus não pode ser medida por aquele momento de desespero e dor. O resultado de sua vida não foi a cruz, mas foi a sua espiritualidade com Deus.

O ódio não está na cruz; a falta de amor não está na cruz; a falta de perdão não está na cruz. Está na cruz a compaixão, o amor, o perdão aos assassinos. Está na cruz um homem que viveu para a sua mensagem, o Reino de Deus, e morreu por ela. Está na cruz alguém que foi um filho melhor, um amigo melhor, um irmão melhor, um cidadão melhor porque experimentou Deus de maneira intensa e profunda.

Pr. Alonso Gonçalves
Iporanga/SP

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