Há tempos que pastores, teólogos e sociólogos da religião vinham afirmando que o movimento autointitulado de “gospel” era danoso para as igrejas.
Denunciávamos a igreja eletrônica, midiática, suntuosa, pomposa, onde o número dos espectadores do “show da fé” era o que validava as práticas, algumas delas feitas na Lagoinha.
A máxima do “se enche de gente é válido”, tese iniciada com
o Church Growth Movement, a partir do Fuller Theological Seminary,
plantou na seara das igrejas as muitas sementes do joio.
A comunhão, essencial para o culto cristão, cedeu espaço
para a empolgação. Os compromissos cristãos com a santificação, amor ao
próximo, edificação alicerçada no ensino sério e profundo, cederam espaços para
os holofotes, palcos, luzes estroboscópicas, equipe musical, cantores
performáticos, pregações motivacionais, conhecimento de obviedades bíblicas
como se fosse o suprassumo da teologia.
“Pastores” brotaram como se fossem tiriricas no meio do
gramado. A educação teológica em seminários foi substituída por decoreba de
versículos. Buscou-se animadores de auditório e não pastores. Tocadores de
violão, guitarra ou bateria viraram “pastores”. Animadores de auditório
substituíram educadores teológicos.
Locais de reunião pintados de preto por dentro e por fora,
nomes sempre incluindo a palavra “church”. Aglomerações sem estrutura
jurídica, sem estatuto e membresia, se presta(va)m aos interesses pessoais dos
líderes destes ajuntamentos.
A tese fundamentalista de que a Palavra é a verdade,
produziu um contingente que acredita que sua interpretação particular das
Escrituras é verdade infalível. A Bíblia, em uma atitude mágica, foi levantada,
carregada e usada como escudo nesta batalha, como se a Bíblia, por si só,
garantisse a imunidade e impunidade. Diante dos crimes, as interpretações
bíblicas não serão aceitas diante do Código Penal.
Hinos com poesia rica e teologia sólida foram trocados por
refrões infantis e de conteúdo próximo ao zero, com repetição ad nauseam
de frases motivacionais. Doidos e histriônicos, falaram e usaram da proximidade
com o poder de plantão para fazer suas (Silas) Maracutaias.
“Tias profetisas” inundaram as redes com suas profetadas
preditivas, garantindo o que as urnas não confirmaram. A “empreja”, que é
partido político, usou e abusou das benesses do ser acólita do governo
defenestrado.
Sempre acreditei no "remanescente fiel”, presente na
história da religião de Israel e na história da Igreja. Entre eles os
reformadores radicais, que deram suas vidas para estabelecer a separação entre
a Igreja e o Estado.
(Marcos Inhauser)