10.1.23

AS “IGREJAS” DOS TERRORISTAS

Colhemos o que plantamos. 

Há tempos que pastores, teólogos e sociólogos da religião vinham afirmando que o movimento autointitulado de “gospel” era danoso para as igrejas.

Denunciávamos a igreja eletrônica, midiática, suntuosa, pomposa, onde o número dos espectadores do “show da fé” era o que validava as práticas, algumas delas feitas na Lagoinha.

A máxima do “se enche de gente é válido”, tese iniciada com o Church Growth Movement, a partir do Fuller Theological Seminary, plantou na seara das igrejas as muitas sementes do joio.

A comunhão, essencial para o culto cristão, cedeu espaço para a empolgação. Os compromissos cristãos com a santificação, amor ao próximo, edificação alicerçada no ensino sério e profundo, cederam espaços para os holofotes, palcos, luzes estroboscópicas, equipe musical, cantores performáticos, pregações motivacionais, conhecimento de obviedades bíblicas como se fosse o suprassumo da teologia.

“Pastores” brotaram como se fossem tiriricas no meio do gramado. A educação teológica em seminários foi substituída por decoreba de versículos. Buscou-se animadores de auditório e não pastores. Tocadores de violão, guitarra ou bateria viraram “pastores”. Animadores de auditório substituíram educadores teológicos.

Locais de reunião pintados de preto por dentro e por fora, nomes sempre incluindo a palavra “church”. Aglomerações sem estrutura jurídica, sem estatuto e membresia, se presta(va)m aos interesses pessoais dos líderes destes ajuntamentos.

A tese fundamentalista de que a Palavra é a verdade, produziu um contingente que acredita que sua interpretação particular das Escrituras é verdade infalível. A Bíblia, em uma atitude mágica, foi levantada, carregada e usada como escudo nesta batalha, como se a Bíblia, por si só, garantisse a imunidade e impunidade. Diante dos crimes, as interpretações bíblicas não serão aceitas diante do Código Penal.

Hinos com poesia rica e teologia sólida foram trocados por refrões infantis e de conteúdo próximo ao zero, com repetição ad nauseam de frases motivacionais. Doidos e histriônicos, falaram e usaram da proximidade com o poder de plantão para fazer suas (Silas) Maracutaias.

“Tias profetisas” inundaram as redes com suas profetadas preditivas, garantindo o que as urnas não confirmaram. A “empreja”, que é partido político, usou e abusou das benesses do ser acólita do governo defenestrado.

Sempre acreditei no "remanescente fiel”, presente na história da religião de Israel e na história da Igreja. Entre eles os reformadores radicais, que deram suas vidas para estabelecer a separação entre a Igreja e o Estado.

(Marcos Inhauser)