21.9.08

POR UM NOVO ETHOS DE COMUNIDADE BATISTA

Sou cristão, e amo ser batista.

Como pastor batista, admiro as bases que direcionaram nossa história. São marcas que formaram nossa identidade e princípios que contribuíram para um mundo melhor. A ênfase no indivíduo, a liberdade de consciência e religiosa, a democracia como sistema de governo, são o contributo dos batistas à era moderna.

Os batistas no Brasil do século 19 souberam ler muito bem os tempos. Eles viram na sociedade brasileira o anseio por modernidade, e com um discurso liberal, apresentaram a autonomia do indivíduo e a separação igreja-estado como chaves para um país retrógrado, com certo messianismo, é claro. No campo religioso a campanha era salvacionista, conversionista mesmo.

Os tempos mudaram. Hoje falamos em pós-modernidade. Mesmo com a dificuldade que muitos têm em definir o momento (as disputas entre os teóricos de que se estamos ou não na pós-modernidade ou se ainda não saímos da modernidade), o fato é que as coisas mudaram.

Com a pós-modernidade a secularização tornou a religião intimizada e menos sagrada, além de colocar o dogmatismo religioso em xeque. Por outro lado a angústia existencial deu lugar a um misticismo religioso sincrético incrível. Em plena era tecnológica acredita-se em gurus, cristais, pirâmides, numerologia etc. As pessoas clamam por sentido em suas vidas. Não é por acaso que aumenta a cada dia os depressivos, os usuários de drogas e o consumo de álcool. Fazendo esta leitura me pergunto: como podemos ser relevantes neste cenário?

A mensagem precisa ser contextualizada sem perder a coerência. Se antes a mensagem sobre céu-inferno funcionava, agora não funciona mais. As pessoas estão preocupadas com suas vidas aqui e agora. Basta olhar para os grupos neopentecostais e verificar que eles souberam trabalhar muito bem com a expectativa das pessoas, usando recursos que discordamos como a mercantilização do Sagrado, mas alcançando pessoas em seus anseios. E nós os batistas?

Em nosso meio ainda reina discussões medievais como a ordenação de mulheres ao ministério pastoral; o uso da bateria nos cultos; a ceia restrita ou não. Parece que não estamos sabendo ler os novos tempos! Pregadores gastam tempo pregando sobre pré-milenismo, dicotomia ou tricotomia etc. A mensagem não está sendo contextualizada. Alguns estão se esquecendo de que hoje, inevitavelmente, as pessoas escolhem uma comunidade de fé não pelo seu corpo doutrinário, mas pela comunidade em si com sua linguagem e jeito de ser.

A racionalidade preconizada e valorizada demasiadamente anteriormente e a preocupação com o ensino doutrinário puro e simples em detrimento da emoção não tem mais espaço em um novo ethos de comunidade: não é tanto o logos e sim o pathos. A preocupação das pessoas é como lidar com o sofrimento humano; com as mazelas diárias; com as vicissitudes da vida. O novo ethos da comunidade precisa levar em conta esses anseios e debilidades e apresentar Jesus Cristo como plenitude de vida. As marcas de uma comunidade relevante na pós-modernidade será aquela que prioriza a relação fraterna, o apoio mútuo, a vivência do amor, a existência do perdão, o abraço do irmão.

Neste novo ethos a comunidade viabiliza a experiência com Deus de maneira intensa através do louvor e da adoração possibilitando uma espiritualidade abrangente que permita as pessoas experimentar a presença do Sagrado como mistério, tremendo e fascinante (Rudolf Otto). O culto não seria meramente compreensão de algo, mas relacionamento com Deus e com a comunidade de fé, onde o amor e a comunhão são à base do compartilhamento dos problemas e o compromisso de todos seria com todos e mesmo que não consiga tirar a dor do outro ao menos tira a solidão da dor. Oração é simplesmente oração, momento de lançar diante de Deus os anseios, não para esperar uma resposta, mas por orar mesmo. Neste novo ethos a ceia não tem cara de sexta-feira, mas de domingo, celebrando a presença do Ressuscitado no meio da Igreja.

Penso que a maior preocupação da comunidade que queira viver um novo ethos em tempos pós-modernos é a de separar o essencial daquilo que foi acrescentado ao longo dos anos além de proclamar uma mensagem que compartilhe mais a experiência com Deus do que as explicações sobre ele.

19.9.08

INTOLERÂNCIA

Os batistas ao longo de sua história sempre defenderam a liberdade de consciência e religiosa. Somos marcados não por questões doutrinárias, mas por princípios dentre eles a competência do homem diante de Deus e a separação igreja-estado.

Notadamente os batistas se mostram intolerantes com os que não comungam das mesmas idéias. É claro que isso não é de hoje, tem raízes norte-americanas, que sempre nutriram disputas internas e externas marcadas pelo exclusivismo e intolerância religiosa, diferente dos batistas ingleses que toleram opiniões e buscaram convergências nas divergências. Não foi por acaso que os batistas particulares (tendência calvinista) e os gerais (tendência arminiana) se fundiram por lá. O mesmo não ocorreu entre os batistas dos Estados Unidos do norte-sul quanto à questão escravagista, dividiram-se. E não causa surpresa nenhuma a Convenção Batista do Sul não participar do Conselho Mundial de Igrejas enquanto a Aliança Batista Mundial, da qual a CBB é filiada, integra o CMI.

Nossa eclesiologia, marcada pela autonomia, dificulta o relacionamento com outras tendências do cristianismo, mas isso não tem impedido líderes batistas selarem profícuas relações com outras denominações, inclusive Igreja Católica. Mas basta ler alguns textos de pastores e líderes proeminentes da denominação para ver a clara indisposição ao diálogo e o trato pejorativo com quem ousa na possibilidade de convergência, tolerância e respeito – são tratados como trânsfuga do autêntico evangelho e até mesmo, em alguns casos, é colocada em dúvida a autenticidade da experiência com Cristo.

Essa intolerância tem suas raízes, e uma delas indubitavelmente é o fundamentalismo herdado dos missionários norte-americanos que aqui chegaram. Os fundamentalistas surgem como apologistas da verdadeira fé em contraste com a teologia liberal européia. Não entrando em detalhes históricos quanto ao surgimento do termo, ligado aos presbiterianos e sua assembléia que definiu os cinco fundamentos da fé, ou aos professores de Princenton e sua pureza doutrinária ou ao batista Curtis Lee Laws e o periódico batista que vinculava o fundamentalismo da Convenção Batista do Sul, os fundamentalistas preconizam a inerrância da Bíblia e têm uma postura hermenêutica literalista do texto. Deste fundamentalismo os seminários beberam. Tanto que não temos uma reflexão teológica batista brasileira, mas repetição do que já foi produzido na sua maioria por estrangeiros. Em concílios examinatórios para candidatos ao Ministério Pastoral prevalecem a Teologia Sistemática de A. B. Langston. A ênfase esta na evangelização. Pastores são treinados para evangelizar e não para refletir com labor sobre teologia. Certa vez estava em um retiro espiritual da Ordem dos Pastores Batistas do Brasil Seção São Paulo. Havia diversos livros, inclusive de teólogos como Karl Barth, Bultmann e Tillich dentre outros. Títulos de uma editora considerada não-convencional pelos pastores. Confesso que fiquei até surpreso. No outro ano estávamos de volta ao retiro e dessa vez só havia livros de editoras consideradas ortodoxicamente corretas. Perguntei ao irmão a ausência de tais livros, ele me respondeu: “ah pastor pegou muito mal, tivemos várias reclamações”. O fundamentalismo bíblico dos batistas é uma das raízes de intolerância religiosa, visto que a produção teológica se deu basicamente em cima de truculências com outras denominações históricas e contra o catolicismo. A postura que foi assumida de serem os únicos intérpretes do texto sagrado e a prerrogativa da verdade tem dificultado ao nosso povo ver em outros grupos cristãos a irmandade.

Outra base da intolerância é o landmarquismo, movimento surgido nos Estados Unidos e popularizado por James Robinson Graves e J. M. Carroll com seu livro O Rastro de Sangue em que ele ensina a sucessão apostólica dos batistas. De acordo com os landmarquistas a única igreja neotestamentária de fato era a igreja batista, enquanto que as outras eram consideradas sociedades religiosas e seus líderes-ministros destituídos de qualquer autoridade espiritual. No Brasil o landmarquismo se cristalizou também, não de forma autêntica como nos Estados Unidos, mas perceptível. É dessa concepção a ceia restrita entre os batistas brasileiros, alvo de inúteis discussões; a supremacia e centralidade da Igreja Local, embora herança louvável; a reivindicação de alguns de que os batistas são, até mesmo, anteriores a Jesus, lá com João Batista, por isso é a igreja mais bíblica de todas. Essa pretensão colheu problemas e o impedimento para um diálogo ecumênico, uma vez que a identidade denominacional é baseada em disputas e não mais em princípios, aqueles que foram balizados no século XVII.

Outro pilar dessa intolerância religiosa é o anticatolicismo. Como nos Estados Unidos a luta era entre protestantismo versus protestantismo, daí o landmarquismo batista, no Brasil o inimigo foi somente um: os católicos. Os missionários norte-americanos, imbuídos pelos ideais do liberalismo, viram no catolicismo o atraso do país, o impedimento à democracia e a impossibilidade da separação igreja-estado. Daí o sentimento de messianismo que norteou a conduta missionária e a teologia nascente. Não estou colocando em demérito as conquistas ideológicas do protestantismo de missão, que teve muitos méritos na república que viria nascer, estou apenas constatando que o espírito do anticatolicismo petrificou no protestantismo, em particular nos batistas, ao ponto dos católicos serem odiados. A intolerância se mostrou nos periódicos da denominação, nos púlpitos e na literatura teológica de tendência apologética. Com isso cresceu a ótica de não considerar o catolicismo cristianismo. Isso é patente nas campanhas missionárias que tem como slogan “a pátria para Cristo”, desconsiderando a tradição cultural-religiosa do povo brasileiro e as constantes mudanças do catolicismo e seu trabalho político-espiritual realizado. Com isso não esta se negando a necessidade de levar às pessoas a mensagem de fé que os batistas professam e a espiritualidade que vivenciam, mas dentro da democratização religiosa que é salutar. Agora colocar os batistas como paladinos da verdadeira fé e negar a competência espiritual de outros segmentos religiosos é uma barreira para entender a pós-modernidade que clama por diálogo em todas as esferas, principalmente religiosa. Os batistas possuem bases para uma tolerância e convergência cristã porque preconizam a liberdade de consciência e a liberdade religiosa como princípios inegociáveis. Não há mais espaço para paradoxos.

Pr. Alonso Gonçalves

10.9.08

"O BRASIL TEM SEDE DE DEUS"

Este é o tema da campanha de missões nacionais deste ano. O tema renasce em cima de velhos postulados: “milhões de pessoas estão em trevas”. Mais uma vez a velha e conhecida dicotomia da cristandade brasileira, protestantismo-catolicismo, é colocada como base de evangelização. Isso não é por acaso, é claro. O protestantismo de missão (presbiterianos, metodistas e batistas, para citar alguns) veio para este país a fim de resolver um problema, o catolicismo. O objetivo era converter católicos. Reconheço a dificuldade que muitos missionários batistas passaram para levar adiante a sua missão missionária de apresentar outro caminho para um povo que tinha no catolicismo a religião oficial. Mas o resultado desta dicotomia religiosa fez com que o catolicismo fosse visto como um inimigo a ser vencido, a qualquer custo. Junto a isso o discurso exclusivista do protestantismo e a postura apologética de possuir nada mais que a verdade pura e santa. A identidade protestante, e a base missiológica, emergem da oposição aos católicos.

O conflito metafísico de trevas e luz, salvação e perdição, verdade e falsidade, alimentaram e continua alimentando o discurso anticatólico. Anos atrás diversos autores que saíram da Igreja Católica, ou que tiveram alguma relação com ela, eram tratados como protagonistas em nossa denominação. O último, Aníbal Pereira dos Reis, que até mesmo lançou uma editora para divulgar seus textos, fez muito sucesso com sua mensagem anti-Roma, mas no final de sua vida perdeu fôlego. Agora esta velha temática surge na campanha de missões nacionais da Junta de Missões Nacionais da CBB. Na revista da campanha, lá pela página 21, o missionário julga surpreso com a cidade de Cachoeira Paulista/SP que tem 27 mil habitantes e abriga um templo católico para 110 mil pessoas, um dos maiores da América Latina. Isso é um sinal de que os batistas não estão fazendo missões. E toda aquela gente está em trevas, esperando a água viva que nossos missionários têm. Não importa o que eles estão fazendo com os jovens, tirando-os das drogas e cuidando de gente com obras sociais, dando atenção aos casais, levando cada vez mais jovens e adolescentes a ter um compromisso com Jesus Cristo. Eles estão em trevas.

A relação com os católicos sempre foi uma dificuldade entre nós: eles não são considerados cristãos. Recentemente uma cantora batista cedeu uma de suas músicas a um padre e foi duramente criticada por isso. Em nossas igrejas chamar os católicos de “irmãos” é pecado. Até mesmo eu, um pastor batista, escrever isso posso ser considerado um herege subversivo e adepto do ecumenismo. Os nossos princípios defendidos com sangue por muitos batistas no passado não conta. Os batistas ingleses marcaram sua época pela defesa da liberdade religiosa e espírito modernista, e não é por acaso que são as mentes mais ecumênicas dos batistas. Mas nós não recebemos missionários da Inglaterra, mas sim dos Estados Unidos. Lá surge o fundamentalismo teológico e sua importação para seminários e livrarias daqui. O diálogo ecumênico não é possível. Aliás, é inadmissível cogitar abrir conversas com “eles”. Líderes denominacionais expressam terminantemente contra o diálogo, mas eles não são a voz de todos, graças a Deus, e nem a Declaração Doutrinária da CBB é algo normativo, mas indicativo, embora alguns a consideram o Magistério da denominação, e até mesmo ela no item Igreja coloca a questão assim: “o relacionamento com outras entidades, quer sejam de natureza eclesiástica ou outra, não deve envolver a violação da consciência ou o comprometimento da lealdade a Cristo e sua Palavra”.

Confesso que apreciei mais o tema da campanha de missões nacionais do ano passado: Celebrando a Jesus Proclamando Vida. Falar da vida, do amor, da bondade, do perdão, de Jesus é sempre melhor. Apresentar outro caminho para se relacionar com Deus por meio de Jesus é sempre bom. Dentro da democratização religiosa é sempre salutar levar outra forma de experimentar a espiritualidade. Agora reivindicar uma postura de donos da verdade e salvos eternamente amém e não considerar outras vias religiosas como manifestação humana ao Transcendente é desconsiderar as bandeiras levantadas pelos batistas no decorrer de sua história de liberdade religiosa e consciência: “que haja, pois, heréticos, turcos ou judeus ou outros mais”, dizia Thomas Helwys. Ainda bem que sou livre para divergir (Robert Torbert).

Pr. Alonso Gonçalves

6.9.08

"ESTE" BRASIL, NUNCA MAIS

O nosso passado não é tão lindo. O Brasil surgiu de um empreendimento colonial que tinha como objetivo tão somente explorar as riquezas do país. Primeiro o pau-brasil, o açúcar, o café e depois o ouro. Um processo exploratório que apenas se serviu da terra. Para alcançar os objetivos de produção, mataram índios e escravizaram negros. Os portugueses não vieram acompanhados de suas famílias, pois não tinham a intenção de fixar-se na terra. Daí as uniões ilícitas e o mestiçado de nossa gente: o branco, o índio e o negro.

A nossa independência (07.09.1822), que completa este ano 186 anos, foi mais uma independência econômica do que política e não teve a participação popular em nenhum momento. Nossa república ocorreu entre as elites da época, liderada por um militar (Deodoro da Fonseca) que não sabia se era monarquista ou republicano, mais uma vez a participação popular foi nula.

De lá para cá a política brasileira é comparada com uma gangorra, com seus altos e baixos: democracia ou ditadura, quando conveniente.

A história política brasileira conheceu o voto secreto em 1932 com Getúlio Vargas criando a Justiça Eleitoral. Foi bom? Sim foi. Com isso acabaram os desmandos dos coronéis no interior do país. Mas o criador se volta contra a criatura. Vargas influenciado pelo Totalitarismo europeu destitui a Justiça Eleitoral (1937 a 1945) e se firma no poder como um ditador populista, coisa típica da América Latina.

O golpe mesmo veio com o Golpe de 1964. Extinção de partidos, cassação de políticos, suspensão das eleições livres. Os anos de 1964 a 1985 o povo deste país não tiveram oportunidade de expressar a sua vontade nas urnas: quase trinta anos sem eleições diretas, sem o direito de exercer a cidadania.

A redemocratização veio com muito custo. Um Congresso Nacional que não aprova o clamor popular pelas “Diretas Já” com um Paulo Maluf querendo ser eleito presidente pelo Colégio Eleitoral, um Tancredo morrendo nas vésperas da sua posse e um Sarney assumindo com a responsabilidade de conduzir um país mergulhado em uma dívida impagável. O ano de 1989 chegou e com ele as “Diretas Já” que foram garantidas pela Constituição de 1988. Vinte e dois candidatos concorrendo à presidência da República. Era novamente o direito de exercer a cidadania, votando, se fazendo representar nas diversas esferas do poder: legislativo e executivo. No Brasil de D. Pedro I com sua primeira Constituição (1824) mulheres, escravos e pobres não votavam. No Brasil cantado por Geraldo Vandré – vem, vamos embora que esperar não é saber quem sabe faz a hora, não espera acontecer – o direito de ser cidadão foi estabelecido ao custo de muitas vidas no exílio político, dos corpos não encontrados, dos assassinatos nunca esclarecidos, dos porões de tortura e medo. Eles não esperaram acontecer, fizeram. Não queriam este Brasil nunca mais, lembrando as palavras de Dom Paulo Evaristo Arns e seu livro Brasil: nunca mais – um relato para a história.

Em um país com cerca de 8,5 milhões de km² e uma extensa costa litorânea, de belas praias, de belos cartões postais, de belas cidades, mas de um povo que demonstra que não conhece seu passado ou não se lembra dele. É um povo que sofre de amnésia cívica. Não tem consciência de quanto custou a muitos brasileiros o direito ao voto. Ainda há muitos que o vendem por nada, outros o usam como barganha para conseguir outra coisa e não o fortalecimento da democracia. E não é por outro motivo que temos políticos corruptos que solapam o patrimônio público e desonram a dignidade brasileira.

Há tanto por fazer em um país que ainda detém um percentual considerável de analfabetos; um país que possui mais bares que bibliotecas; um país onde a novela, o futebol e o carnaval funcionam como analgésico popular. A transformação se faz pela conscientização cívica de sermos cidadãos e construtores de uma sociedade mais justa e igualitária. Isso só é possível por meio do voto, a voz das urnas.

“Aqueles que não aprendem com sua história arriscam a repeti-la”.

Pr. Alonso Gonçalves
Iporanga/SP

1.9.08

CORAÇÃO DE PASTOR

Homenagem ao Pr. Natanael Gabriel da Silva pela posse na Igreja Batista Central em Sorocaba, 23.08.2008.

Quem é pastor não consegue ficar longe de gente, de igreja. É algo inseparável: igreja-pastor.

Em algum momento da vida decidiu por uma vocação que não veio por meio dos cursos de bacharel, pós-graduação, mestrado e doutorado. Ela surgiu de uma experiência viva com Deus; um sentimento que invade a alma e impulsiona para ir além e servir aos propósitos do Reino de Deus cuidando de pessoas.

A vocação para ser pastor acontece em um momento que nem mesmo dimensionamos o que seja propriamente, apenas vivenciamos aquilo e acreditamos que é o correto a fazer. Não tem explicação; não tem teorias; não tem tratados teológicos; apenas tem sentimento e desejo de ser chamado por alguém que procura gente como a gente para cuidar de gente. É mais pathos que logos. Schleiermacher tinha razão: a essência dessas coisas não esta num como fazer ou num como pensar, mas no simplesmente sentir. Este sentir não tem um porquê, apenas é. Os profetas do Antigo Testamento experimentaram este sentir, relutando em não aceitar, um alegou que não sabia falar (Moisés) outro colocou a incapacidade na juventude (Jeremias), mas ambos foram compelidos por Deus para aceitar cuidar de gente.

Ser pastor é se entregar, doar-se. É se lançar para algo inesperado, que não se pode controlar e planejar. É estar aberto para sentimentos contraditórios. É agir como o profeta Jeremias (20,7) muitas vezes: “fui enganado? Era para ser assim?” Briga, fica zangado com Deus, mas também o ama, o louva e o adora. Quem vai entender? Pode querer largar tudo e seguir outro rumo, mas a chama que consome seu coração não o deixa pensar em outra coisa senão ser pastor (Jr 20,9). O estar com as pessoas, falar e ouvir, ensinar e ser ensinado enche o pastor de regozijo.

Pastor tem problema de coração. Ele não propriamente escolheu, mas é pastor. Corre um sério risco de ficar solitário mesmo cercado de pessoas, mas é pastor; pode viver a alegria de um casamento e a tristeza de um culto fúnebre em minutos, por isso ele é pastor; acordar de madrugada para atender ao telefone e do outro lado esta alguém chorando e desesperado pedindo socorro, quando não chega à sua porta, isso o torna pastor. Ele é pastor, se pensar bem até não queria ser, mas é. E tem um orgulho danado de ser e se pudesse não seria outra coisa senão pastor.

Coração de pastor é muito grande. Sempre cabe mais um para dar carinho, atenção, chamar atenção. É coração de mãe e pai, como diria Paulo (1Ts 2,7-12). Coração de pastor é assim: consola; exorta; alegra-se com as conquistas; chora com as derrotas que a vida reserva; ri das bobagens faladas na roda de amigos/ovelhas; dá uma palavra de conforto e otimismo; ora junto; lê a Bíblia junto; come junto; vive junto.

O Pr. Natanael tem um coração de pastor. É alguém que prefere servir a ser servido, amar a ser amado, dar a receber, perdoar a ser perdoado. É alguém que valoriza mais as pessoas que os programas e estratégias; é alguém que olha mais para o ser humano do que para as regras. É um pastor que só pode ter problema de coração, porque ama muito, muito mesmo.

“Amar sempre significa ser vulnerável. Ame algo, e seu coração com certeza se contorcerá e se quebrantará” C. S. Lewis.

Parabéns pelo seu novo ministério,

Pr. Alonso Gonçalves, Igreja Batista Memorial em Iporanga/SP