29.10.14

COMPAIXÃO SOCIAL

Compaixão é a capacidade de sentir a dor do outro. Tod@s os seres humanos tem essa capacidade, pois ela não se dá apenas a partir de valores éticos, mas no processo de cognição humana. É possível ignorar a dor do outro, mas não é possível anular o sentimento de que foi de alguma maneira, tocado com a dor do outro.

Assim como somos capazes de sentir compaixão pelo outro, deveríamos ser capazes de sentir compaixão social.

Em relação à compaixão interpessoal, somos despertados quando vemos noticiário onde há, por exemplo, crianças envolvidas. Sentimos compaixão quando sabemos que alguém foi assaltado e levaram o carro da família. Já a compaixão social não é tão mensurável assim.

Há uma concepção de que não é preciso ter compaixão com quem não tem emprego ou não pode fazer no mínimo três refeições ao dia. Há uma dificuldade em atender as necessidades básicas de uma família onde a miséria faz parte do seu cotidiano.

Por que somos capazes de nutrir compaixão na relação pessoal e, ao mesmo tempo, nem tod@s, é claro, serem insensíveis às necessidades do outro quando o plano da discussão se dá no econômico?

Para Jung Mo Sung – pesquisador que tive a oportunidade de ser aluno –, há pensadores que assumem a defesa do livre mercado propondo uma postura ativa para desenvolver a insensibilidade social frente aos sofrimentos dos menos competitivos, dos os pobres e excluídos do mercado, como um fator necessário para a modernização e o progresso econômico.

A lógica por trás dessa insensibilidade social é simples. O economista, ganhador do Prêmio Nobel em Economia em 1974, Friedrich Hayer, considerado um proeminente articulador do neoliberalismo, entendia as coisas assim: tendo como pressuposto a complexidade do mercado, não é possível conhece-lo perfeitamente. Assim, qualquer tentativa em solucionar problemas sociais é uma intervenção na economia. Como o mercado não pode ser conhecido de modo suficiente, essa intervenção prejudica o mercado que precisa ser livre. Quando o mercado está ineficiente, gera crise econômica e crise econômica, consequentemente, gera crises sociais e mais problemas para os mais pobres. Dessa forma, a causa do aumento da pobreza e dos problemas sociais seria a tentativa de solucionar conscientemente os problemas sociais. O mais sensato é não procurar intervir com Programas Sociais.

Uma vez o mercado tendo uma “mão invisível”, qualquer iniciativa em amenizar ou encurtar a pobreza através do Estado, é prejudicial ao sistema de livre mercado. A sensibilidade social, segundo os neoliberais, que funciona não é aquela que é resultado de planos e ações organizados pela sociedade e o Estado, mas sim aquela produzida pela dinâmica do mercado.

Dentro de um contexto de eleições, foi possível ver a polaridade de dois discursos. Não por parte dos candidatos à Presidência, pelo menos de maneira explícita, mas por parte do eleitorado de segmento e condição socioeconômica distinta.
De um lado um eleitorado sustentando um discurso neoliberal, onde os recursos do Estado não poderia, necessariamente, serem direcionados para Programas Sociais, uma vez que tais programas acomodam pessoas e a atividade econômica não é satisfatória. Quem assim articula, pensa que o Estado está fazendo mais mal do que bem providenciando recursos para os mais pobres. Frases como “é preciso ensinar a pescar e não dá o peixe” são as mais usadas. O eleitorado do Sul e do Sudeste do país advoga, na sua maioria, essa concepção.

Por outro lado, houve um eleitorado que continua contrariando as ideias neoliberais de Hayer. Para esses não é possível deixar que o livre mercado dê conta de famílias que estão empobrecidas. É preciso desenvolver a compaixão social. Enquanto isso, o sistema econômico vigente continua produzindo suas vítimas que são sacrificadas em nome do livre mercado. É preciso ter compaixão social, sentir a dor do outro. Se deixar por conta do sistema econômico com o seu livre mercado, não apenas a mão será invisível (expressão de Adam Smith), como o ser humano também continuará invisível em suas necessidades. Não por acaso que os Programas Sociais vêm sendo intensificados no país. Programa como o Bolsa Família, por exemplo, em dez anos contribuiu para que 12 % dos beneficiários deixassem o programa após renda melhorar, ou seja, com o aumento da renda, quase 1,7 milhão de famílias abriram mão do benefício em uma década (Confira!).