Na
América Latina quem aprofundou a reflexão em torno do seguimento foi, indubitavelmente, Jon Sobrino.
De
alguma maneira Sobrino trata do seguimento
e coloca a cristologia latino-americana
no cenário teológico com maestria.
Sua
cristologia tem, pelo menos, três
elementos básicos: (1) compreender quem é Jesus, (2) mostrar o caminho de Jesus
e (3) ajudar as pessoas a seguirem a causa de Jesus.
A
hermenêutica sobriniana contempla alguns eixos que, para a teologia latino-americana da libertação, significou um
aprofundamento na pessoa, mensagem e práxis
de Jesus. A obra sobriniana ecoa a cristologia
moltmanniana. Um primeiro eixo é a hermenêutica quanto ao Jesus histórico.
A
preocupação de Sobrino é com o Jesus histórico e o que isso significa para o seguimento. Ele se apropria da
diversidade exegética em torno do debate e faz desse tema uns dos principais
eixos hermenêuticos de sua cristologia
para a América Latina. Para ele “a pergunta pelo Jesus histórico não é uma
questão do passado, mas pertence à essência do cristianismo”. Para o teólogo
salvadorenho, fazer o caminho da busca pelo rosto de Jesus, suas pretensões,
gestos, palavras, significa também assumir certos compromissos como cristãos. É
imprescindível se remeter ao Jesus histórico, porque somente assim será
possível fazer uma leitura abrangente da figura de Cristo. O que deve ficar
claro, na concepção de Sobrino sobre o Jesus histórico, é que, diferente de
outras leituras sobre o tema, principalmente a europeia, que focou as vidas de Jesus, na América Latina não
está em discussão à questão biográfica,
mas sim “a totalidade da história de Jesus, e a finalidade de [se] começar com
o Jesus histórico é que se prossiga a sua história na atualidade”. Sendo assim,
para Sobrino, o conceito histórico, não abrange a sua cientificidade como
na teologia europeia, mas sim a
atividade de Jesus. Completa ele: “por Jesus histórico entendemos a vida de
Jesus de Nazaré, suas palavras e atos, sua atividade e sua práxis, suas
atitudes e seu espírito, seu destino de cruz [e ressurreição]”.
Sobrino
tem no reino de Deus a principal
mensagem de Jesus. Na cristologia sobriniana, o reino de Deus é central na vida, gestos e mensagem de Jesus. O reino de Deus proclamado por Jesus é a
mensagem de esperança as pessoas, principalmente aos marginalizados. O reino de Deus ganhou tal envergadura na
vida de Jesus que o levou à morte. O reino
de Deus se dá na construção social, principalmente no desmantelamento do
anti-reino, marcado pela injustiça e opressão que assola o povo,
transformando-os em vítimas.
O
seguimento é a relação que os
discípulos têm com Jesus. Essa relação começa quando Jesus chama seus
discípulos para segui-lo. A intenção é que eles reproduzam os seus passos,
participando, especificamente, do seu projeto, o reino de Deus. O seguimento,
portanto, é assumir os passos de Jesus ao ponto de compartilhar, até mesmo, o
seu destino, a morte, como foi, por exemplo, o martírio de Dom Oscar Romero. O seguimento para Sobrino não tem a
pretensão de imitação. Para ele isso é impossível por questões históricas. O seguimento é a disponibilidade para
reproduzir, em outros contextos históricos, o movimento fundamental das ações
de Jesus.
Seguimento é a principal identidade cristã, pois o seguidor
deve reproduzir a estrutura fundamental da vida de Jesus e ao mesmo tempo
tornar possíveis as ações dele de acordo com as exigências do contexto em que
se vive.