10.8.10

BATISTAS NA POLÍTICA

As relações do protestantismo com a política sempre foi ambígua. Lutero, por exemplo, não queria uma separação Igreja-Estado; Calvino foi prefeito de Genebra e governou a cidade com mãos de ferro, para ele a cidade seria uma aristocracia dos eleitos de Deus (Rubem Alves). Apenas um ramo do protestantismo, o inglês naturalmente e entre eles os batistas, sempre pontuou a separação Igreja-Estado.

Notadamente, os batistas têm na separação Igreja-Estado um dos seus principais princípios. Ocorre que a defesa da separação Igreja-Estado nunca significou omissão e desinteresse pela política. No Brasil os principais fatores que levaram os protestantes a se omitir na vida política do país foi(e é) uma teologia fatalista como o pré-milenismo. Pregou-se muito sobre o lar no céu, cantou-se muitos hinos sobre o futuro no Paraíso causando um completo desinteresse no aqui e agora, na vida cotidiana e suas mazelas. Juntamente com o pré-milenismo há o fundamentalismo bíblico que só se preocupou em interpretar a doutrina e enclausurar a igreja dentro dela mesma! A Igreja se esqueceu de que todo ato humano é ato político e desassociou o discurso bíblico da realidade política e social do país. A Igreja quando precisou se manifestar se calou, foi conivente e até mesmo entregou teólogos, porque tinha um discurso “subversivo” demais para a Igreja, ao regime militar que tanto humilhou, torturou e matou quem era contrário a Ditadura Militar.

Com a Teologia da Libertação e seu engajamento político, houve críticas, e logo muitos protestantes se posicionaram contra esta teologia por ver uma ligação muito forte com o marxismo. Mais uma vez, portanto, fica de fora de uma efetiva participação política no país.

Muito se ouve sobre a Igreja Católica e sua estreita relação com o Estado. É verdade! A própria Igreja Católica é um Estado. Mas nem por isso eles deixam de atuar politicamente no país. Recentemente o Congresso Nacional aprovou o Projeto da Ficha Limpa, iniciativa da CNBB que arrecadou mais de um milhão de assinaturas para o projeto entrar em discussão na Câmara dos Deputados e ser aprovado, impedindo assim diversos candidatos com processos, até mesmo criminais, se candidatarem. A Igreja Católica não apóia candidato X ou Y! Enquanto isso pentecostais e neopentecostais apóiam abertamente candidatos, fazem reuniões com candidatos para fechar número de votos! Eles detêm uma ideologia sobre o grupo que os qualifica dizer quem deve votar em quem! Quando surgem os escândalos como os “Sanguessugas” e dinheiro em cuecas, ou deputados estaduais orando “agradecendo a Deus” a propina recebida, colocam todos no mesmo pacote.

Estou acompanhando candidatos batistas. É salutar a iniciativa, até porque algum tempo atrás se ouvia muito nas igrejas: “crente não se mete em política”. Enquanto este discurso predominou, muitos entraram nas esferas do poder e não representaram de fato o povo, pelo contrário, buscaram o seu interesse em primeiro lugar, isso não é nenhuma novidade.

É legítimo pleitear uma vaga quer a nível municipal, estadual ou federal. Uma das coisas que gosto na Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira é o item ORDEM SOCIAL que diz: “Como sal da terra e luz do mundo, o cristão tem o dever de participar em todo o esforço que tende ao bem comum da sociedade em que vive”. Uma dessas formas de buscar o bem comum da sociedade é ver a política como ferramenta, aliás, ela é a única ferramenta de transformação numa sociedade democrática que tem no sistema de governo republicano a eleição de representantes. Portanto, nada mais natural, do que servir a população com um mandato sério e competente.

O que se espera de candidatos, batistas naturalmente, é que façam valer o voto não para defender interesses corporativos, muito menos com um discurso de que “tem que ter gente nossa lá”. Temos que ter candidatos com diferencial, não nos moldes dos pentecostais ou neopentecostais que movem céus e terras para eleger gente que irá defender os interesses da igreja X ou Y. O candidato batista precisa ter em mente que o seu mandato irá contribuir para o avanço dos valores do Reino de Deus na sociedade e a sua governabilidade é para todos e nunca, em hipótese nenhuma, para batistas, mas para uma sociedade que está cansada de mentiras e promessas fraudulentas. Somente assim é possível justificar apoio, do contrário será mais um tentando usar da política como trampolim para o poder, para o foro privilegiado, para os benefícios enormes que a classe política desse país usufrui.

4.8.10

PASTORES EXECUTIVOS

Estou cada vez mais impressionado com o vocabulário empresarial nas igrejas. Até mesmo a CBESP anualmente promove encontros com especialistas em administração, gestão de negócios. Conversando com um amigo ele me dizia que hoje os pastores deveriam fazer um curso de gestão, de como administrar bem uma igreja, como uma empresa mesmo (palavras dele), em que todos os departamentos apresentassem seus avanços e a igreja trabalhasse o seu produto (entendi que seria o “evangelho”). Outro dia conversando com um colega ele perguntou: “e aí já batizou quantos esse ano?” Minha resposta foi que este ano ainda nenhum, ele arrematou: “xiiii tá fraca a produção”. Este tipo de conceitos está cada vez mais invadindo as igrejas que trabalham com estratégias, conhecendo seu público-alvo, metas e programas.

Congressos, palestras, livros, gurus “evangélicos” e tantas outras coisas estão aparecendo por aí com uma ideia fixa, fazer a igreja crescer a partir das diretrizes empresariais. O pastor, mero administrador, executivo mesmo. Alguém que trabalha com gestão de negócios e não com pessoas; alguém ávido por resultados; alguém que fixa metas para serem alcançadas a médio e longo prazo, como se o Espírito Santo fosse mais um funcionário dessa empresa!

Estamos sendo engolidos cada vez mais pela mentalidade mercadológica. Por esses dias fiquei sabendo que há igrejas que requisitam currículo para pastores candidatos a sucessão ministerial, e outras que até mesmo colocam no mural os currículos dos pretendentes à vaga!

A concorrência é desleal. Hoje é possível ver no mesmo quarteirão de um bairro diversas igrejas, uma concorrendo com a outra por membros, ou melhor, clientes. Aquele que apresenta um diferencial no produto final leva vantagem sobre os outros.

É incrível como nas livrarias tidas como evangélicas encontra-se mais livros de liderança nos moldes empresarial do que temas como justiça social, política brasileira etc. Há uma verdadeira invasão de títulos estrangeiros sobre o assunto, cada um dando sua receita milagrosa.

Os pastores executivos frequentam congressos empresariais; estão ouvindo líderes do mercado sobre crescimento de empresa. O foco deixou de ser as pessoas e passou a ser a instituição que por um acaso ainda se chama igreja. Eugene Peterson faz um alerta em um de seus livros: “os pastores se transformaram em um grupo de gerentes de lojas, sendo que os estabelecimentos comerciais que dirigem são as igrejas. As preocupações são as mesmas dos gerentes: como manter os clientes felizes, como atraí-los para que não corram para a loja concorrente, como embalar os produtos de forma que os consumidores gastem mais dinheiro com eles”.

Quando um amigo sugeriu que as faculdades ou seminários teológicos deveriam ter matérias de gestão de negócios, disse a ele que igreja não é empresa; o Espírito Santo não é um funcionário; Jesus Cristo não é empreendedor, embora alguns o considerem como um.

O vocabulário na igreja dever ser substituído: em vez de produção, transformação; em vez de gerência de departamentos, dons espirituais; vez de executivo, pastor.