21.7.10

FIM DE TARDE... UM DIÁLOGO

Nesta semana fui brindado com um encontro. Fim de tarde, na calçada de uma rua lá estávamos a conversar. Encontro de duas formas de ver o Cristianismo, de entender teologia, de praticar o sacerdócio, de vivenciar a liturgia. Um diálogo fraterno, respeitoso e inteligente. Conversava com o Pe. Jaime. Veio do Norte do país, Pará. Seu sotaque não nega suas origens. Estudou teologia e filosofia. Durante os quase trinta minutos falamos sobre quase todos os assuntos que envolvem o Cristianismo hoje, quer católico ou protestante. O diálogo girou em torno das formas de ser da Igreja hoje; dos jovens e sua dificuldade em se inserir nas atividades da Igreja; das barreiras que criamos para nos dividir e separar cada vez mais; da necessidade de diálogo para um bem comum.

Algum tempo atrás este tipo de conversa seria impossível. Aliás, para muitos ainda é. Não se pode conversar com católico, são “adoradores” de imagem. A tradição protestante sempre viu no católico alvo de salvação. Quando estabelecidos no Brasil, os protestantes de missão (presbiterianos, metodistas, batistas) viram no catolicismo o atraso do país e a barreira para um Estado laico onde a separação Igreja- Estado fosse de fato possível. É claro que a história da Igreja no Brasil conta com inúmeras investidas da Igreja Católica para silenciar, dificultar a inserção protestante por aqui. Houve sim perseguição. Não poderia ser diferente! A Igreja Católica era a religião oficial do Império; a matriz religiosa do país tem no catolicismo seu modo de ser; a cultura religiosa brasileira passa pelo catolicismo.

Minha conversa com o Pe. Jaime mostra o quanto é possível um diálogo fraterno e respeitoso em que se coloca o ponto de vista de um determinado assunto. Em tempos de pluralismo religioso, é imprescindível o diálogo. Ele será possível quando perdemos aquele sentimento de predomínio sobre os outros, de achar que somos mais corretos, mais santos, donos da verdade absoluta. É claro que as divergências quanto à fé haverá! Há pontos no catolicismo que são impossíveis de aceitar, como por exemplo, a infalibilidade do papa, a assunção de Maria dentre outras coisas. Acontece que o fundamentalismo nos ensinou durante anos de que nós (protestantes) estamos sempre com a razão! Isso nos imobilizou quanto ao diálogo; tornou-nos turrões; incapazes de ver a graça de Deus em outras manifestações religiosas. Ocorre que o fundamentalismo está perdendo terreno e uma nova mentalidade está surgindo. Uma mentalidade de que é possível ver convergência na divergência; uma mentalidade que tem como base a espiritualidade de Jesus que nutriu comunhão com os espoliados da sua sociedade; sentou-se a mesa com pecadores, com aqueles que ninguém gostaria de conversar, principalmente os fariseus, donos da verdade e do juízo!

Não é mais possível um apartheid religioso. É preciso ter, acima de tudo, o amor para com o próximo, pois somente ele pode nos libertar de preconceitos e incoerências com o Evangelho.

5.7.10

ELEIÇÕES 2010: OS BASTIDORES DO PODER

É o mesmo filme outra vez: política e religião uma combinação perfeita. Estamos nos aproximando das eleições presidenciais e já começou uma verdadeira luta pelo poder, pela hegemonia da ideologia que predomina no país. De um lado a candidata do governo Lula, que, aliás, será a primeira eleição que não disputará depois da redemocratização do país. Do outro lado está o candidato da “oposição”. Com o lema o Brasil pode mais não convenceu a maioria, se pode mais por que não continuar com o mesmo? Resta a terceira opção, Marina Silva. Nem mesmo aparece nas pesquisas. O fato mesmo é a presença de igrejas querendo mais uma vez participar do poder, quer diretamente ou indiretamente.

A candidata Dilma Roussef (PT) tem sido a preferência das igrejas pentecostais e neopentecostais. Acontece que Dilma vai de acordo com o vento. No Programa Roda Viva, da TV Cultura, defendeu o casamento homossexual: "Sou a favor da união civil. Acho que a questão do casamento é religiosa. Eu, como indivíduo, jamais me posicionaria sobre o que uma religião deve ou não fazer. Temos que respeitar”. A candidata não se pode dar o desfrute de perder alguns votos entre os homossexuais.

Sociólogos como Paul Freston e Ricardo Mariano pesquisam o apadriamento e o clientelismo dos pentecostais e neopentecostais com a política brasileira. Essas igrejas têm um sucesso eleitoral considerável. Ao lado da Assembleia de Deus a Universal e a Internacional contam com deputados e distribuem apoio a diversos políticos. Agora é a vez da Mundial seguir a mesma cartilha da sua igreja mãe (Universal), buscar um lugar ao sol com o discurso de que tem que ter gente “deles” para defender os interesses corporativos da igreja, apenas isso. As igrejas Assembleia de Deus, Universal e Internacional estão juntas a favor de Dilma. O apoio declarado da Assembleia de Deus tem encontrado resistência dentro da denominação de muitos fiéis, mas isso não é um problema.

Dilma está correta quando defende o casamento homossexual, afinal de contas ela não tem nenhum compromisso com os valores cristãos; ela está correta em aceita subir no púlpito da Assembleia de Deus e dizer que preza pelos valores cristãos, afinal de contas deram a ela esta oportunidade; está correta também em tomar um banho de axé com os pais de santo na Bahia; não há problema nenhum em participar da romaria do Círio de Nazaré. O Estado não tem religião e uma candidata precisa participar de todas as dimensões culturais e religiosas do país. Correto mesmo é uma igreja sabendo das suas propostas e mesmo assim dar apoio irrestrito.

O fato é que não importa muito se Dilma é contra ou a favor do casamento homossexual; se vai ou não em reuniões do Candomblé ou no Círio de Nazaré. O fato é o velho clientelismo com os políticos e o voto de cabresto dessas igrejas com o mesmo discurso messiânico de sempre. A intenção é clara, não é o compromisso com o país e seu desenvolvimento social; não é com os desmandos de políticos corruptos; não é com a fiscalização imparcial de políticas públicas. A intenção sempre foi em participar dos bastidores do poder e ter futuros benefícios como concessão de TV e rádio. O mais interessante nisso é o caso de Marina Silva, que não tem apoio nem mesmo de sua denominação, e já rachou o PV por não concordar com as propostas dos homossexuais e se recusar a tirar fotos com a bandeira do movimento LGBT.

Não é em defesa de Marina ou contra Dilma que este pequeno texto foi escrito. A questão é o conluio de igrejas com candidatos; a questão é que tais igrejas perdem a oportunidade de serem respeitadas pelas motivações corretas.