2.6.13

UMA EBD PARA ALÉM DO DOMINGO

Encontro de Capacitação e Comunhão – AIBAVAR – Igreja Batista em Iguape, 01 de Junho de 2013

Introdução
A Reforma Protestante colocou na Bíblia a responsabilidade de dirigir a vida da igreja e das pessoas. Sendo ela importante para a comunidade de fé, era preciso ler a Bíblia, mas para ler era preciso ser alfabetizado. Ocorre que na Europa de então, século 16 e 17, boa parte da população era analfabeta. Diante disso, a ênfase dos reformadores, principalmente Lutero e Calvino, se deu na educação formal. Calvino, por exemplo, fundou, em 1559, a Universidade de Genebra, Suíça.

Pensando sobre a Escola Bíblica Dominical (EBD), é preciso entender de onde ela surgiu e por que, para que, depois, pudéssemos sugerir algumas propostas para uma EBD que vá além dos domingos de manhã.

Por que temos uma EBD? Aspectos históricos
Há princípio a EBD começa com Robert Raikes, um inglês redator e produtor do Gloucester Journal. Incomodado com a situação de delinquência infantil que assolava a Inglaterra, sobretudo sua vizinhança, decidiu em 1780 sair às ruas e convidar crianças pobres para que aos domingos fosse à sua casa aprender aritmética, princípios morais e cívicos, gramática e leitura utilizando a Bíblia. A origem da EBD, como seria chamada posteriormente, se dá em função dos menos favorecidos, sobretudo crianças pobres e iletradas, e que a utilização da Bíblia no ensino se deu não com o intuito de ensinar a Bíblia em seu caráter doutrinário ou como um fim em si mesmo. Ao contrário, a EBD de Raikes fazia do ensino através da Bíblia um meio de libertação da condição indigna, de fortalecimento da cidadania e da humanização das crianças carentes de Gloucester e consequentemente de toda aquela comunidade.

William Fox, rico diácono batista, negociante por ofício, mesmo desconhecendo o projeto de Raikes, iniciou também em outra parte da Inglaterra o ensino essencialmente bíblico a crianças durante a semana. Juntamente com o apoio de leigos batistas, Fox fundou em 1785 a Sociedade de Escolas Dominicais com o propósito de divulgar a ideia em todo o território inglês.

O movimento repercutiu de tal forma que John Wesley logo adotou a Escola Dominical na igreja que viria a ser a Igreja Metodista, além de a própria rainha da Inglaterra ter convidado Raikes para conhecer e apoiar o desenvolvimento da “nova cruzada”, como ela entendia. Mais tarde as desconfianças foram dissipadas, os resultados positivos surgiram e o governo inglês assumiu a responsabilidade de educar as crianças. A escola pública inglesa, portanto, surgiu da Escola Dominical de Raikes.

Nos EUA ocorreram resistências à nova ideia de ensino, principalmente por ser entendida como profanação ao domingo. Entretanto, a Escola Dominical se instalou em território norte-americano, mais de um século depois da Inglaterra. Em 1891, foi organizada a Junta de Escolas Dominicais dos Batistas do Sul dos EUA que por muitos anos foi a maior agência de divulgação e publicação de literatura religiosa do mundo.

A Escola Dominical brasileira (há disputas quanto a isso) começou em 19 de Agosto de 1855, em Petrópolis (RJ), sob a direção dos missionários escoceses, Pr. Robert Kalley e sua esposa Sara (Igreja Evangélica Fluminense, Rio de Janeiro). Naquele domingo, cinco crianças foram à aula e, com o crescimento das atividades, as classes passaram a ser em português, alemão e inglês.

A EBD que os missionários norte-americanos implantaram no Brasil – diferentemente da Inglaterra, exceção do casal Kalley onde o foco foi às crianças –, se tornou um instrumento de evangelização e doutrinamento. Além disso, o sistema de ensino e organização da EBD copiou o sistema educacional secular norte-americano. Deste modo, a EBD que se configurou aqui teve como marcas: a burocracia, a ênfase no professor e no conteúdo e uma estrutura dividida em cargos e funções (diretor, secretário). Essa EBD apregoou o cálculo como meio para medir a eficiência, daí os relatórios no final da EBD para saber quantas bíblias, quem leu a lição... Isso para medir o número de faltosos e assim poder calcular o “aprendizado” sobre Deus.

A EBD que temos hoje, seu conteúdo é sistematicamente repetitivo; o peso da “aula” recai sobre o professor, que precisa dominar o conteúdo, inclusive ter noções de hebraico, grego e latim; o foco é ensinar doutrinas, como se apenas isso fosse o suficiente para que as pessoas se tornem discípulas e discípulos de Jesus; o “professor” é um mero transmissor de conhecimento; o conteúdo, geralmente, é dissociado da vida cotidiana.

Esse sistema de ensino se assemelha ao que Paulo Freire, educador brasileiro de renome internacional, chamou de educação bancária. Concepção de que os alunos são meramente depositários do “saber” do professor – recebem, memorizam e repetem. Educação bancária se dá nisso: o aluno recebe os depósitos, guarda-os e arquiva. Nesse sistema não há criatividade, transformação.

Propostas pedagógicas

“Ouço, e esqueço; vejo, e guardo na memória; faço, e compreendo” – provérbio chinês.

Uma EBD para além dos domingos de manhã precisa ter um conteúdo contextualizado, ou seja, um conteúdo que leve a sério as novas tecnologias na formulação do discurso; um conteúdo que saiba ler os “sinais dos tempos”, que tenha percepção do que está acontecendo e de como a igreja, comunidade de fé, pode refletir, questionar, sugerir; um conteúdo que enxergue as situações do cotidiano de cada localidade, ou seja, que seja acessível, que fale a língua de quem está ouvindo.

Em uma EBD que não fique apenas nos domingos, o professor seria um facilitador. Ele não teria a primazia no processo de reflexão; não haveria um monólogo, mas sim um diálogo.

E por fim, uma EBD mais humana que olhasse a integralidade do ser humano, ou seja, a sua condição física, biológica, psicológica e social. Não é apenas uma questão doutrinária, mas um conjunto de fatores que fazem parte do ser humano. Uma EBD holística viabiliza temáticas que insira a igreja na sociedade, para que a prática do que foi refletido seja uma possibilidade. Em uma EBD integral a estrutura física será menos importante, as pessoas que serão.

Para que essas propostas seja uma possibilidade, a escolha da literatura é importante. Essa literatura precisa acompanhar esses desafios e se, por algum motivo, ela não consegue contemplar essas iniciativas, deve se buscar outras que assim faça. Isso, somado à didática do amor, será possível pensar uma EBD para além dos domingos de manhã.