9.12.14

A DESORDEM DO NATAL

No Natal comemoramos uma desordem.

Talvez a primeira impressão do leitor seja de espanto e até mesmo de desaprovação.

Tentaremos esclarecer...

Se, como tudo indica, a ordem das coisas está em quem mais tem, mais manda, então temos uma ordem que legitima que alguns mandam e muitos obedecem.

O Natal, nesse sentido, promove uma desordem. Jesus é parte dos muitos que nada tem; que nada manda. Ele nasce entre os que nada têm e tudo devem.

Logo no Magnificat (Lc 1,31-53), Lucas coloca na boca de Maria uma canção subversiva, contestatória, revolucionária. O nascimento de Jesus passa a significar a inversão dos valores, outrora considerados corretos; o nascimento passa a significar a redistribuição dos bens. Para Lucas o nascimento de Jesus é um protesto, da parte de Deus, contra o abuso do necessitado pelo rico; é, ao mesmo tempo, a libertação dos oprimidos e dos fracos.

O “Cântico de Maria”, como também é conhecido, significa a quebra de barreiras e preconceitos contra a mulher e o início da igualdade nas relações de gênero. Ocorre o surgimento de novas relações, não mais baseadas na exploração e no descaso pelo outro, mas na equidade. Se outrora o orgulho, aquele que se considera acima dos outros, detinha o poder, ele é destronado; se outrora os poderosos (ricos) menosprezavam e condenavam o pobre ao descaso, agora ele é esvaziado a partir da sua própria arrogância. Os humildes, aqueles que, no entender de Lucas, não almejam o poder, são exaltados.

Para Lucas, o Natal é desordem. É a contestação da situação de exploração econômica, social e religiosa. O nascimento do menino é um nivelador das relações humanas; é a inversão da ordem; é o desmantelamento de estruturas de poder que oprime e marginaliza pessoas.

Eis a nova ordem. Na cidade de Belém começa a desordem. Lá começa a inversão das coisas.

O Natal é uma provocação. Somos provocad@s a ver a vida de outro jeito; a sonhar outros sonhos. Somos provocad@s a ver o mundo não mais pela lógica do poder que procura preservar uma ordem onde a desumanização é uma das principais características.

Neste Natal olhemos para aquele que nada é. Ele não ousou fazer assistencialismo, mas agiu com solidariedade. O assistencialismo preserva a ordem acentuando a diferença dos que nada têm com os que tudo têm. A solidariedade se dá em se colocar ao lado da outra pessoa e estabelecer a igualdade.

Viva a desordem do Natal.