27.1.20

CARTA DE GOIÂNIA - CONVENÇÃO BATISTA BRASILEIRA

Nota: Esta carta não foi aprovada pela 100a Assembleia da CBB. A mesma não passou, pela maioria dos votos, voltando para ser analisada e modificada, pois seu teor foi considerado de "esquerda". Que se registre na história dos batistas brasileiros essa face obscura, mas não sem tensão. Isso demonstra o "espírito" do ser batista e a força dos seus Princípios. 

A Convenção Batista Brasileira, reunida em sua 100a. Assembleia na cidade de Goiânia/GO, dirige-se a sociedade brasileira num clamor pela paz, diante dos seguintes desafios:

1) JUSTIÇA:
Reconhece com preocupação que o fosso da desigualdade social tem sido ampliado em todo mundo, inclusive no Brasil, fazendo que poucos tenham muito e muitos tenham pouco; (Jr 22.13)
Lamenta que por conta dessa desigualdade nossos semelhantes sejam expostos às situações de vulnerabilidade, impingindo dor, tristeza e desesperança especialmente às crianças e idosos. Lamentamos também a situação de miséria e injustiça a que são submetidos os refugiados em todo o mundo (Dt. 10.17-18; Dt. 24.17).
Reprova por conta disso toda tentativa de desmonte do aparato social que ainda protege os que não tem vez e voz, (Pv. 19.17, Pv. 14.31),bem como rejeita o impingir ao pobre a responsabilidade pelos mais diferentes desafios brasileiros;
Conclama os batistas brasileiros a buscarmos a paz social, através da diminuição da desigualdade social (Lc 14.12,13; Sl 85.10).
Encorajaa todos os brasileiros a amarem a Justiça, (Is. 61. 8 ), exercerem o compartilhamento e a misericórdia, (1Jo 3.17,18), a investirem seus recursos em iniciativas que apoiem pessoas que nada tem. Estimula ainda todo o combate à corrupção e a sonegação, que são endêmicas nesse país (Mt. 22:21; Rm 13.5-7).

2) VIOLÊNCIA:
Reconhece, com pesar e preocupação, o aumento das notificações de violência contra mulheres (feminicídios) e contra as crianças (Tg. 1.27;).
Reconhece em contrapartida a diminuição dos casos de homicídio.
Lamenta que ainda hoje mulheres e crianças tenham sua integridade emocional e física aviltadas (Jr. 22.3). Não é por outro motivo que lembramos, consternados, que o Brasil entrou na rota dos atentados em escolas, como aconteceu no Rio de Janeiro, Goiânia e Suzano (SP). Lamentamos que diante de tantas tragédias, queiram facilitar a posse e o porte de armas nesse país (Pv. 20.22; Sl 37.11).
Reprova toda e qualquer forma de vilipêndio à dignidade humana, especialmente no tocante às mulheres e as crianças, bem como a toda polarização e hostilidade que venham a ser alimentadas no seio familiar.
Conclama a sociedade brasileira a preservar a vida e dignidade de nossas crianças como investimento, legado no futuro de paz;
Encoraja que sejam amplamentes divulgados todos os programas do Governo e do Terceiro Setor que promovam a vida, a paz e a segurança para as mulheres e crianças.

3) FAMÍLIA:
Reconhece o estrago feito pela polarização política no seio de muitos lares, igrejas, gerando rancor em lugar de congraçamento (Hb 12.14);
Lamenta que tal hostilização impeça o caminhar fraterno e amigo, a vivência da paz nas relações pessoais;
Reprova o uso de informações falsas, mentiras, que buscam disseminar ainda mais a discórdia e a dissensão (Ex. 23.1; Tg. 4.11);
Conclama a sociedade brasileira para que volte a enxergar o lar como um lugar de diálogo, de harmonia, de benquerença mútua e de respeito, como lugar de refúgio e paz;
Encoraja a todos para que nos esforcemos na manutenção da família, tal qual preconizada nas Escrituras Sagradas, (Gn. 2.24; Mc. 10.6-9), na promoção da unidade e da paz sobre todas as relações. (I Pd 3.11).

4) TOLERÂNCIA:
Reconhece com indisfarçável e desconfortável surpresa, o aumento da intolerância.
Lamenta que esse clima de intolerância tenha invadido o campo religioso, contaminado as relações étnicas, polarizado o universo político e tornado impossível, para muitos, a convivência numa mesma comunidade de fé (I Pd. 2.17; Cl. 3.13; At.10.34);
Reprova toda e qualquer ameaça às relações interpessoais e fraternais pelo desrespeito com o diferente, com a alteridade, com o pensamento discrepante, bem como toda e qualquer ilação com os valores ou com o discurso presente nas ideologias extremistas.
Conclama a todos e todas a valorizar os princípios batistas, pilares constitutivos da modernidade, dentre eles a liberdade nas suas três formas: de consciência, de expressão e de culto (religião) (Jo. 8. 31-32; II Co. 3.17; Gl. 5.13),
Encoraja todos e especialmente os batistas brasileiros que prezem pela liberdade, que celebrem a alteridade e que construam na diversidade e até mesmo na dialética, a unidade, a paz, promovendo um clima de tolerância ao diferente.

5) VIDA:
Reconhece o clima perigoso e beligerante no qual o mundo adentrou, com o acirramento das tensões, provocações e incitamento à guerra;
Lamenta que a vida e a paz não esteja ameaçada somente pela guerra iminente, mas sobretudo pelo menosprezo com o meio-ambiente o que pode ser exemplificado com as florestas em chamas, e visualizado na fumaça australiana que deu a volta no globo terrestre.
Reprova toda falta de esforço dos líderes mundiais no cuidado do meio ambiente, bem como toda tentativa de culpabilizar o mais pobre pelos males ambientais;
Conclama os governos deste mundo a promoverem e apoiarem programas marcados pelo compromisso com a sustentabilidade e pela defesa da paz;
Encoraja a sociedade a promover a paz (Mt. 5.9; Rm. 14.9; Sl 122.6-7) e a valorizar a vida, na compreensão de que a preservação desse mundo criado, como ato de mordomia a Deus, é o que cabe a cada um de nós para a nossa existência (Rm 8.19-23).

Goiânia, 26 de janeiro de 2020 

A comissão:
Relator - Guilherme de Amorim Avilla Gimenez (SP)
Klaus Peter Friese (SC)
Nilson Gomes Godoy (FL)
Rosane Andrade Torquato (PR)
Sergio Gonçalves Dusilek (CA)

24 comentários:

Emilson disse...

Bem, removi o meu comentário anterior porque continha erros estruturais.
Mas, eis o que disse:

Bem, Alonso, se todo e qualquer texto modela o leitor, segundo Humberto Eco, então este pensamento parece estar de acordo com as ideias do psicanalista Lacan: "O inconsciente é estruturado como linguagem" !

Com isto, Lacan afirma que ninguém escapa ao discurso do Outro("Outro" com "o" maiúsculo porque se refere às grandes forças que nos perpassam e sem as quais nós não vivemos, ou seja, as que estão ligadas a nossa inserção na sociedade). Mas, também, para Lacan, ninguém escapa ao discurso do "outro"("outro" com "o" minúsculo,porque se refere à formação de nossos interesses mais imediatos como, por exemplo: o meu blog, o meu salário, a minha namorada, o meu trabalho, etc).

Ora, Alonso, parece-me que, aí, ocorre uma ilusão: a de que é possível ser-se completamente independente.
Nisto, Lacan sempre afirmava que todos nós continuamos sonhando mesmo quando estamos acordados !

Só há uma saída, em minha opinião: clamarmos noite e dia ao Eterno, ao EU SOU QUE SOU, em nome do Messias(aquele que morreu no madeiro pelo Seu povo) para que façamos a vontade Dele.

Mas, se a Instituição se colocar acima da vontade do Altíssimo, segundo o que Ele colocar em nosso coração, pela orientação de Seu Espírito Santo, então que façamos a obra do Todo Poderoso sem passar pela Instituição.
Temos coragem para tanto ?
Ouviremos a voz do Espírito Santo ?

Anônimo disse...

Perfeito.
Não sou batista, acho que institucionalmente não sou mais nada e, ao que esta mensagem parecendo, e que, para exercermos a fe crista, estamos sendo obrigados a romper com os grilhoes que se oxidam cada vez mais das instituições. Confesso que morri pra eles e a recíproca e verdadeira.
Parabéns pelo texto.
Abraço.

Roberta disse...

Então, só é fé se for de direita?
Sempre tive orgulho de ser Batista, agora tenho é nojo!
A direita desse país é contra os pobres, negros, minorias... Só Jesus na causa dos doentes de direita.
NOJO é o que sinto!

Ranieri Carlos Luz de Araújo disse...

Nunca tive orgulho de ser algo. Pois orgulho é pecado. A esquerda é a favor da ideologia de gênero. Aborto. Casamento gay. Invasão de propriedade. Tudo isso não combina com a fé cristã. Nem o orgulho.

Adriano Pereira disse...

O texto é bom.
Pena que não foi aprovado pela Convenção Batista Brasileira em sua assembleia de Goiânia.
Deus abençoe a todos!
Adriano Pereira de Oliveira, Votorantim, São Paulo, Brasil.

Adriano Pereira disse...

Eis, a questão.
Temos coragem para agir em nome de Deus?
Ou será que nosso Deus está abaixo da instituição?

Adriano Pereira disse...

MINHA IDENTIDADE
É com temor e tremor, como escreveu Kierkegaard,
Que aqui neste momento dou a minha identidade:
Católico de nascimento, batista tradicional,
Chamado de comunista e também de pentecostal.

Adriano Pereira de Oliveira, Votorantim, São Paulo, Brasil.

Unknown disse...

Se não foi aprovado ainda, por que divulgá-lo?

Jean Carlo de Paula disse...

Creio que o documento, resultado da centésima Convenção Batista esteja de acordo com o que eu entendo como cristianismo... parabéns aos responsáveis...vivemos tempos sombrios no Brasil, onde os ensinamentos de Jesus como amor ao próximo, humildade, compaixão estão sendo substituídos por sentimentos de ódio, egoísmo e intolerância, mesmo dentro das igrejas... infelizmente... abços fraternais.

Luiz Carlos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Luiz Carlos disse...

Concordo com suas palavras

Trapp disse...

Que triste, pastor Adriano!
Continua com ideias reprováveis

Trapp disse...

Essa distinção entre pessoas e triste, pois todos somos brasileiros.
Fora, PT!

pepepjr disse...

Já que não sou Batista, talvez soe como impertinente minha interação. Mas o que é contrário ao evangelho neste documento? Imaginemos que algumas considerações soem como sendo de direita ou esquerda, mas que tenham como referência a escritura. Isso as torna menos verdadeiras, embora com respaldo bíblico? Amar ao próximo, respeitar o diferente, cuidar do planeta, promover a justiça, conviver com a pluralidade de ideias sem abrir mão do absoluto...Tudo isso o evangelho ensina; uma "apropriaçao" ideológica, fosse o caso, não invalidaria.

Fernando Cardozo disse...

"Conclama os batistas brasileiros a buscarmos a paz social, através da diminuição da desigualdade social (Lc 14.12,13; Sl 85.10)."

Não tava sabendo que as boas novas do evangelho era pra trazer paz social. Como poderia haver paz social entre cristãos e ímpios? Como pode dois reinos subsistirem num mesmo local em harmonia?

O maior erro dessa carta é separar o espiritual do social. Estamos em guerra, e Cristo não veio trazer paz, mas espada!(Mt 10:34-36)

Não pode haver união, muito menos harmonia entre trevas e luz (2 Coríntios 6:14-15).

Precisamos PROCURAR viver em paz com todos os homens (Hb 12:14), mas isso não pode ser de forma nenhuma uma forma de tolerar o pecado e ter que aceitar aqueles que o praticam (1 Coríntios 5 / Sl 1:1 / Ap 2:18-23).

A mensagem de esperança, a verdadeira paz que temos que levar é Cristo! Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14:6), e Ele dá a verdadeira paz que o mundo não pode dar (Jo 14:27)!

Qualquer um que pregue ou reivindique qualquer outro meio e/ou caminho de esperança, que seja ANÁTEMA! (Gl 1:9)

Amar mudar as coisas me interessa mais. (Belchior) disse...

Carta maravilhosa!

Zirconita disse...

O problema é que as instituições chamadas igrejas reformadas flertaram com o Governo se vendendo. Todas sem exceção. Pastores usando os púlpitos como palanque para intimidar e punir quem estava com outro candidato. Lamentável!!!

Unknown disse...

É lamentável que as escrituras fica em segundo plano. Está carta é o que o evangelho ensina,quando falo da Pessoa de Jesus.Então ele era esquerda?

Rogério Santos de Aguiar disse...

Lá se vão muitos anos sem frequentar uma convenção. Fiquei surpreso com a carta que, apesar de extensa,tem um bom conteúdo. Firmar posição não é da tradição Batista, principalmente contra a injustiça social. O Batista da Convenção Batista Brasileira é sem sabor. Só tem se posicionado quando é favorecido pelo estado. Foi assim na Ditadura Militar. Em minha época de seminário teve até um que ganhou conceção de TV. A força dos Batistas está na igreja local nos moldes congregacionais. No demais, em grupo, os Batistas são corporativos e sectários. De qualquer modo, falei a tentativa.

Rogério Santos de Aguiar disse...

Valeu

Rogério Santos de Aguiar disse...

Digo, valeu a tentativa.

DesProf.Peixoto disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Só tenho a lamentar que um documento tão pertinente e bíblico tão diante da vontade de Cristo tenha sido rechaçada.Será que os "caciques" não tem visto que o povo não entrega a Cristo as suas vidas por esse momento de falta de amor?

Unknown disse...

Tudo que precisa ser feito para o bem geral que se faça, mas que cada um se encorage e faça. Se eu não faço não tenho o direito de exigir que os outros façam.Há os que fazem, há os que não fazem, há os que não fazem e cobram, há os que atrapalham alguém fazer. Jesus fazia. Imitemo-lo!
Floresça onde você está. Comece daí mesmo e você fará a diferença