23.1.13

“ERA BATISTA, HOJE SOU ADVENTISTA” – UMA CONVERSA NO PORTÃO

Já é comum saber que entre os neopentecostais há um intenso trânsito de pessoas entre as principais denominações deste segmento. Há pessoas que eram da Universal e foram para a Mundial e outras que eram da Mundial e foram para a Internacional e vice e versa. Isso não é surpresa, o modus operandi de todas elas é o mesmo. Até mesmo entre os pastores dessas denominações, como a revista Veja mostrou (http://vejasp.abril.com.br/materia/capa-as-exigencias-de-algumas-igrejas-para-quem-senha-ser-pastor) há um intenso trânsito em troca de benefícios e outras benesses. O vai e vem de pessoas nas denominações é frequente entre pentecostais e neopentecostais, infelizmente o IBGE não apontou esses dados no senso de 2010. Há pessoas que pertencia a uma Assembleia de Deus ministério tal (já existem tantos) e que, por algum motivo, deixou o ministério X e foi para o ministério Y por conta do pastor que dividiu a igreja e levou alguns membros com ele. O caso dos universais e genéricos é a mesma coisa. Quanto a essa prática é comum entre pentecostais e neopentecostais. A mudança de igrejas é corriqueira e, em alguns casos, necessária.

De uns tempos pra cá ouço pessoas que deixaram uma igreja histórica para se filiar a uma igreja pentecostal. Por alguma razão certas práticas nas igrejas pentecostais chamam atenção e essas pessoas querem vivenciar alguma experiência extrassensorial e procuram igrejas que tenha um apelo mais emocional. Quando essas pessoas chegam nessas igrejas são, geralmente, bem recebidas e logo são integradas as atividades da igreja como cultos, sermões e reuniões. O batismo delas é considerado e a qualificação bíblica e doutrinária não é questionada.

Conversei com um rapaz que pertencia a uma Igreja Batista e por outras razões que não foi o sábado, se filiou a uma Igreja Adventista. Lá teve que se batizar de novo, pois a Igreja Adventista não aceita o batismo de nenhuma igreja a não ser a dela mesma. Na mesma semana minha esposa pegou no canal TV Novo Tempo uma entrevista com Jeanne Gomes relatando de como ela e o esposo, um pastor batista já quinze anos, se tornaram adventistas (http://www.portaladventista.org/portal/asn---portugu/1484-pastor-batista-e-esposa-sao-batizados-na-igreja-do-unasp). Na entrevista ela conta que Deus abriu-lhe os olhos para a verdade do sábado e não pode contrariar, a não ser aceitar a nova descoberta que, mesmo com curso teológico, não tinha percebido ainda. Não fiquei chocado, mas surpreso. Ela e o esposo batizaram-se na Igreja Adventista do Sétimo Dia. Se nas igrejas pentecostais o batismo dos batistas é considerado, na Igreja Adventista, mesmo sendo pastor, não é possível. Isso porque os batistas fazem parte de um seleto grupo da chamada Reforma Radical que reivindicaram o batismo por imersão, e mais adiante, a partir de uma pública profissão de fé. É sabido que o movimento adventista tem suas raízes na Igreja Batista por meio de Guillerme Miller, pregador batista, que teve juntamente com algumas pessoas e entre elas Ellen G. White, o devaneio de querer marcar a data da segunda volta de Cristo em 1844. Nesta igreja o ex-pastor batista, e eles fazem questão de frisar isso, e o rapaz que encontrei tiveram que passar pelo batismo por imersão em nome da Trindade novamente.

Os adventistas são extremamente proselitista e consideram que apenas a sua igreja é a correta e o sábado é a maior revelação bíblica. Quando alguém de outra denominação chega à Igreja Adventista o alarido é maior. Parece que a conquista foi grande, principalmente se a origem é pentecostal.

É pena que alguns batistas desavisados, que na sua maioria desconhecem os princípios da Igreja Batista e sua identidade, podem trocar a sua igreja por qualquer outra e pena mais ainda por uma Igreja Adventista.

3.1.13

A TEOLOGIA CANNED PRODUZIDA EM TERRAS TUPINIQUINS

Na história do Cristianismo o protestantismo tem o seu lugar ao sol. O seu surgimento – levando em consideração toda a ambiguidade de qualquer movimento social e contexto religioso –, teve elementos que contribuíram para o desenvolvimento de setores fundamentais da sociedade ocidental. Em seus primórdios, o protestantismo foi comprometido com a política do seu tempo, daí a recusa por qualquer sistema de governo absolutista; em países predominantemente protestantes, com algumas exceções, a ciência, e a busca por novas descobertas de conhecimento, existia a oportunidade de pesquisas e estudos. O protestantismo é fruto da modernidade e seus valores como o racionalismo e a epistemologia. No campo filosófico o tema da liberdade sempre esteve na pauta do protestantismo. Liberdade para tolerar o outro e suas opções (John Locke); liberdade de consciência e expressão e o conceito de individualidade foram temas frequentes entre os reformadores. A temática da liberdade na Reforma foi vista por Georg Hegel como um momento decisivo na história, onde o espírito servil dá lugar a um espírito livre.

O que se tornou o protestantismo em terras brasileiras? O protestantismo por aqui sofreu sérias mutações; ele sofreu um processo de desvirtuamento. A capacidade de diálogo, tão singular nos primórdios do protestantismo, inclusive sinalizado com o diálogo ecumênico, sofreu baixas ao longo de sua trajetória, principalmente o segmento surgido nos Estados Unidos.

Uma vez que o protestantismo no Brasil, e no continente latino-americano, tem sua matriz estadunidense, o protestantismo de missão não soube lidar com a brasilidade – sua formação cultural e religiosa. Com um discurso exclusivista teve como resultado: o isolamento cultural – tornou a igreja num gueto de “salvos e santificados” esperando apenas o céu; o não envolvimento com o tido “mundanismo” é evidência de salvação, daí a completa falta de inserção na cultura do país; o discurso hermético – extremamente confessional; a apologética como chave hermenêutica para entender os “sinais dos tempos”. Desse modo, o protestantismo se alimenta de disputas com o catolicismo e propaga um ufanismo, sempre atacando os diferentes, absorvendo a cultura anglo-saxônica e preterindo a brasileira.

O resultado disso é um conjunto de crenças, modismos, ideologias, idiossincrasias que, na sua maioria, não contempla o espírito protestante (Paul Tillich).

Os pressupostos da pós-modernidade tem solicitado uma abertura de diálogo. Quando se pensa em pós-modernidade e suas bases – pluralismo e secularismo –, há dois tipos de discurso sendo viabilizado – um de teor apologético e outro de convergência. O primeiro trata de importar elementos discutíveis na Europa e nos EUA como ateísmo e evolucionismo como sendo o problema no Brasil e América Latina, não levando em consideração o fato de que o continente respira religião. E, mais recentemente, a questão do teísmo aberto trazendo a tona à temática da soberania de Deus versus a liberdade humana. O segmento que procura ler a pós-modernidade e convergir a partir de temáticas relevantes para o contexto são tidos como heréticos e progressistas.  

Faz-se necessário uma leitura pós-moderna da realidade. Assim como o teólogo suíço Karl Barth lia a conjuntura do seu tempo, quando assumiu o pastorado em Safenwill, numa mão a Bíblia e noutra o jornal, se faz necessário buscar parâmetros e ferramentas hermenêuticas que possam contribuir para uma reflexão teológica que contemple o contexto atual com seus desafios culturais e sociológicos e dê prospectivas sensatas.