25.10.10

ENTRE O RUIM E O PIOR: UMA DIFÍCIL ESCOLHA

Como milhões de pessoas que votaram nela espera: Marina Silva não deu o seu “apoio” a nenhum dos dois, Serra ou Dilma. Não foi nenhuma surpresa.

Observando os rumos dessa campanha vejo que o povo brasileiro perdeu a oportunidade de levar para o segundo turno uma nova opção de governo, de caráter, de ética, de fibra e de projeto. Mais uma vez preferiu ver o mesmo filme que passou em 2006 quando Lula se reelegeu. Estão reclamando que a campanha está com um baixo nível incrível. Bem, quem escolheu este estilo de campanha foi o próprio povo quando decidiu colocar no segundo turno Dilma e Serra. Fazendo isso o povo escolheu ver os mesmos ataques de um contra o outro, essa baixaria em horário nobre na TV em que passa mais os podres de cada um dos candidatos do que propostas relevantes para o país. Votando em Dilma e Serra, o povo escolheu a mesma tônica das outras campanhas, a maldita comparação entre FHC e Lula, como se o país fosse dividido em períodos da história e não tivesse uma única história com contextos diferentes na história global. Foi difícil com FHC e a crise do México; foi difícil controlar a inflação que era exorbitante, herança de um presidente narcisista como o Collor e de um incompetente como o Sarney. Mas foi possível o Plano Real para normalizar o cambio e garantir a produtividade. Assim como qualquer governo no mundo, FHC teve os seus problemas também, assim como Lula que teve/tem seus méritos e deméritos, pois nenhum governo é perfeito.

Parece que as pessoas não sabiam que Dilma e Serra no segundo turno era a garantia de uma campanha baseada na troca de ofensas, na denúncia de corrupção de ambos os lados, na manipulação da mídia e do marketing pesado em cima da imagem dos candidatos, vendendo aquilo que não são para o povo. Não sei por que o espanto! Alguém tinha dúvida disso? Eu não! Ocorre que as pessoas não se aperceberam que aqui não é os Estados Unidos e o PT-PSDB não são replicas dos partidos Republicados e Democratas, embora haja por aqui um que se denomina de DEM, mas deixa isso pra lá. Preferiram dar o seu voto na mesma cúpula que governou o país por dezesseis anos e não tem critérios lógicos para dizer quem fez mais ou menos, pois um dependeu do outro. Sobre a campanha, o Presidente Fernando Henrique Cardoso disse recentemente que nunca viu uma campanha de tom tão individual e sem propósito como essa onde os candidatos disputam o poder e não a vida e o futuro do país. Palavras de FHC que foi suprimido da campanha do tucano José Serra.

Entre o pior e o ruim a opção era a Marina. A mulher tinha todas as qualidades para fazer um governo excepcional. Governou com o Presidente Lula e saiu por não concordar com este projeto de perpetuação no poder que este governo tem. Mesmo não sendo apoiada pela sua igreja, que não fez nenhuma falta também, ela mostrou do que é capaz e não quis associar a sua imagem a nenhum dos que estão aí.

Era isso que as pessoas queriam ver? Uma campanha que envolveu religião além da conta, transformando temas tão delicados como o aborto em algo tão fortuito e descompromissado, além, é claro, do terrorismo feito nas igrejas contra o PT e de “pastores” que se especializaram em virar a casaca como o senhor José Wellington que no seu aniversário recebeu Dilma no púlpito de sua igreja e disse que ela era a solução para o país, a enviada de Deus, e hoje aparece no horário eleitoral do Serra como se nada tivesse acontecido. Outro televisivo que perdeu a muito tempo a credibilidade mais alguns ainda não se deram conta disso é o profeta da prosperidade Silas Malafaia, que nas últimas semanas do primeiro turno soltou uma série de mentiras sobre Marina Silva quando percebeu que ela não iria para o segundo turno, este aparece no programa eleitoral do Serra querendo influenciar os votos dos seus seguidores mais fanáticos.

Agora a batata está nas mãos dos eleitores que decidiram ver o mesmo filme das últimas eleições, PT versus PSDB. A democracia é mesmo uma beleza.

16.10.10

VENHA A NÓS O TEU REINO

A reflexão em torno do reino de Deus sempre foi motivo de disputa. No protestantismo o tema foi desvirtuado para o Milênio. As chamadas teologias sistemáticas colocaram o reino de Deus na seção Escatologia sempre vinculando com o amilenismo, pós-milenismo ou pré-milenismo. Na seção de Cristologia, o tema, quando não totalmente omitido, é suprimido pelos ofícios de Jesus, pela questão da hipostasia (termo grego que não tem nada haver com Bíblia) para falar das duas “naturezas” de Jesus. Por conta dessa verdadeira avalanche de teologias sistemáticas, diga se de passagem oriundas, na sua maioria, dos EUA, a teologia latino-americana foi suplantada quase por completo dos seminários e faculdades teológicas protestantes. Se aprendeu, se ensinou, se pregou que o reino de Deus será concretizado no Milênio, com isso se adormeceu, se omitiu, se conformou com o contexto social e suas mazelas na confiança de que Deus irá estabelecer o seu reino quando na consumação do mundo.

Como esta ideia foi disseminada por aqui. Há seminários que são completamente confessionais quando se trata do pré-milenismo; bíblias de estudo totalmente imparciais no estudo no assunto; teólogos que perdem amigos por não concordar com a sua posição sobre o Milênio. Quem perde com isso é a igreja que se acostumou a olhar o mundo, a sociedade, os acontecimentos pela perspectiva do futuro reino de Deus que se dará no Milênio. Influenciados pela teologia estadunidense, nossos seminários e faculdades ainda reproduzem essa visão maniqueísta e dualista da fé cristã, uma fé desvinculada da realidade social, desvinculada das questões que afetam a todos.

Para dar um exemplo. Recentemente recebi um texto de um amigo do pastor presbiteriano John MacArthur Jr. Ele escreveu o livro A sós com Deus; o poder e a paixão pela oração (Ed. Palavra). No capítulo “Venha o teu reino” MacArthur Jr. trata dos problemas morais e sociais dos EUA e dá a sua posição como teólogo sobre o reino de Deus. Segue:

A igreja tem uma única missão neste mundo: levar pessoas destinadas a passar a eternidade no inferno ao conhecimento salvador de Jesus Cristo e à eternidade no céu. Se as pessoas morrerem em um governo comunista ou em uma democracia, sob um ditador tirano ou benevolente, acreditando que a homossexualidade é certa ou errada, ou acreditando que o aborto é direito fundamental de escolha da mulher ou simplesmente um homicídio em massa, nada disso tem relação com onde elas passarão a eternidade. Se elas nunca conheceram Cristo e nunca o receberam como Senhor e Salvador, passarão a eternidade no inferno.

Em outro trecho ele completa:

Um dia o Senhor voltará para estabelecer o seu próprio reino perfeito. Então finalmente perceberemos o que temos esperado com tanta ansiedade - e o que os discípulos de Cristo do primeiro século desejavam ver - Cristo governar na terra e os povos do mundo prostrados de joelhos perante Ele.

É uma pena que ainda muitos tenham esta mentalidade ufanista e triunfalista da igreja - os escolhidos e separados do mundo vivendo num gueto que está a caminho do céu. Resumir a tarefa da igreja a céu ou inferno é um reducionismo que não tem cabimento na atual circunstância que o mundo passa. A igreja é agente do reino de Deus, ela é a mediadora desse reino. O “venha a nós o teu reino” se dá, primeiramente, na terra.

6.10.10

DO CHALITA AO TIRIRICA

O teste de inteligência do eleitor

“Foi sensacional (...) coisa de Deus mesmo”.
Tiririca.

Não fiquei nenhum pouco surpreso com a votação maciça no palhaço Tiririca. A imprensa internacional divulgou o seu feito de ter mais de um milhão de votos para a Câmara Federal, de fato um fenômeno. Agora o coitado, que foi usado, precisa comprovar que sabe ler e escrever e ainda desmentir a reportagem da Revista Época que o acusa de ter falsificado o seu registro no TRE-SP, isto é, se não acabar em pizza é claro. Mais uma brecha da legislação brasileira que permite que pessoas apenas alfabetizadas concorram a cargos públicos e logo esses que irão fazer leis e priorizar a educação, isso sim é palhaçada.

Não sou cientista político, mas quero fazer uma reflexão, de cunho bem subjetivo mesmo, sobre a inteligência política de quem votou no Chalita e no Tiririca.

Quem votou no Chalita conhece a sua história. O seu eleitor sabe que a sua formação se deu na PUC-SP (filosofia e comunicação social); sabe que ele foi Secretária da Educação no Governo Alckmin; é um defensor ferrenho da educação, buscando alternativas e apontando caminhos; é católico não por falta de opção religiosa, mas por comprometimento mesmo; sua saída do PSDB se deu por não concordar com políticas públicas que não favorecia a educação e desvalorizava o professor; é escritor na área de filosofia; já foi ouvido em diversos programas de TV; foi o vereador mais votado da cidade de São Paulo; o segundo deputado federal mais votado do Estado de São Paulo, só perdendo para o Tiririca.

Quem votou no Chalita conhece a sua militância e trajetória política. É alguém que gostaria de ter um representante à altura do Estado de São Paulo na Câmara Federal, com ideias esclarecidas e discurso coerente. Os seus eleitores mostraram que é possível sim ter pessoas com dignidade e competência representando o povo. Foi um voto de basta de parlamentares que acham que o dinheiro público é seu também; foi um voto a favor da ética na política; foi um voto de quem entende que os políticos estão lá para defender os interesses da população e não os seus próprios; foi um voto inteligente.

Quem votou no Tiririca o conhece da sua brilhante carreira de comediante e sua poética música – “Florentina, Florentina, Florentina de Jesus, não sei se tu me amas pra que tu me seduz” (nem mesmo sei se é assim). É alguém que também gostaria de mandar um recado: “estamos cansados dessa palhaçada, de dinheiro na cueca, dos aloprados, das ambulâncias superfaturadas; estamos cansados de deputado rindo e roubando dinheiro em câmeras escondidas; estamos cansados de sermos feitos de palhaços”. É uma reivindicação de protesto! Mas colocar mais um palhaço naquele circo, chamado de Câmara dos Deputados, não adianta. O homem não consegue nem mesmo falar; é acusado de ser analfabeto; não apresentou nenhuma proposta no tempo mais que longo de TV, apenas fez piadas com os seus eleitores – “você sabe o que um deputado faz? Não! Nem eu. Vota em mim que eu te conto; vote no Tiririca, pior do que tá não fica” – ficará pior se ele vier assumir o seu mandato. O eleitor do Tiririca não foi inteligente dando mais de um milhão de votos a ele porque não conhece o sistema eleitoral brasileiro, que é irracional, que trabalha com o quociente eleitoral e a proporcionalidade, ou seja, os votos excedentes do palhaço Tiririca foram para outros candidatos do seu partido. Nesse caso, os eleitores do comediante garantiu a eleição de mais três candidatos que nem mesmo sabe quem são. Isso não é ser inteligente.

4.10.10

SURPRESA? NÃO, DEMOCRACIA!

A minha solidariedade para com os eleitores de Marina Silva

Alguns chamaram de “zebra”; outros de surpresa. O fato é que a candidata à presidência da República, Marina Silva (PV), foi destaque na imprensa internacional e dentro do país. Os analistas, cientistas políticos, sociólogos, estão falando da Marina e não de Dilma ou Serra.

Permita-me, meus poucos leitores, tentar fazer uma radiografia dos eleitores de Marina. Primeiro, eles são independentes. São eleitores que não se importaram nenhum pouco se iria ou não “perder” o voto votando nela; são eleitores suprapartidários, não estão vinculados a nenhum partido de hegemonia como PT ou PSDB; esses eleitores foram os únicos que votaram com inteligência, pois compreenderam de que esse sistema PT-PSDB não é a única opção, portanto, entenderam que essa eleição não era um plebiscito; além do mais, foram esses quase 20 milhões de eleitores que provocaram o 2º turno, o Serra deveria agradecer de joelhos a ela.

A candidata do PT teve que assumir: “quero parabenizar a candidata Marina Silva pelo ótimo desempenho no pleito”. Foi ótimo mesmo, é verdade. Foi ótimo porque um partido pequeno, como o PV, com o tempo mais que reduzido de TV, com a falta de marketing pesado, em comparação às outras candidaturas, conseguiu quebrar a prepotência daqueles que achavam que essa eleição estava garantida logo no 1º turno, isso foi ótimo. Os eleitores de Marina foi uma pedra no meio do caminho, parafraseando o grande poeta Carlos Drummond de Andrade.

É claro que a dinâmica dos partidos políticos é chegar ao poder, por isso não causaria nenhum espanto o PV decidir apoia um dos candidatos, ainda que seja improvável isso acontecer, mas acredito que não vou ter o desprazer de ver Marina no palanque com Dilma, praticamente impossível, ou com Serra falando assim: “vocês votando nele/a é o mesmo que está votando em mim”, aliás, essa frase me lembra alguém..., mas deixa isso pra lá. Marina não associaria a sua imagem a nenhum dos que restaram para o 2º turno, afinal de contas, os dois são bem parecidos, como bem dizia ela.

Aos eleitores de Marina a minha solidariedade. Não adiantou pastor, político ou qualquer celebridade ofuscar a sua candidatura. Não foi surpresa, foi o pleno exercício da democracia. Aos seus eleitores a confiança, 2014 ela estará de volta e aí “no meio do caminho tinha uma pedra (...) tinha uma pedra no meio do caminho (...) tinha uma pedra (...) no meio do caminho tinha uma pedra”. E que pedra...

2.10.10

O POPULISMO DO LULISMO

De forma bem geral populismo é um modo de governar em que o presidente se utiliza de diversos recursos para obter apoio popular, de preferência a ala mais pobre. Com linguagem simples, com uma imagem pessoal bem construída, além do carismatismo.

Foi Getúlio quem, no seu segundo mandato (1951), eleito com mais de 48% dos votos, assumiu o populismo de forma aberta quando em sua posse disse: “o povo subirá comigo as escadas do Catete, e comigo ficará no governo”. Assumiu o apelido de “pai dos pobres” quando direcionou políticas públicas de subsistência. Com o discurso “o petróleo é nosso” criou a Petrobrás como uma das maneiras de diminuir a pobreza no país, consolida-se, ainda mais, o getulismo. A história conta que o fim de Getúlio foi trágico. Pressionado pelos militares para renunciar, esperando o apoio popular que não veio por conta da sua repressão, comete suicídio.

O populismo de Getúlio promovia grandes manifestações populares, como a do Dia 1º de Maio (Dia do Trabalho) em que dá aumento exagerado aos trabalhadores no ano de 1954. Ao mesmo tempo, nunca se provou, mas o seu guarda-costas foi acusado de tentativa de homicídio contra o polêmico e oposicionista Carlos Lacerda. O populismo de Getúlio usava a propaganda para divulgar as ações do seu governo; não respeitou a liberdade de expressão e tinha um claro plano de se perpetuar no poder. Olhe para Hugo Chávez hoje, era Getúlio ontem.

Os historiados dizem que a história sempre se repete, começo a acreditar nisso. O PT deixou bem claro que sua intenção era um plano de poder e não de governo quando alguns do partido e o então Ministro da Casa Civil, José Dirceu, armaram o mensalão. A ideologia do PT sempre foi: o Estado a serviço do povo. Quanto mais o Estado ser fortalecido, mais ele ajudará o povo. O presidente Lula com o seu famoso jargão – “meus amigos e minhas amigas, nunca na história desse país” – conquistou as classes desfavorecidas quando ampliou o Bolsa Família; colocou mais jovens no PROUNI; levou energia elétrica com o Luz para Todos; implantou o Fome Zero; conseguiu que a classe média chegasse quase a 36 milhões de brasileiros. De fato o “pai dos pobres”. A popularidade é amplamente reconhecida no país, mas principalmente nas regiões norte e nordeste.

Em contra partida, “nunca na história desse país”, vimos tantos escândalos envolvendo os políticos de Brasília. O mensalão proporcionou uma das melhores novelas do Brasil com os debates em cadeia nacional dos processos na Câmara dos Deputados. De um lado Roberto Jefferson, dizendo para o Zé: “você provoca em mim os sentimentos mais primitivos”. Do outro, o Zé: “não tenho nada haver com essa história”. No fim foi o Delúbio, o Marcos Valério, condenados a nada. A sucessora que o presidente escolheu para substituí-lo, se envolveu em escândalos atrás de escândalos. Primeiro ela diz que a Drª Lina estava mentindo quando disse que ela, Dilma, pediu para fazer vistas grossas no caso do Sarney com a Receita Federal. Recentemente a sua mui amiga e pessoa de alta confiança, Erenice Guerra, se envolveu com tráfico de influência por conta dos filhos que começou atuar no governo depois da sua entrada na Casa Civil.

É sabido que o lulismo é maior que o PT. O maior tesouro do PT hoje é o nordestino que veio para São Paulo, foi metalúrgico, que se transformou sindicalista, que concorreu a todas as eleições para presidente desde a redemocratização do país, ou seja, desde 1989, e está é a única vez em que não estará concorrendo à presidência, é o Lula. Um dos índices mais elevados de aprovação popular.

Como em seu partido não havia ninguém para substituí-lo, ele fabrica a Dilma. Se a Dilma vier a ganhar no 1º turno neste domingo, o populismo do lulismo estará consolidado e a democracia brasileira enfraquecida. O povo estará atestando que a sua visão de país ainda é individualista; estará afirmando que o populismo do Lula conseguiria eleger até mesmo um poste se quisesse. Com todos os seus defeitos e qualidades, o Lula foi bom para o Brasil, acontece que a Dilma não é o Lula.