15.5.17

O MODELO MISSIONÁRIO DA CBESP

Os batistas se notabilizaram no país, dentre outras características, pelas suas campanhas missionárias. Quer em nível mundial (JMM), nacional (JMN) ou estadual, os batistas asseguram que a necessidade de evangelização é uma prioridade da igreja, logo, das organizações denominacionais.

Ocorre que há modelos que são colocados para as igrejas e aos agentes missionários das organizações. No caso da JMM, por exemplo, de maneira bem sintética, o principal modelo se dá em projetos que a JMM desenvolve em alguns países, procurando alinhar as necessidades prementes de um lugar ou região com o trabalho da equipe missionária. Nesse sentido, o modelo foca o aspecto social e religioso. A mensagem não é, primeiramente, falada, mas demonstrada e praticada com ações que promovem o testemunho do Evangelho. Por aqui, a JMN tem demonstrado que as Cristolândias é uma prioridade de recursos e equipes. A notoriedade midiática da Cristolândia, favoreceu o mote da JMN, que é servir de instrumento de reabilitação e integração social de adictos, tendo o Evangelho como primeira ferramenta para isso.
 
A Convenção Batista do Estado de São Paulo (CBESP), vem demonstrando a sua estratégia missionária depois de alguns problemas de ordem financeira, como também de logística. Ocorre que o modelo que a CBESP vem construindo difere das organizações missionárias mencionadas acima, ou seja, o foco principal tem sido disputar espaço no campo religioso estadual com outros segmentos, principalmente com o setor católico. Algo que não víamos já algum tempo.

Antes, é preciso recordar que, a grosso modo, o protestantismo de missão chegou no país com a missão de converter católicos. Reconheciam no catolicismo, dentre outras razões, o atraso do país. É sabido que esse encontro gerou conflitos para ambos os lados, sendo o protestantismo, por ser minoritário, o mais penalizado. Por outro lado, o discurso exclusivista do protestantismo e a postura apologética causou inúmeros problemas, inclusive entre os próprios protestantes. É dessa conjuntura, que emerge a identidade protestante e sua base missiológica, tendo, principalmente, os católicos como principal alvo concorrente.

Agora, temos a impressão de que estamos presenciando o mesmo modelo missionário do século XIX entre os batistas do Estado de São Paulo. A proposta da CBESP, parece evocar um modelo missionário de caráter bélico, onde luz e trevas estão em conflito, sendo que as “trevas” são locais que ainda não há um templo (presença) batista. Ao que parece, estamos diante de uma conhecida ideia medieval, a de que identificava a presença física da igreja (templo) com o reino de Deus.

Postura como essa, reforçam uma visão de mundo que esteve atrelada ao maniqueísmo, quando se colocava em constante dicotomia o mundo e o reino de Deus, ou seja, a igreja. Uma vez associando “trevas” ao um segmento do cristianismo, mesmo que não concordando com suas doutrinas e ritos, não está se priorizando um modelo missionário pautado na caminhada do Nazareno que procurou mediar as diferenças por meio de gestos e ações que privilegiava o humano, antes de qualquer sistema religioso. Não por acaso, os empates com os fariseus e saduceus nos evangelhos se deram a partir disso. Não é o sábado que vem primeiro, mas sim gente.

Quando comemoramos 500 anos da Reforma Protestante, parece que os principais elementos da Reforma são obnubilados por outras motivações. A Reforma, se constituiu em momento ímpar para o mundo ocidental por demarcar um tempo de liberdade, sendo os batistas, depois, dentre outros, a lutar para que ela, a liberdade, não fosse apenas um discurso, mas também uma ação. O modelo missionário da Reforma se mostrou viável e desafiador, porque colocou na liberdade o seu início; na graça de Deus a salvação; a fé como condição salvífica; na teimosia profética a denúncia como elemento imprescindível do ser protestante. Esses elementos formaram o ser protestante e desses elementos somos, queira ou não, herdeiros.

Entendemos que um modelo missionário que tem como primeira marca o embate a partir do campo religioso brasileiro, sendo esse embate promovido pela logística denominacional com publicações e promoção de personagens que transitaram entre segmentos da religiosidade brasileira, não atende as reais necessidades prementes que temos no momento. Pensar que o principal problema de evangelização no Estado de São Paulo se dá, apenas ou principalmente, a partir da religiosidade, é suprimir um gigantesco universo de problemas de ordem espiritual, social, política e moral. Na leitura do mundo, não é mais possível reducionismos que privilegiam uma relação dicotômica ou dualista.

O primeiro e principal modelo missionário continua sendo o de Jesus. Em Mateus 11,28-30, Jesus coloca, em oração, o seu modelo missionário e este modelo se constitui em mansidão, leveza, descanso e alívio. Fica claro que o que dá consistência ao modelo missionário de Jesus é a sua pessoalidade. O modelo de Jesus encontra resistência com as estruturas denominacionais, porque não foca no sistema, mas sim nas pessoas.

É a partir do modelo missionário de Jesus que somos chamados a testemunhar o que seja o Evangelho. Não por acaso que em Atos 1,8 a primeira incumbência dos discípulos é: “E sereis minhas testemunhas”.