21.7.09

IGREJA MUNDIAL DO PODER DE DEUS EM IPORANGA

Um empreendimento que não deu certo

A Igreja Mundial do Poder de Deus (IMPD) tem na Igreja Universal do Reino de Deus o seu embrião. Com um discurso milagreiro, a IMPD adota a estratégia da “cura divina" como meio de conquistar adeptos para o movimento. Com o slogan “a mão de Deus está aqui Brasil” o então “apóstolo” Valdemiro Santiago tem na TV o mecanismo ideal para alcançar o “Brasil” para o único lugar que Deus está, ou seja, na Igreja Mundial do Poder de Deus. Com isso, Valdemiro tem aberto em quase todos os lugares a sua agência de cura divina, sempre se valendo da magia e do culto a sua personalidade para atrair pessoas. Mas na cidade de Iporanga no Vale do Ribeira (região sul do Estado de São Paulo), a IMPD fechou suas portas no primeiro mês de funcionamento. Por que isso ocorreu? Seria por falta de pastor? Não. Seria por falta de frequentadores? Não. Sempre há pessoas impressionadas com o “sobrenatural”.

Iporanga. Cidade com cerca de cinco mil habitantes, situada na região mais pobre do Estado de São Paulo; índice IDH muito baixo; renda per capita por família não passa de duzentos reais na sua maioria; deslocada de um grande centro urbano; sua subsistência esta no turismo, funcionalismo público, agricultura familiar e repasses de verbas governamentais; uma das cidades que mais tem participantes nos programas sociais do governo federal como Bolsa Família; uma juventude envolvida com drogas e vida ociosa; um índice alarmante de gravidez precoce. Por que uma igreja que reivindica a “mão de Deus e seu poder” fecharia as suas portas numa cidade como essa?

A questão esta no empreendimento que não deu certo devido à clientela não ser adequada para os objetivos da empresa. É exatamente assim, com uma linguagem mercadológica que a IMPD deve ser encarada. Em Iporanga a IMPD fechou porque a sua maior preocupação esta em satisfazer as necessidades visíveis e imediatas das pessoas. Como a IMPD não tem uma mensagem em que Cristo é o agente transformador da condição humana, em Iporanga ela não daria certo mesmo. Uma igreja interessada no ganho financeiro também não atenderia os anseios desse povo, porque aqui a oferta/dízimo não esta baseada na barganha com Deus, mas na continuação do evangelho na cidade.

Aqui não cabe megaigrejas sensacionalistas que tem na TV seu elemento disseminador de bobagens e crendices ridículas. Não cabe aqui uma igreja que não preze pela comunhão com o irmão, pela ajuda as suas necessidades espirituais, físicas e financeiras. Fecha mesmo uma igreja que não tem compromisso ético-espiritual com as necessidades do município.

Parece que o “poder de Deus” não conseguiu penetrar na pequena, mas aconchegante, cidade de Iporanga, onde não há megaigrejas, mas Igreja que proclama Cristo autor da salvação e tem o culto como meio de adoração a Deus, somente a ele.

16.7.09

ESPÍRITO E VIDA

O Espírito Santo em Jürgen Moltmann

Minhas leituras em J. Moltmann tem modelado minhas perspectivas teológicas nas diversas áreas: Deus, Jesus Cristo, Reino de Deus, Igreja, Ecologia e Espírito Santo. Dentro deste último tema, J. Moltmann desenvolveu uma teologia da vida que tem no Espírito Santo a razão de ser. Escreveu: O Espírito da vida: uma peneumatologia integral. Petrópolis: Vozes, 1999; outro texto menos elaborado teologicamente para alcançar o grande público, foi A fonte da vida: o Espírito Santo e a teologia da vida. São Paulo: Loyola, 2002, com alguns artigos inéditos. Com uma perspectiva ecumênica, J. Moltmann articula sua peneumatologia a partir de várias fontes teológicas. Além de utilizar fontes evangélicas, ele abre um profícuo diálogo com a Igreja Oriental e, principalmente, a mística judaica, além, de assumir alguns conceitos da filosofia da vida.

No nosso contexto, o tema Espírito Santo, sempre foi controverso. A teologia reformada não dispensou uma atenta atenção para o assunto, alguns manuais de sistemática nem se quer menciona a temática. Com a chegada dos pentecostais, as coisas ficaram ainda mais no campo da animosidade. Com um discurso carismático, os pentecostais alegavam/alegam vivenciar a plenitude do Espírito Santo e sua evidência era o “falar em línguas”, é claro que este não é o único critério de avaliação deste grupo religioso, mas o principal elemento identitário. O Espírito Santo foi o principal meio de divisão entre as denominações históricas, logo ele que é responsável pela unidade da igreja. No ambiente pentecostal a liturgia gira em torno do Espírito Santo, o culto é o espaço para a sua manifestação e veículo social amenizador de sofrimentos. Os protestantes históricos ainda relutam com o tema e qualquer manifestação que fuja da normalidade em sua liturgia é considerada estranha.

Com J. Moltmann há um novo paradigma para se pensar o Espírito Santo, não mais no campo das emoções (pentecostais) ou puramente doutrinário (protestantismo histórico), mas no processo da vida política, social e ecológica. O próprio J. Moltmann crítica a completa ausência do movimento pentecostal com as questões que envolvem a todos como a política e a ecologia. Ele não concebe um Espírito outorgado fugindo dos conflitos do mundo e se encasulando numa religião ilusória.

O Espírito da Vida tem como missão promover a vida. Foi por este motivo que Deus nos enviou o seu Espírito, para promover e preservar a vida. Dentro desta perspectiva, a missão não é a expansão da fé cristã a partir do proselitismo, mas a paixão pelo Reino de Deus. O Espírito Santo envolve a vida e sua renovação. J. Moltmann faz questão de ficar com o termo hebraico para espírito, ruah, que quer dizer fôlego da vida de Deus. Daí a sua concepção de que o Espírito Santo não pode ficar enclausurado na economia da salvação, mas também numa economia ecológica da salvação. A sua peneumatologia parte de que a criação é obra de Deus e que, portanto, deve-se entender o Espírito Santo no mundo criado, portanto, é legítimo dizer que J. Moltmann tem uma peneumatologia ecológica. A vida é amada por Deus e o seu Espírito está em toda a sua criação, sendo assim a igreja deve engajar-se em promover a vida. Para J. Moltmann, o Espírito Santo não esta limitado à igreja e seu horário de culto, ele pertence ao mundo, e na teologia latino-americana, a igreja torna-se sinal da ação salvífica do Espírito Santo no mundo.

1.7.09

TEOLOGIA DA PROSPERIDADE OU MISSÃO INTEGRAL: UMA BREVE COMPARAÇÃO

As duas correntes teológicas não têm nada a ver uma com a outra. A primeira “pegou” e a outra nem se quer chegou a sair do berçário.

Interessante pontuar algumas diferenças entre essas duas correntes. A teologia da prosperidade é notória no meio neopentecostal. O discurso vitorioso, a confissão positiva, a bênção mediante barganhas, a fé para ser vitorioso na vida financeira e física etc., não vale muito a pena alongar esta lista. Como não sou sociólogo da religião, mas curioso, arrisco-me em apontar, ainda que dentro de um olhar leigo sobre o tema, algumas pistas do porquê teologia da prosperidade e não missão integral.

Pesquisadores do tema, teologia da prosperidade, vão colocar seu surgimento nos Estados Unidos, e seu principal expoente, Kenneth Hagin entre outros. De lá saíram várias aberrações teológicas como Benny Hinn e diversos modismos apareceram com clara intenção de exportação. Como toda teologia é fruto de uma cultura, a teologia da prosperidade não poderia ser diferente. A potência responsável pela estabilização econômica do mundo, e por meio das armas e ideologia pressionar nações, há muito tempo se comporta como a “polícia do mundo” e conseguiu por meio de sua moeda e filmes impregnar o Ocidente com a sua cultura e modo operacional econômico. Pragmáticos, donos da verdade absoluta, fundamentalistas em quase todos os assuntos, os Estados Unidos passa uma imagem de opulência financeira e defensores do capitalismo selvagem neoliberal. Não é por acaso que a crise econômica mundial teve sua origem lá. Diante desse quadro, só poderia mesmo vir de lá a teologia da prosperidade.

No Brasil a febre pega lá pelos anos 70. Com a igreja brasileira sofrendo profundas mudanças, os líderes pentecostais importam o produto; assimila a sociedade de consumo; adéqua a mensagem ao mercado empresarial e formula um discurso triunfalista, repleto de prescrições como andar no sal grosso, passar pela “porta”, a campanha dos 318 pastores etc. Seus partidários são: R. R. Soares, Edir Macedo, Valnice Milhomens entre outros.

Os evangélicos dão ao mundo uma postura diante das mudanças que estavam acontecendo: o Congresso Mundial de Evangelização em Lausanne, 1974, que deu origem ao Pacto de Lausanne, cujo relator foi John Stott, eminente teólogo inglês. Combustível para o que seria a missão integral no continente latino-americano, teólogos como Orlando Costas, Samuel Escobar e René Padilla, formularam uma teologia holística para as necessidades do continente. É claro que missão integral sofreu diversas acusações quando equiparada com a teologia da libertação – ela seria uma adaptação evangélica da teologia da libertação e que por isso não teve impulso o suficiente para sair do berço. De fato ela não teve bases para se desenrolar, ou seja, ela não teve povo para digeri-la. Missão integral ficou nos livros, que por sinal são bons do ponto de vista metodológico e teológico, nos congressos, nas revistas. Com a teologia da libertação, da qual sou um partidário convicto, foi diferente, esta teve povo, as chamadas Comunidades Eclesiais de Base. Com as reuniões do CELAM em Medellín e Puebla, ela ganhou força mesmo sendo bombardeada pela Santa Sé e sua Congregação para a Doutrina da Fé. Com um discurso teológico impregnado pela práxis libertadora, a teologia da libertação ganhou proporções mundiais. As semelhanças com a missão integral são claras: o que fazer diante do avanço do capitalismo neoliberal desumano? René Padilla, já em Lausanne, fez duras críticas ao imperialismo norte-americano, propondo, entre outras coisas, a rejeição do cristianismo com o famoso slogan norte-americano: “american way of life” (maneira americana de vida).

Missão integral: Reino de Deus e seus valores holísticos; uma comunidade que alimente o espírito coletivo de mudanças concretas; uma mensagem que seja “o evangelho todo, para o homem todo”; uma evangelização que tenha na sua agenda não apenas assistencialismo social, mas postura profética e comprometida em mudar realidades.

Teologia da prosperidade: sofrimento é coisa do diabo; a fé serve para conquistar bênçãos; todo o crente deve reivindicar prosperidade, a ausência dela significa falta de fé; a enfermidade é sinal de pecado; o mundo e tudo que nele há esta aí para ser conquistado.

Não dá nem para comparar.