É um fato a globalização religiosa, o pluralismo como marca da sociedade contemporânea possibilitou a multiplicação de igrejas/movimentos religiosos no país. A estimativa é que a cada dia surgem dezenas de “igrejas” em lugares mais diversos deste país. Este fenômeno chamou a atenção da Igreja Católica já algum tempo e, como resposta, foi o surgimento dos “padres pop-star” e o fortalecimento do catolicismo carismático. No campo do protestantismo histórico a medida foi estudar o fenômeno e entender o seu status de funcionamento e suas mediações simbólicas. Produziu-se muita coisa (e ainda se produz) na academia como dissertações, pesquisas, fóruns de debate e teses de doutoramento sobre o movimento neopentecostal (são as igrejas: Universal, Internacional e Mundial). As igrejas históricas tem a tendência de preservar a sua tradição e liturgia, com algumas exceções é claro, mas não procuram competir com esses movimentos uma vez que a sua própria teologia não comporta mudanças comportamentais no seu imaginário litúrgico e teológico.
Somado a isso, há mudanças culturais na sociedade que produzem novas perspectivas no campo religioso, uma vez que a religião, assim como tudo na contemporaneidade marcada pelo individualismo e capitalismo, “pode ser consumida pela satisfação que é capaz de proporcionar aos indivíduos” (R. Prandi). Neste segmento, surgem os “novos especialistas” do Sagrado prometendo meios para solucionar o sofrimento humano na mesma velocidade que se toma o copo com água ungido pelo “profeta de Deus”; outra marca indelével do nosso atual momento é a disputa pela interpretação tida como correta, há uma busca de legitimação entre os sistemas religiosos (leem-se igrejas) e cada um procura dar a interpretação verdadeira, uma vez que não existe mais uma instância social/institucional com hegemonia o bastante para estabelecer a “verdade”; além dos conflitos entre sistemas religiosos, há uma dinâmica crescente pela busca da experiência religiosa que passa pelo crivo da individualização e subjetivação, é preciso ser do gosto pessoal (a pergunta é: você se sente bem naquela igreja?), é preciso ser conveniente, pois isso proporciona ao indivíduo costurar seu próprio sistema simbólico religioso, experimentar outras igrejas não é problema.
Traços do que acabei de analisar é possível ver na cidade de Iporanga, cidadezinha de quatro mil e duzentos e cinquenta e dois habitantes (IBGE/2010), no Vale do Ribeira. Aconchegante, simples, com um custo de vida muito modesto com apenas quatro supermercados, mas uma quantidade enorme de igrejas na sua plena diversidade e gosto. É incrível ver como a história do cristianismo é patente na cidade de Iporanga. A Igreja Católica, com sua hegemonia simbólica e ritualista predomina na cidade, como toda a cidade do interior do Brasil; a Igreja Batista, o único ramo protestante na cidade, a primeira igreja não católica a chegar à cidade; três Assembleias de Deus, cada uma reivindicando a manipulação do Espírito Santo, todas com o mesmo poder e fogo, mas não podem ser uma, pois a política dessas denominações não permite: há Belém, Madureira e outra que se dividiu das duas citadas que nem mesmo sei de que ramo é; a cidade conta ainda com a igreja do missionário Davi Martins Miranda, a Igreja Deus é Amor, inexpressiva, mas está aqui, e uma igreja que se denomina Comunidade Evangélica, um ramo que se identifica com a Igreja do Evangelho Quadrangular, mas não é Quadrangular. Por aqui não temos Universal, Internacional, não há dinheiro na cidade, portanto o deus dessas igrejas não se interessa por Iporanga, houve a tentativa de implantar a Mundial, não deu certo, o mínimo que se pediu foi sessenta reais, não houve clientes, digo, crentes!
Como se não bastasse essa quantidade de igrejas na cidade, chega agora duas entidades religiosas com o velho discurso exclusivista: Testemunhas de Jeová e Adventistas. A primeira é fruto de alucinações de Charles Taze Russel, fundou a Sociedade Torre de Vigia em 1879. Eles têm a própria bíblia, conhecida como Tradução do Novo Mundo; entendem que Jesus foi a primeira criação de Deus e rejeitam a Trindade como revelação, além é claro de enfatizarem o sangue como portador da vida, daí a sua não transfusão. Já os Adventistas, fundado por Willian Miller, conta com a sua profetiza, Ellen White, a continuadora da Bíblia com suas revelações. Com uma ênfase extremada na volta de Cristo (marcaram por diversas vezes a data desse acontecimento) e no sábado como meio salvífico. Ambos proselitistas, possuidores de uma mensagem ímpar, onde quem não pertence ao grupo não é “salvo” ainda.
Diante dessa variedade de sistemas religiosos, é preciso reafirmar algumas propostas: acentuar a humanidade de Deus em Cristo Jesus; estabelecer laços de fraternidade e solidariedade na comunidade; focar na figura/presença de Jesus na comunidade de fé e reproduzir seus compromissos como amor, perdão e reino de Deus; extirpar do meio da comunidade o julgamento/monitoramento legalista/moralista.
"Escrever é construir, através do texto, um modelo específico de leitor" (Humberto Eco)
4.3.11
AS DIFICULDADES DO NOSSO JEITO DE SER CRISTÃO
É impressionante como algumas ideias, alguns conceitos e comportamentos surgem na comunidade de fé que, na sua grande maioria, não tem fundamento bíblico e até mesmo sensato! São coisas que passam de pais para filhos, que se ouve de púlpitos, onde o pregador está mais interessado em proferir o que não se deve fazer do que acentuar a graça de Deus e seu amor. Com um discurso carregado de moralismo e pedantismo, pregadores, ao invés de pregar algo que seja bíblico e ensine o povo, prega sobre comportamentos e autoflagelo como meio de uma espiritualidade sadia. Isso é horrível! O povo vai tendo e nutrindo algumas ideias que chegam a ser absurdas.
Aqui na Memorial em Iporanga tratei durante um mês sobre as dificuldades do nosso jeito de ser cristão. Aquelas questões que todo mundo ouve, acredita que é o correto passa para frente como verdade absoluta e aí daquele que discordar. Essas coisas minam o Evangelho transformando-o em mero produto religioso.
Tratei com a comunidade sobre os seguintes assuntos: 1). Confundimos cristianismo com legalismo; 2). Confundimos fidelidade a Deus com ativismo religioso; 3). Confundimos batismo com seguir a igreja. Esses temas, não sei na sua igreja, mas aqui, e creio que em muitas, existem distorções, confusão em torno de algo que foi desvirtuado.
Confundimos cristianismo com legalismo: o legalismo é aquela ideia de que no final das contas o que salva mesmo é o comportamento. É comum na comunidade de fé julgar uma pessoa pelo seu comportamento e dizer se ela tem ou não uma experiência com Deus a partir disso. Em geral o legalista se gloria de suas ações e avalia o outro a partir da sua maneira de ser. Como isso é comum em nossas igrejas, às pessoas rotulam umas as outras a partir do que fazem. Muitas se assemelham com a parábola de Lucas 18,10-14, o publicano se gloriando de ser, na sua perspectiva, melhor do que o cobrador de impostos. A liberdade que tanto o apóstolo Paulo coloca (Gl 5,1-4) é substituída por regras que “salvam” no entender de alguns. Confundem cristianismo com legalismo quando na verdade não há nem mesmo paridade.
Confundimos fidelidade a Deus com ativismo religioso: um primeiro erro é a confusão que se faz com Templo/Igreja. As pessoas dizem ir à igreja e não ao templo. Uma vez que igreja são pessoas que se reúnem no templo. A nossa cultura, contrariando o NT, viu templo/igreja como morada de Deus, uma herança do catolicismo – é por isso que o fiel católico quando passa na frente de um templo ele logo faz o sinal da cruz, outros tiram o chapéu, sinal de respeito por entender que Deus está ali. Nós não temos isso, sinal da cruz, mas muitas pessoas idolatram o templo. Não pode mexer na mobília, por exemplo. Conheço um pastor que ousou tirar uma mesa do centro do templo e quase deixou o ministério por conta disso! Com essa confusão, há pessoas que entendem que ir ao templo/igreja é sinal de fidelidade a Deus, e aqueles que faltam aos cultos são relapsos e descompromissados e, até mesmo, nem mesmo são cristãos! Cria-se uma cobrança e um julgamento para com os infrequentes. No NT não havia templos, a igreja se reunia em casas (Rm. 16, 5; 1Co. 16, 19). Quando a fidelidade a Deus não passa pela vida, mas pelo templo, temos um problema.
Confundimos batismo com seguir a igreja: o batismo deixou de ser aquilo que Paulo fala em Romanos 6 de que ele significa participação na morte e ressurreição de Cristo e passa a ser o meio pelo qual filtra e identifica alguém como pertencente a igreja, ou seja, o batismo não salva, mas para a igreja sim. Antes do batismo o frequentador comete pecados, não há problemas, a igreja não se sente responsabilizada por ele, mas se ele for batizado aí há um problema, porque agora ele é membro da igreja. O batismo deixa de ser a marca do discipulado e passa a ser a marca da igreja; a marca da adesão as suas regras e doutrinas.
Esses temas precisam passar por revisões, do contrário estaremos contribuindo para que mais pessoas cometam a mesma confusão. Cristianismo nunca foi um pacote de regras e normas, mas fé em Cristo e como consequência uma novidade de vida. Tanto o AT como o NT fala do mero ativismo religioso sem a motivação correta. Não dá mais para tolerar em nossas comunidades pessoas que se acham melhores que outras porque desempenha diversas funções.
A comunidade de fé é feita de pessoas com seus defeitos e qualidades. Há fortes e fracos, como diz Paulo, mas todos queridos e amados por Deus em Cristo Jesus.
Aqui na Memorial em Iporanga tratei durante um mês sobre as dificuldades do nosso jeito de ser cristão. Aquelas questões que todo mundo ouve, acredita que é o correto passa para frente como verdade absoluta e aí daquele que discordar. Essas coisas minam o Evangelho transformando-o em mero produto religioso.
Tratei com a comunidade sobre os seguintes assuntos: 1). Confundimos cristianismo com legalismo; 2). Confundimos fidelidade a Deus com ativismo religioso; 3). Confundimos batismo com seguir a igreja. Esses temas, não sei na sua igreja, mas aqui, e creio que em muitas, existem distorções, confusão em torno de algo que foi desvirtuado.
Confundimos cristianismo com legalismo: o legalismo é aquela ideia de que no final das contas o que salva mesmo é o comportamento. É comum na comunidade de fé julgar uma pessoa pelo seu comportamento e dizer se ela tem ou não uma experiência com Deus a partir disso. Em geral o legalista se gloria de suas ações e avalia o outro a partir da sua maneira de ser. Como isso é comum em nossas igrejas, às pessoas rotulam umas as outras a partir do que fazem. Muitas se assemelham com a parábola de Lucas 18,10-14, o publicano se gloriando de ser, na sua perspectiva, melhor do que o cobrador de impostos. A liberdade que tanto o apóstolo Paulo coloca (Gl 5,1-4) é substituída por regras que “salvam” no entender de alguns. Confundem cristianismo com legalismo quando na verdade não há nem mesmo paridade.
Confundimos fidelidade a Deus com ativismo religioso: um primeiro erro é a confusão que se faz com Templo/Igreja. As pessoas dizem ir à igreja e não ao templo. Uma vez que igreja são pessoas que se reúnem no templo. A nossa cultura, contrariando o NT, viu templo/igreja como morada de Deus, uma herança do catolicismo – é por isso que o fiel católico quando passa na frente de um templo ele logo faz o sinal da cruz, outros tiram o chapéu, sinal de respeito por entender que Deus está ali. Nós não temos isso, sinal da cruz, mas muitas pessoas idolatram o templo. Não pode mexer na mobília, por exemplo. Conheço um pastor que ousou tirar uma mesa do centro do templo e quase deixou o ministério por conta disso! Com essa confusão, há pessoas que entendem que ir ao templo/igreja é sinal de fidelidade a Deus, e aqueles que faltam aos cultos são relapsos e descompromissados e, até mesmo, nem mesmo são cristãos! Cria-se uma cobrança e um julgamento para com os infrequentes. No NT não havia templos, a igreja se reunia em casas (Rm. 16, 5; 1Co. 16, 19). Quando a fidelidade a Deus não passa pela vida, mas pelo templo, temos um problema.
Confundimos batismo com seguir a igreja: o batismo deixou de ser aquilo que Paulo fala em Romanos 6 de que ele significa participação na morte e ressurreição de Cristo e passa a ser o meio pelo qual filtra e identifica alguém como pertencente a igreja, ou seja, o batismo não salva, mas para a igreja sim. Antes do batismo o frequentador comete pecados, não há problemas, a igreja não se sente responsabilizada por ele, mas se ele for batizado aí há um problema, porque agora ele é membro da igreja. O batismo deixa de ser a marca do discipulado e passa a ser a marca da igreja; a marca da adesão as suas regras e doutrinas.
Esses temas precisam passar por revisões, do contrário estaremos contribuindo para que mais pessoas cometam a mesma confusão. Cristianismo nunca foi um pacote de regras e normas, mas fé em Cristo e como consequência uma novidade de vida. Tanto o AT como o NT fala do mero ativismo religioso sem a motivação correta. Não dá mais para tolerar em nossas comunidades pessoas que se acham melhores que outras porque desempenha diversas funções.
A comunidade de fé é feita de pessoas com seus defeitos e qualidades. Há fortes e fracos, como diz Paulo, mas todos queridos e amados por Deus em Cristo Jesus.
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