4.3.11

AS DIFICULDADES DO NOSSO JEITO DE SER CRISTÃO

É impressionante como algumas ideias, alguns conceitos e comportamentos surgem na comunidade de fé que, na sua grande maioria, não tem fundamento bíblico e até mesmo sensato! São coisas que passam de pais para filhos, que se ouve de púlpitos, onde o pregador está mais interessado em proferir o que não se deve fazer do que acentuar a graça de Deus e seu amor. Com um discurso carregado de moralismo e pedantismo, pregadores, ao invés de pregar algo que seja bíblico e ensine o povo, prega sobre comportamentos e autoflagelo como meio de uma espiritualidade sadia. Isso é horrível! O povo vai tendo e nutrindo algumas ideias que chegam a ser absurdas.

Aqui na Memorial em Iporanga tratei durante um mês sobre as dificuldades do nosso jeito de ser cristão. Aquelas questões que todo mundo ouve, acredita que é o correto passa para frente como verdade absoluta e aí daquele que discordar. Essas coisas minam o Evangelho transformando-o em mero produto religioso.

Tratei com a comunidade sobre os seguintes assuntos: 1). Confundimos cristianismo com legalismo; 2). Confundimos fidelidade a Deus com ativismo religioso; 3). Confundimos batismo com seguir a igreja. Esses temas, não sei na sua igreja, mas aqui, e creio que em muitas, existem distorções, confusão em torno de algo que foi desvirtuado.

Confundimos cristianismo com legalismo: o legalismo é aquela ideia de que no final das contas o que salva mesmo é o comportamento. É comum na comunidade de fé julgar uma pessoa pelo seu comportamento e dizer se ela tem ou não uma experiência com Deus a partir disso. Em geral o legalista se gloria de suas ações e avalia o outro a partir da sua maneira de ser. Como isso é comum em nossas igrejas, às pessoas rotulam umas as outras a partir do que fazem. Muitas se assemelham com a parábola de Lucas 18,10-14, o publicano se gloriando de ser, na sua perspectiva, melhor do que o cobrador de impostos. A liberdade que tanto o apóstolo Paulo coloca (Gl 5,1-4) é substituída por regras que “salvam” no entender de alguns. Confundem cristianismo com legalismo quando na verdade não há nem mesmo paridade.

Confundimos fidelidade a Deus com ativismo religioso: um primeiro erro é a confusão que se faz com Templo/Igreja. As pessoas dizem ir à igreja e não ao templo. Uma vez que igreja são pessoas que se reúnem no templo. A nossa cultura, contrariando o NT, viu templo/igreja como morada de Deus, uma herança do catolicismo – é por isso que o fiel católico quando passa na frente de um templo ele logo faz o sinal da cruz, outros tiram o chapéu, sinal de respeito por entender que Deus está ali. Nós não temos isso, sinal da cruz, mas muitas pessoas idolatram o templo. Não pode mexer na mobília, por exemplo. Conheço um pastor que ousou tirar uma mesa do centro do templo e quase deixou o ministério por conta disso! Com essa confusão, há pessoas que entendem que ir ao templo/igreja é sinal de fidelidade a Deus, e aqueles que faltam aos cultos são relapsos e descompromissados e, até mesmo, nem mesmo são cristãos! Cria-se uma cobrança e um julgamento para com os infrequentes. No NT não havia templos, a igreja se reunia em casas (Rm. 16, 5; 1Co. 16, 19). Quando a fidelidade a Deus não passa pela vida, mas pelo templo, temos um problema.

Confundimos batismo com seguir a igreja: o batismo deixou de ser aquilo que Paulo fala em Romanos 6 de que ele significa participação na morte e ressurreição de Cristo e passa a ser o meio pelo qual filtra e identifica alguém como pertencente a igreja, ou seja, o batismo não salva, mas para a igreja sim. Antes do batismo o frequentador comete pecados, não há problemas, a igreja não se sente responsabilizada por ele, mas se ele for batizado aí há um problema, porque agora ele é membro da igreja. O batismo deixa de ser a marca do discipulado e passa a ser a marca da igreja; a marca da adesão as suas regras e doutrinas.

Esses temas precisam passar por revisões, do contrário estaremos contribuindo para que mais pessoas cometam a mesma confusão. Cristianismo nunca foi um pacote de regras e normas, mas fé em Cristo e como consequência uma novidade de vida. Tanto o AT como o NT fala do mero ativismo religioso sem a motivação correta. Não dá mais para tolerar em nossas comunidades pessoas que se acham melhores que outras porque desempenha diversas funções.

A comunidade de fé é feita de pessoas com seus defeitos e qualidades. Há fortes e fracos, como diz Paulo, mas todos queridos e amados por Deus em Cristo Jesus.

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