23.8.11

OS EVANGÉLICOS “GENÉRICOS”

Recentemente, dia 15 de Agosto, a Folha de S. Paulo divulgou uma pesquisa feita pela POF – Pesquisa de Orçamento Familiar – sobre o declínio acelerado de uma denominação neopentecostal. No período de 2003 a 2009 ela perdeu 24% do total de seus fiéis.

Os fatores são muitos, mas os principais são: o surgimento de dissidências religiosas, entre os próprios neopentecostais, além do fortalecimento das já existentes; o aumento do número de “evangélicos genéricos”. A antropóloga Regina Novaes disse que esses “evangélicos genéricos” assemelham-se aos católicos não praticantes. “Eles usufruem de rituais de serviços religiosos, mas se sentem livres para ir e vir (de uma igreja para outra)”, disse ela à Folha de S. Paulo.

Os "genéricos" são crentes que não se sentem presos a nenhuma igreja e podem frequentar ao mesmo tempo duas ou mais denominações.

No mesmo período, de acordo com a POF, esses evangélicos aumentaram de 4% para 14%, atingindo quase todas as denominações. Em 6 anos, 5 milhões de evangélicos deixaram de ter vínculo com igreja.

Esse fenômeno esta tomando proporções agora no Brasil. Em países da Europa e nos EUA, o movimento dos “sem-igreja” já é um fato mais que concreto. É só olhar os títulos de livros publicados aqui que tratam desse tema por lá como, por exemplo, o de Wayne Jacobsen e Dave Coleman – Por que você não quer ir mais à igreja? (Editora Sextante). É um texto que procura encontrar a dimensão originaria do cristianismo e questiona a estrutura eclesiástica como forma de ensinar a espiritualidade. Outro é de Brian McLaren – Uma ortodoxia generosa (Editora Palavra), onde ele propõe uma revisão no que a igreja chama de dogmas, doutrinas. David N. Elkins com o seu Além da religião (Editora Pensamento), é um decepcionado com o sistema religioso herdado dos pais. Como pastor experimentou algumas frustrações. A temática do livro dele é a separação entre Espiritualidade e Religião. Para Elkins, o desenvolvimento espiritual não tem qualquer relação com práticas, ritos e costumes de uma religião, mas com o milagre da vida. Um erro que o autor aponta, e que é tão comum em nossas comunidades, é associar a vida espiritual/espiritualidade com o ir à “igreja”.

No mesmo caminho esta o livro do brasileiro Paulo Brabo com o seu A bacia das almas (Editora Mundo Cristão). Com textos provocantes e contextualizados, Brabo questiona a maneira equivocada da igreja/instituição entender/entendeu a mensagem de Jesus. Ele pontua de que é possível separar Jesus da Bíblia e da igreja. Um cristianismo sem nenhum contato com as regras e a batuta da igreja/instituição.

A pesquisa do POF demonstra aquilo que já sabíamos: as pessoas hoje aderem a uma religião, seita ou movimento não mais por sua doutrina, aliás, isso foi há muito tempo, mas por seu preenchimento existencial. Dado interessante é que cresce o número de evangélicos “genéricos” e, ao mesmo tempo na cidade de São Paulo, por exemplo, o Budismo tem tido um crescimento significativo, principalmente entre a classe média. No Brasil, a hegemonia cultural religiosa já deixou de ser católica há décadas, mas há outras vertentes religiosas que estão conquistando espaço, inclusive o islamismo. Enquanto isso o protestantismo está discutindo assuntos totalmente irrelevantes para o atual contexto religioso no país. Parece que não estamos preparados para discutir o que chamo de “democratização religiosa”. Alguns ainda não se deram conta de que não há mais espaço para o proselitismo baseado no medo e na dor (embora esse imaginário ainda reine no interior do país).

As igrejas neopentecostais estão favorecendo a proliferação dos evangélicos “genéricos”, principalmente quando transformam o templo religioso em uma “agência” de cura divina e banco financeiro espiritual. Hoje há um grande trânsito religioso, um verdadeiro supermercado, por conta dessas denominações. Pessoas tem uma agenda semanal para participar de eventos dos mais esdrúxulos possíveis. Por outro lado, o protestantismo favorece quando nossas preocupações são triviais e supérfluas e quando pregamos uma espiritualidade baseada no fazer e não no ser, na moralidade e não nos princípios. O evangélico “genérico” não suporta mais um moralismo farisaico e sadomasoquista que alguns chamam de vida cristã. Eles preferem transitar a ficarem presos em uma denominação específica.

2.8.11

SERÁ QUE SOU PESSIMISTA?

Antes de começar os meus devaneios, é bom que se diga que não sou partidário do segmento filosófico conhecido como pessimismo tendo nomes importantes como A. Schopenhauer e F. Nietzsche. O pessimismo, que se opõe ao otimismo (ideia de que a realidade é boa, o bem sempre prevalece sobre o mal), é uma visão negativa das coisas, esperando sempre que o pior aconteça. É uma atitude de espírito que acredita ser impossível mudar as coisas para melhor. Contrariando um livro do filósofo Luiz Felipe Pondé, Contra um mundo melhor (São Paulo: Leya, 2010) onde ele destila todo o seu pessimismo, eu preciso torcer, contribuir, não com o mundo, mas com essa sociedade aqui por melhores condições de vida, mas isso por conta de Cristo e os valores do reino de Deus. Do contrário se olharmos para as coisas que se sucedem é para deixar qualquer um pessimista mesmo, e é sobre isso que quero falar.

Observo apenas algumas coisas, sem a pretensão de ser exaustivo na análise, mas lacônico mesmo. Com certeza não sou o único que se sente irritado, enojado, com o conteúdo televisivo por exemplo. É uma verdadeira era da babaquice, do culto a vulgaridade. Quem suporta ver um punhado de “artistas/celebridades” que precisam ser notadas novamente porque a grande mídia esqueceu o seu nome, num programa de TV onde as conversas não tem nenhum conteúdo útil! Fico com o escritor Nelson Rodrigues aqui: nossa época está dominada de idiotas e eles são a maioria, infelizmente. Na verdade a TV está sendo cada vez mais democratizada, é até bonito de dizer isso, por conta disso é que vemos com mais intensidade algumas coisas que ofendem, agridem a nossa inteligência. As novelas, na sua maioria, servem de anestésico para a massa se esquecer de que os políticos, que nem mesmo muitos se recordam o nome, estão arruinando o que já está ruim, é o caso do Ministério dos Transportes superfaturando obras e enquanto isso as estradas em péssimas condições continuam tirando vidas. A grande mídia está a todo o momento dizendo em que devemos acreditar; o que devemos sentir; o que devemos comprar; quem devemos amar.

Num retrato da nossa sociedade, o filosofo francês J. Baudrillard coloca o consumo como um dos principais fatores para o aprisionamento do ser humano num universo de significações simbólicas relacionadas ao poder de compra onde a pessoa passa a viver em uma sociedade marcada pela insensatez. Isso ocorre porque o universo que dá sentido é o comprar e comprar. Antes, com a modernidade, era “penso, logo existo”, hoje é “compro, logo existo”. Diz se não é insensata a ideia de que dinheiro e felicidade são sinônimos? Não seria insensatez afirmar que o processo de globalização ajudou as pessoas a viver melhor? Há maior insensatez do que esta: ganhar dinheiro maltratando a natureza?

Não sei se estou sendo fatalista demais. Mas custo a acreditar que a educação pode dar jeito em alguma coisa, principalmente quando ela é pensada no seu estágio final, a universidade, e não nas primeiras séries do ensino fundamental. Isso porque, em sala de aula, apenas alguns alunos valem a pena; a globalização continua empobrecendo a muitos; as pessoas já não esperam dignidade dos políticos; na TV nem mesmo os programas tidos como “evangélicos” não disfarçam a vinculação religião-mercado; as pessoas querem ganhar dinheiro a qualquer custo e para isso superfaturam obras, vendem habeas corpus; numa sociedade em que a novela, o carnaval e o futebol são a trilogia perfeita para domesticar a população, sinceramente não vejo mudanças nesse cenário.

Não sei se sou pessimista, mas não vejo motivo para ficar otimista também (é claro, a partir de uma leitura generalizante, porque não há dúvidas de que haja motivos para ser otimista com a vida de algumas pessoas). Conforme J-F. Lyotard (filosofo francês), este é um tempo marcado pela ausência de crenças, onde os fundamentos simbólicos que dão certo sentido à história são estabelecidos pelo progresso tecnológico e cientifico e as novidades cibernéticas modificam a vida das pessoas.

Esperanças? Há muitas, mas não para nós (Franz Kafka).