2.8.11

SERÁ QUE SOU PESSIMISTA?

Antes de começar os meus devaneios, é bom que se diga que não sou partidário do segmento filosófico conhecido como pessimismo tendo nomes importantes como A. Schopenhauer e F. Nietzsche. O pessimismo, que se opõe ao otimismo (ideia de que a realidade é boa, o bem sempre prevalece sobre o mal), é uma visão negativa das coisas, esperando sempre que o pior aconteça. É uma atitude de espírito que acredita ser impossível mudar as coisas para melhor. Contrariando um livro do filósofo Luiz Felipe Pondé, Contra um mundo melhor (São Paulo: Leya, 2010) onde ele destila todo o seu pessimismo, eu preciso torcer, contribuir, não com o mundo, mas com essa sociedade aqui por melhores condições de vida, mas isso por conta de Cristo e os valores do reino de Deus. Do contrário se olharmos para as coisas que se sucedem é para deixar qualquer um pessimista mesmo, e é sobre isso que quero falar.

Observo apenas algumas coisas, sem a pretensão de ser exaustivo na análise, mas lacônico mesmo. Com certeza não sou o único que se sente irritado, enojado, com o conteúdo televisivo por exemplo. É uma verdadeira era da babaquice, do culto a vulgaridade. Quem suporta ver um punhado de “artistas/celebridades” que precisam ser notadas novamente porque a grande mídia esqueceu o seu nome, num programa de TV onde as conversas não tem nenhum conteúdo útil! Fico com o escritor Nelson Rodrigues aqui: nossa época está dominada de idiotas e eles são a maioria, infelizmente. Na verdade a TV está sendo cada vez mais democratizada, é até bonito de dizer isso, por conta disso é que vemos com mais intensidade algumas coisas que ofendem, agridem a nossa inteligência. As novelas, na sua maioria, servem de anestésico para a massa se esquecer de que os políticos, que nem mesmo muitos se recordam o nome, estão arruinando o que já está ruim, é o caso do Ministério dos Transportes superfaturando obras e enquanto isso as estradas em péssimas condições continuam tirando vidas. A grande mídia está a todo o momento dizendo em que devemos acreditar; o que devemos sentir; o que devemos comprar; quem devemos amar.

Num retrato da nossa sociedade, o filosofo francês J. Baudrillard coloca o consumo como um dos principais fatores para o aprisionamento do ser humano num universo de significações simbólicas relacionadas ao poder de compra onde a pessoa passa a viver em uma sociedade marcada pela insensatez. Isso ocorre porque o universo que dá sentido é o comprar e comprar. Antes, com a modernidade, era “penso, logo existo”, hoje é “compro, logo existo”. Diz se não é insensata a ideia de que dinheiro e felicidade são sinônimos? Não seria insensatez afirmar que o processo de globalização ajudou as pessoas a viver melhor? Há maior insensatez do que esta: ganhar dinheiro maltratando a natureza?

Não sei se estou sendo fatalista demais. Mas custo a acreditar que a educação pode dar jeito em alguma coisa, principalmente quando ela é pensada no seu estágio final, a universidade, e não nas primeiras séries do ensino fundamental. Isso porque, em sala de aula, apenas alguns alunos valem a pena; a globalização continua empobrecendo a muitos; as pessoas já não esperam dignidade dos políticos; na TV nem mesmo os programas tidos como “evangélicos” não disfarçam a vinculação religião-mercado; as pessoas querem ganhar dinheiro a qualquer custo e para isso superfaturam obras, vendem habeas corpus; numa sociedade em que a novela, o carnaval e o futebol são a trilogia perfeita para domesticar a população, sinceramente não vejo mudanças nesse cenário.

Não sei se sou pessimista, mas não vejo motivo para ficar otimista também (é claro, a partir de uma leitura generalizante, porque não há dúvidas de que haja motivos para ser otimista com a vida de algumas pessoas). Conforme J-F. Lyotard (filosofo francês), este é um tempo marcado pela ausência de crenças, onde os fundamentos simbólicos que dão certo sentido à história são estabelecidos pelo progresso tecnológico e cientifico e as novidades cibernéticas modificam a vida das pessoas.

Esperanças? Há muitas, mas não para nós (Franz Kafka).

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