6.12.12

PLURALIDADE COMO ELEMENTO DE UNIDADE: O CASO DOS BATISTAS

A pluralidade é um paradigma da cultura pós-moderna. A capacidade de aglutinar a diversidade e o diferente é uma característica do comportamento da sociedade que tem como marca a secularização, ou seja, não há uma hegemonia de raciocínio ou força mobilizadora única. Segundo Peter Berger houve o fim do monopólio religioso e ideológico. Neste sentido então, o pluralismo torna-se um princípio para o diálogo a partir da alteridade, ou seja, olhar o outro com suas convicções e tradições e estabelecer uma relação fraterna e respeitosa ao ponto de um mútuo enriquecimento. Isso é possível, segundo Claude Geffré, por ser o pluralismo um paradigma teológico.

Por esses dias tivemos mais uma oportunidade de vivenciar um diálogo fraterno e cordial entre a Aliança Batista Mundial (ABM), representada por Timothy George, deão da Beeson Divinity School, da Universidade de Stamford, em Birmingham, estado do Alabama, EUA, e presidente da Comissão de Doutrina e União Cristã da Aliança Batista Mundial, que participou de um sínodo no Vaticano, e foi recebido pelo Papa Bento XVI.

Na recepção à delegação da ABM, Bento XVI se dirige aos batistas da seguinte maneira:

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Queridos amigos:

Dou-vos minhas cordiais boas-vindas, membros da comissão internacional patrocinada pela Aliança Mundial Batista e pelo Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos. Agrada-me que tenhais escolhido como lugar para vosso encontro esta cidade de Roma, onde os apóstolos Pedro e Paulo proclamaram o Evangelho e coroaram seu testemunho do Senhor ressuscitado derramando seu sangue. Espero que vossas conversas tragam abundantes frutos para o progresso do diálogo e o crescimento do entendimento e da cooperação entre católicos e batistas.

O tema que haveis escolhido para esta fase de contatos, «A Palavra de Deus na vida da Igreja: Escritura, Tradição e Koinonia», oferece um contexto promissor para examinar estas questões historicamente controvertidas, como a relação entre Escritura e Tradição, a compreensão do Batismo e dos sacramentos, o lugar de Maria na comunhão da Igreja e a natureza do primado na estrutura ministerial da Igreja.

Para conseguir nossa esperança de reconciliação e uma maior fraternidade entre batistas e católicos, é necessário enfrentar juntos temas como estes, com um espírito de abertura, respeito recíproco e fidelidade à verdade libertadora e ao poder salvador do Evangelho de Jesus Cristo.

Como crentes em Cristo, nós o reconhecemos como o único mediador entre Deus e a humanidade (1 Timóteo 2, 5), nosso Salvador, nosso Redentor. Ele é a pedra angular (Efésios 2, 21; 1 Pedro 2:4-8); e a cabeça do corpo, que é a Igreja (Colossenses 1, 18). Neste período do Advento, atendemos sua vinda em espera e oração. Hoje o mundo precisa mais que nunca de nosso testemunho comum de Cristo e da esperança trazida pelo Evangelho. A obediência à vontade do Senhor nos estimula constantemente a alcançar essa unidade tão emotivamente expressa em sua oração sacerdotal: «Que todos sejam um... para que o mundo creia» (João 17, 21). A falta de unidade entre os cristãos «contradiz abertamente a vontade de Cristo, e é escândalo para o mundo, como também prejudica a santíssima causa da pregação do Evangelho a toda a criatura».

Queridos amigos, eu vos transmito meus melhores desejos e vos asseguro minhas orações para a importante obra que empreendestes. Invoco os dons do Espírito Santo de sabedoria, entendimento, força e paz sobre vossas conversas, sobre cada um de vós e sobre vossos entes queridos.

Traduzido por Élison Santos

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O batista norte-americano tem alguns textos publicados no Brasil sendo o principal deles Teologia dos reformadores (Vida Nova). Um estudioso das religiões, Timothy George salientou no encontro que os “bVisite: Gospel +, Noticias Gospel, Videos Gospel, Musica Gospelatistas e católicos divergem em temas teológicos e eclesiásticos, mas estão comprometidos em buscar maior entendimento mútuo através de um processo de diálogo amoroso e respeitoso”.

O encontro pontuou questões de evangelização e a capacidade de diálogo, além de alertar para a necessidade de olhar para países onde a liberdade religiosa (um dos principais princípios dos batistas) está sendo cerceada por autoridades e governos autoritários. Sobre a evangelização o teólogo batista completou de que todos os batistas confessam uma “fé vigorosa no único Deus trino, que em sua grande misericórdia e amor nos fez participantes da sua vida divina através de Jesus Cristo, o grande evangelizador, que nos salvou somente por sua graça”.

O ecumenismo sempre fez parte da agenda da ABM. Os batistas, de um modo geral, sempre preservaram a relação ecumênica, principalmente na Europa. Há, inclusive, no Conselho Mundial de Igrejas (CMI), batistas. O mesmo não ocorre no país de Timothy George. A Convenção Batista do Sul dos EUA, uma das maiores do mundo, por diversas vezes, recusou convites para fazer parte do CMI e da própria ABM.

Os batistas deveriam ser os principais a protagonizar o diálogo ecumênico exatamente por conta de seus princípios. Como lembra muito bem Zaqueu Moreira de Oliveira, o diálogo é possível desde que os princípios não sejam feridos.

A pluralidade é um elemento de unidade porque permite aos batistas, por não serem tutelados por nenhum segmento eclesiástico ou denominacional, pensar diferente e poder construir caminhos com outros irmãos.

1.12.12

“DEUS CONOSCO” – A MENSAGEM DO NATAL

É Natal.

Recitais são preparados; pessoas ganham presentes; crianças ficam felizes. Toda essa dinâmica nós já conhecemos. O Ocidente se especializou em transformar tudo em dinheiro, desde sexo até a religião.

De fato é lindo este tempo. As pessoas ficam mais solicitas, mais amigáveis, embora tenha alguns seres humanos que em época nenhuma fica amigável, mas de um modo geral as pessoas procuram se entender umas com as outras. Isso é o que eles chamam por aí de “a magia do natal”.

Para o Cristianismo o Natal é um símbolo de “encarnação”. É dizer que Deus se fez “carne quente e mortal” (L. Boff) e armou acampamento entre nós (Jo 1,14).  

No texto de Mateus 1,23 diz que ele seria chamado de Emanuel, ou seja, o “Deus conosco”. A presença de Jesus no evangelho de Mateus é sentida no início, o nascimento de Jesus, no meio quando se reúne dois ou três em seu nome e no fim quando diz: “eis que estou convosco todos os dias”. É uma cristologia emanuélica. É uma cristologia da presença efetiva de Jesus no meio da comunidade de fé.

Assim como o evangelho de João e o evangelho de Mateus acentuam a presença de Jesus no meio do povo. Tanto num quanto noutro, o ponto é a “encarnação”. Ele entra em nossas vidas e nunca mais se retira. A história já não é apenas conhecida pela Trindade, mas agora experimentada pela comunidade trinitária.

O que a maioria das pessoas que frequentam igreja fez com essa realidade espiritual?

Não presenciamos uma cristologia na comunidade que trate Jesus como aquele que está perto, que está no meio. Suas palavras são ignoradas pela maioria das pessoas na igreja. Ora-se em seu nome, canta-se em seu nome, mas não agem como ele agiu, não procura as pessoas que ele procurou, não valoriza o ser humano como ele valorizou. Em resumo, presenciamos um “Jesus esquizofrênico”. Ele não é real. As relações pessoais não passam pelo crivo de seus ensinamentos. É um “Cristo” transcendente. É um “Cristo” que tem prazer na disciplina. É um “Cristo” que não se importa muito com os fracos e carentes da comunidade de fé. Não há uma relação consciente de que ele, Jesus de Nazaré, está presente como o Emanuel no meio da igreja.

Natal não pode ser apenas festa e troca de presentes. Natal precisa acentuar um Cristo presente que olha para o ser humano na sua integralidade. Natal é tenda entre nós; Natal é o Emanuel com a igreja.