22.7.17

VAMOS BEBER!

Estavam atentos ao tema abordado. O assunto? Bem, falávamos de como os evangelhos apresentam um Jesus que tem a missão de subverter, de desdizer o que era dito, de suplantar a prédica estabelecida e inverter lógicas de poder e subalternidade.

Por ser um grupo que se prepara para o símbolo do batismo, a abordagem dos textos não são exegeticamente precisas, até porquê esse não é o objetivo. O viés político e ideológico do texto, bem, esse não tem como ignorar.

Bom, na conversa chegamos ao texto de João 2,1-11. Jesus no casamento de Caná.

Chega uma hora que a palavra “metáfora” surge para falar dos temas que o texto aborda.

Na conversa sobre o texto, a pergunta aparece:

- Quando usamos a palavra “metáfora” quer dizer que o texto tem mais do que está aí? É isso?

Com certeza! (Imagine a minha alegria quando alguém consegue enxergar no texto o que não está patente, mas nas entrelinhas, como um tear que entrelaça as linhas e os fios, mas no fim o tecido está ali).

“Na linguagem usamos metáforas para uma relação de semelhança entre dois termos. Quando fazemos um caminho de transposição de sentidos”. (Lembrei-me de Ricoeur e o seu texto Metáfora viva).

Assim, o evangelho de João é uma construção textual em que os “milagres” são sinais e esses sinais (metáforas) querem dizer algo mais do que está sendo dito (texto) ali. O sinal indica o ponto de vista humano no qual a atenção está voltada não tanto para o milagre em si, mas para aquilo que é revelado para quem consegue enxergar mais longe.

O evangelho de João surge em meio às dificuldades de uma gente que quer vivenciar o amor; que tem uma liderança que prioriza a fraternidade; as relações de poder são diminuídas, surgindo o serviço ao outro como demonstração de cuidado.

A narrativa do casamento é o primeiro sinal. É uma narrativa que procura construir uma comunidade solidária e sensível às pessoas.

O casamento era representativo para o povo de Deus (Israel). Era um sinal entre o povo e Deus.

Quando em um casamento falta o vinho, era como um aniversário faltar o bolo.

A falta do vinho (ter acabado), pode ser uma referência à falta de amor; a incapacidade de realizar a partilha e a solidariedade.

Faltar o vinho é dizer que o sistema, baseado na Lei, deixou de ter a sua alegria; não cumpre mais aquilo que Deus deseja.

O amor (vinho) foi substituído pela Lei. “Eles” tornaram a relação com Deus em outra coisa que não combina com a alegria e a celebração. Algo que dizia apenas às regras e o velho e rotineiro jeito de fazer as coisas.

Vamos beber!

As talhas, coloquem água.

- Jesus, as talhas servem para a purificação!

Coloquem água nelas...

No lugar da purificação vem o vinho (amor). E do melhor ainda!

Se mais alguém chegar na festa, antes de procurar se purificar – por estar na rua e ser um lugar impuro – irá beber o melhor vinho da festa.

O nosso texto ganhou sentido naquela noite. A poesia superou a prosa. Não é o literalismo do texto, é para além dele...

Uma noite boa, em volta do evangelho e um sentido de comunidade surgindo e sendo maturado.

A vida em comunidade deveria ser assim. Quando se chega não há talhas para a purificação, há vinho para a celebração.

Não são as regras e a Lei que garantem o relacionamento amoroso com Deus, é o amor e a alegria.

11.7.17

O "CRISTÃO FAKE"

Ah sim. Agora é “moda”.

Já ouvi, inclusive, em discursos acadêmicos. Mas ela é bem usada nas Redes Sociais.

A palavra fake (inglês) significa falso ou falsificação. E pode ser colocada para uma pessoa, um objeto ou qualquer ato que não seja autêntico.

Nas Redes Sociais, a palavra é muito utilizada para dizer que alguém (supostamente), está usando um perfil fake, ou seja, algo “falso” ou, prefiro essa definição, “inautêntico”. Em outras palavras, o fake se dá quando alguém quer ocultar sua “verdadeira” identidade – não sei se isso é possível na Internet, a identidade, principalmente quando se leva em consideração que o ambiente virtual é híbrido. De qualquer forma, há diversos perfis fakes espalhados pela Rede, principalmente em fóruns de debate e Redes Sociais.

A palavra, sendo polissêmica, saiu das Redes Sociais e ganhou o “universo gospel”, para usar outra palavra fake. Assim, se fala agora em “púlpito fake”, ou seja, quando o pregador faz um Ctrl+C mais um Ctrl+V e coloca diante da comunidade um “sermão fake”.

A questão é que não há apenas o “púlpito fake” ou o “sermão fake”, há também o “irmão fake”. Quando na sua comunidade ele é fake. Não no sentido falso quando se contrapõe ao verdadeiro (também), mas no sentido de autenticidade e inautenticidade. Não é autêntico enquanto cristão e as consequências desse compromisso de fé.

No Novo Testamento o Evangelho de Mateus (capítulo 7), irá dizer que pelos frutos se conhece a árvore, sendo improvável que árvore má dê fruto bom. Em Tito (1,16), há um texto mais claro sobre os fakes na caminhada cristã – “professam conhecer a Deus, mas negam-no pelas suas obras”. É gente que diz uma coisa, mas faz outra, ou melhor, não faz.

O tal do “cristão fake” é engraçado até...

Ele geralmente vê defeitos naquilo que os outros fazem e quando tem oportunidade não deixa de dizer o que é preciso fazer. É incrível, mas os “cristãos fakes” não costumam atender aos desafios colocados pela comunidade. É gente de corpo presente, quando está presente, mas não são autênticos enquanto seguidores do Nazareno. É como o texto de Tito 1,16 diz, é gente que sabe falar de Deus, da Bíblia, citar versículo bíblico, canta bonito, mas negam o que Deus deseja com suas vidas e obras.

Não quero generalizar, mas é bem provável que toda a comunidade de fé tenha mais de uma dúzia de “cristãos fakes”.

A possibilidade de identificar suas “identidades” não é muito difícil...

Eles estão por aí, se vestem como os outros, sem nenhuma dificuldade. Falam a mesma linguagem e professam os mesmos nomes. Mas suas ações dizem bem quem são. Não são, geralmente, pessoas ruins, claro que não. São gente boa (alguns deles). Mas não espere contar com um “cristão fake”, ele, provavelmente, o deixará na mão.

Já ia esquecendo de dizer...

Se o leitor/a entender que esse texto foi direcionado propositalmente, é porque, provavelmente, o leitor/a possa ser um “cristão fake”. Mas se for e achar que não tem nada a ver o que leu, desconsidere, principalmente se não houver mais alguém com você lendo esse texto. No mais, continue assim, sendo fake, está na moda...