14.7.12

TEOLOGIA(S) PARA ESTE TEMPO – DUAS PERSPECTIVAS EM DEBATE

Observações quanto ao debate entre Jung Mo Sung e Franklin Ferreira

Com o advento da chamada pós-modernidade as mudanças passou a serem frequentes. A efemeridade das coisas, dos conceitos e ideologias se tornou um fato. A dinâmica das mudanças não dá conta nem mesmo para o processo de habituação. Com a globalização – fenômeno que norteia não apenas a economia – as questões religiosas foram colocadas na pauta das discussões. Nas observações de João Batista Libânio, somos chamados, falando como teólogos, a pensar essa realidade com relevância e honestidade. Na sua vasta bibliografia, Libânio aborda as implicações dos fenômenos globalização e secularização (este último mais presente na Europa e EUA, mas já perceptível na América Latina – e no Brasil, segundo dados do IBGE os “sem-religião” saltou entre 2000 a 2010 de 4,7% para 8%) procurando apontar prospectivas coerentes para este tempo. No caso dele, um teólogo católico-romano, a dificuldade é alinhar mudanças de paradigmas com a Tradição da Igreja. Suas análises são pertinentes principalmente para enxergar onde a demanda teológica precisa ser mais contundente. As conclusões de Libânio e outros pesquisadores do tema Teologia e Sociedade concluem que a base antropológica da nova (um termo de José Comblin) cultura é pluridimensional, ou seja, é um ser humano que tem na sua subjetividade um valor em si. Daí a razão não ser mais o único caminho para a felicidade (como na Modernidade), mas ser, dentre outras, mais uma possibilidade de leitura do mundo.

Quando entramos no segmento protestante vemos que persiste o mesmo problema – lidar com as mudanças deste tempo em suas diferentes áreas. Tanto católico-romanos quanto protestantes estão discutindo as linguagens da nova cultura que é dinâmica. Quanto aos católico-romanos há uma clara distinção entre progressistas e conservadores sendo patente em reuniões (como foi na Conferência de Aparecida) e publicações. Já no universo protestante – onde a unidade nunca foi o ponto central, é fragmentado por natureza – as questões hodiernas têm sido tema de livros, palestras e debates. Duas tendências estão evidentes – conservadores (identificados, por alguns, como fundamentalistas) e não conservadores (identificados, por alguns, como liberais).

Essas duas vertentes se dá, principalmente, nas publicações. A ala conservadora tem deixado bem claro que não há diálogo com a nova cultura, mas confronto. Daí o aumento de livros sendo traduzidos que tratam da apologética numa clara mensagem de que a nova cultura precisa ser combatida – aliás, um dos livros (Em guarda, Vida Nova) do apologeta mais traduzido no Brasil, William Lane Craig, tem na capa um homem segurando uma espada – é a dimensão da defesa e do ataque. Neste mesmo intento as teologias sistemáticas estão dando a sua contribuição, reafirmando doutrinas e práticas tendo como referenciais teóricos e metodológicos teólogos norte-americanos. As teologias sistemáticas sempre funcionaram como formadora da educação teológica no País em seminários e faculdades das denominações protestantes.

Tanto a apologética quanto as teologias sistemáticas procuram estabelecer fronteiras para se pensar os rumos da cultura e seus desdobramentos em diversas áreas. A reivindicação de ambas é a posse da verdade, como discurso legitimador da fé e sua prática.

Dentro desse tema, educação teológica e a concepção sobre verdade, uma discussão me chamou atenção há algumas semanas. Ela se deu a partir de dois textos. O primeiro é de Jung Mo Sung, docente na UMESP na área de Ciências da Religião – Educação teológica e missão – um texto que foi publicado no livro Missão e educação teológica (ASTE, São Paulo). O outro texto é uma reação ao texto de Sung do consultor acadêmico de Edições Vida Nova Franklin Ferreira – Educação teológica e missão: uma resposta ao artigo de Jung Mo Sung. O texto de Sung provocou a reação de Ferreira devido o uso da Teologia Sistemática que este último escreveu com Alan Myatt. Os pormenores aqui não são de interesse pelo espaço, mas o que chamou a atenção é a clara distinção de ideias e posturas frente aos desafios da nova cultura. Enquanto Sung procura trabalhar a partir da subjetividade – um paradigma pós-moderno –, Ferreira advoga o conceito de revelação e verdade a partir de uma leitura bíblica e agostiniana. Enquanto um (Sung) defende uma educação teológica inclinada para uma nova linguagem tendo como ponto a experiência, o outro (Ferreira) pontua a relação Bíblia, revelação e Jesus Cristo como sendo unívocas.

É uma discussão interessante. As duas perspectivas são antagônicas, enquanto uma (Sung) delineia uma postura de adequação e diálogo com uma realidade plural, a outra (Ferreira) se dá a partir da igreja alegando que “quando a igreja é reformada, a sociedade é modificada”.

Diante desse acalorado debate fica evidente de que há duas perspectivas quando se trata de dialogar Igreja e Sociedade. Venho propondo uma via, a Teologia Pública, como uma alternativa a este cenário.

3.7.12

“CRESCEI E MULTIPLICAI-VOS”: OBSERVAÇÕES QUANTO AO AUMENTO DOS “EVANGÉLICOS” NO PAÍS

O IBGE divulgou dados do último censo e nele os denominados evangélicos saltou de 15,4% da população brasileira em 2000 para 22,2% em 2010. Isso é bom! Que ótimo! Isso significa que os “evangélicos” logo serão maioria – comemoraram alguns.

Em outro texto, neste blog, justifiquei – antes mesmo de Ricardo Gondim – o meu distanciamento da nomenclatura evangélico por entender que ele não cabe mais como mediador de sentido.

Mas diante dos novos dados do IBGE, gostaria de tecer algumas considerações quanto às implicações do crescimento dos evangélicos no país. Embora saiba que há pouquíssimos leitores deste blog (nem todo mundo gosta de ler bobagens – risos) aponto algumas coisas que considero pertinentes para o debate.

- A igreja evangélica cresce sem maturidade espiritual. Não há uma preocupação com um crescimento significativo na vivência cristã e seus desdobramentos em cidadania. São poucos os evangélicos, por exemplo, que esmeram em conhecer a Bíblia. Há uma hermenêutica sendo produzida na televisão, onde pessoas acatam o que o pastor, bispo ou apóstolo televisivo falou como se fosse um fato inquestionável. A falta de maturidade levam pessoas a contribuir com seus bens para que um império, erguido em nome da fé, seja cada vez mais abastecido e possa continuar na concorrência com outras denominações. Essa prática é bem mais visível no segmento neopentecostal e ainda bem que o próprio IBGE já faz a diferença entre os segmentos dividindo católicos, protestantes (históricos), pentecostais e neopentecostais.

- Não há um entendimento de que a igreja tenha um papel missionário holístico para a sociedade brasileira. As denominações não entram em acordo quanto a isso. Enquanto um está preocupado em como arrebanhar empresários para as suas reuniões, outras estão em busca de promoção própria. Não há missão, sim competição; não há uma clara concepção missionária no sentido de evidenciar os valores do Reino de Deus na sociedade, há proselitismo.

- Esses números, infelizmente, irá abastecer o marketing de alguns personagens do cenário evangélico. Os números servirão para que a Rede Globo coloque mais personagens evangélicos em suas novelas e contrate o maior número possível de artísticas do mundo gospel para a sua gravadora, a Som Livre. Isso porque o Jesus gospel está em alta. Há um comércio altamente lucrativo usando a marca Jesus. É um Jesus de vitrine, onde as pessoas se relacionam com ele através dos produtos. O Jesus gospel é badalado; ele é aclamado; pula-se nos estádios por ele; compram-se inúmeros produtos dele; há marcas de roupa, cosméticos e até mesmo celulares dele. Não é discipulado. Não é seguimento do Reino. É um Jesus para curtir.

O número de evangélicos pode até ser superior em 2050, mas tenho as minhas dúvidas se teremos uma igreja nos moldes do Segundo Testamento (NT).