20.8.18

O MESSIANISMO EVANGÉLICO E A ORAÇÃO DE JOSUÉ VALANDRO JR.

Não é novidade que há pastores de Igrejas Batistas – uma Igreja Batista funciona como uma igreja local e autônoma; com um regime (para o bem ou para o mal) democrático na condução da vida eclesial, portanto, cada Igreja Batista responde por si mesma –, que estão envolvidos com figuras ilustres do processo político-jurídico nacional desde 2014 de forma acintosa.

Um dos notáveis procuradores da “Operação Lava Jato”, é membro de uma Igreja Batista. O senhor Deltan Dellagnol é blindado e colocado em lugares altos dentro da denominação, principalmente pelo seu pastor, L. Roberto Silvado, pastor da Igreja Batista de Bacacheri, em Curitiba/PR, da qual o procurador é membro e seu pastor, hoje, presidente da Convenção Batista Brasileira, a maior representação denominacional dos batistas no Brasil. No caso da votação no STF sobre a prisão ou não em segunda instância, Roberto Silvado fez um pronunciamento aos batistas brasileiros, pedindo oração e jejum para que o Supremo julgasse de maneira correta, ou seja, para que os ministros votassem à favor da prisão em segunda instância, visando tão somente a prisão do ex-presidente Lula.

Nas eleições de 2010, Paschoal Piragine Jr., da Primeira Igreja Batista em Curitiba, também emitiu sua opinião no púlpito de sua igreja contra a candidatura de Dilma Rousseff, apregoando nela a representante maior da corrupção no país, bem como os problemas morais.

Esses e outros fatos, demonstram que algumas lideranças batistas estão apoiando, abertamente, políticos e tomando parte em suas propostas político-partidárias e, assim como os irmãos pentecostais costumam fazer, está se configurando, cada vez mais, o tal “voto de cajado”; influenciando os membros a tomarem partido e escolhendo seus candidatos a partir da indicação ou voz “profética” do seu pastor.

No dia 19 de agosto de 2018, na Igreja Batista Atitude Central da Barra, no Rio de Janeiro/RJ, o pastor Josué Valandro Jr., presidente da igreja, chamou à frente o candidato do PSL à presidência da República, o deputado federal Jair Messias Bolsonaro. Sua intenção era orar pelo candidato, uma vez que a esposa do candidato é membro da referida igreja e, segundo o pastor, atuante na comunidade. Fazendo isso, Valandro Jr. sabe que irá se comprometer com o candidato e suas propostas. No seu discurso, divulgado em vídeo (veja aqui), é possível ver a tática do pastor em relação ao candidato. A porta de entrada para tal atitude, é chancelada pela chave “buscar a vontade de Deus”. Com essa chave hermenêutica, o pastor quer dizer que as eleições de 2018 estão abertas, ou seja, a nação está esperando que a “vontade de Deus” seja manifestada no mês de outubro. A partir disso, diz o pastor: “Deputado, eu não sei qual a vontade de Deus para a sua vida, mas uma coisa eu queria te falar: essa igreja vai orar pela sua vida”. Ainda que essa seja a suposta chave hermenêutica para chamar o candidato à frente, fazer a oração e depois dar a ele trinta segundos para falar, o pastor deixa muito claro quem é o seu candidato e quem ele espera (aí não é mais a “vontade de Deus”) que suba a rampa do Planalto no dia primeiro de janeiro de 2019: “Eu não vi coragem e credibilidade no olhar dos outros [candidatos] que eu ouvi, minha opinião”.

Além de emitir a sua opinião a favor do candidato, a vontade de Deus que ainda está para se manifestar, segundo o pastor, pelo menos num primeiro momento, já está manifestada para ele: “Se for a vontade de Deus que você seja no dia 1º de janeiro presidente do Brasil”. E assim completa: "Porque nós precisamos de alguém justo, correto”. Mesmo que o pastor diga que na igreja não há “voto de cabresto”, ele nega, pelo menos, dois princípios dos batistas. Um deles é a separação entre Igreja e Estado. Por esse princípio, o candidato do PSL não deveria estar à frente da igreja, a não ser que este fosse o Presidente do país. O segundo princípio, é a liberdade de consciência e opinião, que faculta a todos o direito inalienável de decidir suas questões morais, éticas, políticas e religiosas. Mas quando o candidato sobe ao púlpito da igreja ele é aplaudido, confirmando assim, que a Igreja Batista Atitude, ou boa parte dela, aprovou a atitude do seu pastor. Não é possível dizer que todos concordaram com o pastor, seu gesto e fala.

É recorrente nas eleições majoritárias do país, o discurso evangélico girar em torno de um certo messianismo. É preciso ter um “inimigo” a ser batido, do contrário não há uma luta entre o “bem” e o “mal”. Assim, no messianismo evangélico, é preciso ter personagens messiânicos, para que esses possam combater o reino das trevas e estabelecer o "reino de Deus". Nesse sentido, então, o candidato do PSL não tem apenas no seu sobrenome o “Messias”, ele é a figuração de um messias e tem qualidades para isso, segundo o pastor Valandro Jr.: “coragem e transparência”.

Na sua oração, com os seus demais pastores, Valandro Jr. vaticina a condição messiânica do candidato e pede, inclusive, que Deus o “blinde de uma gripe”.

Além de tornar o candidato o preferido dele e, por influência sua, da igreja também, Valandro Jr., na sua oração, faz o jogo do candidato quanto este coloca em suspeição o processo democrático do país e sua principal ferramenta, o voto. A convicção do pastor é tão evidente de que a vontade de Deus, que já é a sua a essa altura, é tornar o candidato presidente, que chega ao ponto de colocar em suspeição a credibilidade do processo eleitoral quando diz: “Que nem os hackers consigam mudar aqueles votos da urna. Que ninguém consiga, de alguma maneira, desfazer o propósito melhor [o seu candidato] para a nossa nação”.

A espera do pastor é que “no dia 1º de janeiro, esse homem possa subir a rampa do Planalto, para começar uma nova história desse Brasil”. Assim acontecendo, o pastor já diz o que não deveria acontecer, por saber qual é a opinião e os posicionamentos violentos do candidato: “Não de caça às bruxas, por que não estamos aqui para machucar ninguém”. É como se ele dissesse: vai devagar meu candidato.

Na oração do pastor Valandro Jr., a parte mais falaciosa da sua fala é essa: “Como ele tem falado, unindo pobres e ricos, negros e brancos, índios, sulistas, nortistas”. Parece que o pastor desconsiderou as falas do candidato em que este diz abertamente que, se for eleito, “não vai ter um centímetro demarcado para reserva indígena ou para quilombola”. Em uma de suas falas, considerada de teor racista, a PGR apresentou denúncia contra o candidato.

Mesmo admitindo que o candidato não é “evangélico” e “não é membro da igreja”, Valandro Jr. insiste que ele tem “valores cristãos” e é um “amigo da igreja evangélica”, e, mais ainda, “um amigo da ética”. Mesmo tendo mantido uma funcionária fantasma por muitos anos na região de Angra dos Reis/RJ, quando esta deveria estar em Brasília.

Por fim, espero que Deus não escute a oração de Valandro Jr., assim como não escutou a oração de Jonas quando este queria que Deus destruísse a cidade de Nínive, mesmo sabendo que Javé era um “Deus misericordioso e compassivo, muito paciente, cheio de amor e que prometes castigar mas depois te arrependes” (Jn 4,2).

16 comentários:

Marcos Vichi disse...

Ótimo texto!

Miguel Aguilera disse...

Excelente analise

Emerson Rocha de Almeida disse...

Concordo plenamente.

Deise de Andrade Azevedo disse...

Perfeito o seu texto. Análise lúcida e cheia de coragem. Parabéns!

Ten Lion disse...

Coisa feia este texto.

abidenego.alcantara@gmail.com disse...

Muito bom o texto.Parabéns!

hum disse...

Pastor se prestar a esse papel é se vender. O mundo tomou cont da sua pregação. Esse já não acredita mais em Cristo.

Thux Oliveira disse...

Execelente texto!
Uma pena que os cristãos estejam se vendendo e usado a igreja de forma tão equivocada.

Carlos Guimarães disse...

Eu sou Pastor Batista, e voto em Bolsonaro, Jamais colocaria o candidato no púlpito da igreja e concordo ser um erro esse tipo de influencia para as ovelhas. Mas senti no autor do texto um certo desdem relacionado ao candidato que tem "cheiro" do pensamento esquerdista... Parece mais incomodado com a candidatura do que com a atitude do pastor... Não tem coragem de assumir seu posicionamento e faz anti-campanha que para os atentos também é um posicionamento político. Cuidado leitores.

Unknown disse...

Perfrito Pr. Carlos no seu comentário sobre o rexto. Parece realmente que a candidatura do capitão incomoda mais do que a atitude do pastor.

Unknown disse...

Perfeito no seu comentário sobre o texto. Esse senhor cheira a esquerdista, parece realmente que a candidatura do capitão incomoda mais do que a atitude do pastor.

Unknown disse...

Só pode ser de algum esquerdopata um texto como esse, todos somos livres para apoiar o candidato que queremos ver no poder e com os Pastores não é diferente.

Unknown disse...

Fui Batista ate descobrir que os fundadores no Brasil, eram os mais influentes maçõns da época e a prova tá no modelo do prédio da igreja batista do Rio de janeiro, misericórdia Senhor.

Unknown disse...

Concordo

Unknown disse...

O púlpito virou palco de puliticop imorais, esse Bolsonaro afirmou que ganha 160000 mil por mes ha 27 anos e nao conseguiu aprovar um projeto sequer.

Jamalla disse...

Maravilha querido.