6.9.08

"ESTE" BRASIL, NUNCA MAIS

O nosso passado não é tão lindo. O Brasil surgiu de um empreendimento colonial que tinha como objetivo tão somente explorar as riquezas do país. Primeiro o pau-brasil, o açúcar, o café e depois o ouro. Um processo exploratório que apenas se serviu da terra. Para alcançar os objetivos de produção, mataram índios e escravizaram negros. Os portugueses não vieram acompanhados de suas famílias, pois não tinham a intenção de fixar-se na terra. Daí as uniões ilícitas e o mestiçado de nossa gente: o branco, o índio e o negro.

A nossa independência (07.09.1822), que completa este ano 186 anos, foi mais uma independência econômica do que política e não teve a participação popular em nenhum momento. Nossa república ocorreu entre as elites da época, liderada por um militar (Deodoro da Fonseca) que não sabia se era monarquista ou republicano, mais uma vez a participação popular foi nula.

De lá para cá a política brasileira é comparada com uma gangorra, com seus altos e baixos: democracia ou ditadura, quando conveniente.

A história política brasileira conheceu o voto secreto em 1932 com Getúlio Vargas criando a Justiça Eleitoral. Foi bom? Sim foi. Com isso acabaram os desmandos dos coronéis no interior do país. Mas o criador se volta contra a criatura. Vargas influenciado pelo Totalitarismo europeu destitui a Justiça Eleitoral (1937 a 1945) e se firma no poder como um ditador populista, coisa típica da América Latina.

O golpe mesmo veio com o Golpe de 1964. Extinção de partidos, cassação de políticos, suspensão das eleições livres. Os anos de 1964 a 1985 o povo deste país não tiveram oportunidade de expressar a sua vontade nas urnas: quase trinta anos sem eleições diretas, sem o direito de exercer a cidadania.

A redemocratização veio com muito custo. Um Congresso Nacional que não aprova o clamor popular pelas “Diretas Já” com um Paulo Maluf querendo ser eleito presidente pelo Colégio Eleitoral, um Tancredo morrendo nas vésperas da sua posse e um Sarney assumindo com a responsabilidade de conduzir um país mergulhado em uma dívida impagável. O ano de 1989 chegou e com ele as “Diretas Já” que foram garantidas pela Constituição de 1988. Vinte e dois candidatos concorrendo à presidência da República. Era novamente o direito de exercer a cidadania, votando, se fazendo representar nas diversas esferas do poder: legislativo e executivo. No Brasil de D. Pedro I com sua primeira Constituição (1824) mulheres, escravos e pobres não votavam. No Brasil cantado por Geraldo Vandré – vem, vamos embora que esperar não é saber quem sabe faz a hora, não espera acontecer – o direito de ser cidadão foi estabelecido ao custo de muitas vidas no exílio político, dos corpos não encontrados, dos assassinatos nunca esclarecidos, dos porões de tortura e medo. Eles não esperaram acontecer, fizeram. Não queriam este Brasil nunca mais, lembrando as palavras de Dom Paulo Evaristo Arns e seu livro Brasil: nunca mais – um relato para a história.

Em um país com cerca de 8,5 milhões de km² e uma extensa costa litorânea, de belas praias, de belos cartões postais, de belas cidades, mas de um povo que demonstra que não conhece seu passado ou não se lembra dele. É um povo que sofre de amnésia cívica. Não tem consciência de quanto custou a muitos brasileiros o direito ao voto. Ainda há muitos que o vendem por nada, outros o usam como barganha para conseguir outra coisa e não o fortalecimento da democracia. E não é por outro motivo que temos políticos corruptos que solapam o patrimônio público e desonram a dignidade brasileira.

Há tanto por fazer em um país que ainda detém um percentual considerável de analfabetos; um país que possui mais bares que bibliotecas; um país onde a novela, o futebol e o carnaval funcionam como analgésico popular. A transformação se faz pela conscientização cívica de sermos cidadãos e construtores de uma sociedade mais justa e igualitária. Isso só é possível por meio do voto, a voz das urnas.

“Aqueles que não aprendem com sua história arriscam a repeti-la”.

Pr. Alonso Gonçalves
Iporanga/SP

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