1.8.08

A CRISE DO PAI

(Palestra apresentada no Encontro de Casais na Igreja Batista Memorial em Iporanga)

Pr. Alonso Gonçalves

Em uma sociedade que prioriza o ter em lugar do ser, as relações sociais estão cada vez mais subordinadas as circunstâncias do dia-a-dia. Os modelos de família passam por transformações que qualquer despercebido consegue ver algumas posturas inovadoras que são fruto do sistema cultural que os estudiosos em sociologia chamam de pós-modernidade. Dentro deste momento cultural de viver as realidades familiares, vemos que a identidade do pai esta confusa na sociedade pós-moderna. Os papeis não são definidos. A diversidade de uniões dificulta ainda mais a identificação de quem é quem na sociedade. Este quadro tem trazido problemas familiares e sociais. O fato é que nem todos têm consciência de que a figura do pai esta ficando desbotada.

Antes de analisar o desaparecimento da figura paterna, vejamos os modelos de família que foram surgindo em nossa sociedade. Houve um tempo em que o centro familiar era o pai. Essa estrutura de família é conhecida como patriarcal. Ainda é assim em regiões rurais. O pai tem a palavra final e é respeitado como homem da casa e dos negócios, onde, naturalmente, os valores familiares são estabelecidos por ele.

O êxodo rural-urbano das décadas de 50 e 60 forçou o surgimento de outro modelo de família, conhecida como participativa. Marido e mulher assumem todas as tarefas domésticas: educação dos filhos, trabalho etc., sempre num sentido cooperativo.

A sociedade pós-moderna instituiu o modelo familiar conhecido como nuclear. Por causa da urbanização acelerada dos grandes centros e a crescente necessidade de trabalho, pai e mãe trabalham fora. Ocorre a terceirização das funções familiares que antes eram próprias da família (aliás, as funções familiares estão cada vez mais restritas nesta sociedade). Na terceirização das funções da família o cuidado do bebê é feito pela babá; os pais não têm tempo para ficar com a criança, pois ambos trabalham para sustentar o status quo, portanto a saída é colocar a criança numa creche; e quando se tem um dos dois em casa, ainda na sua maioria a mulher, que regula a educação da criança é a TV, um meio utilizado para distrair a criança enquanto a mãe faz as tarefas domésticas, a criança fica a mercê de todo o tipo de conteúdo sem qualquer restrição.

A crise do pai tem raízes que aqui não teria espaço e muito menos competência para analisar. Mas sucintamente podemos apontar pelo menos três eixos norteadores: (1) o trabalho – o regime de trabalho industrial ocupa o pai de forma muito intensa, restando pouco tempo para os filhos. Geralmente saem cedo e chagam tarde. A esse papel de trabalhador foi acrescido a figura do pai provedor. Aquele que traz o sustento da família, que paga as contas; (2) o machismo – criticou-se tanto o homem por ser machista. O papel do pai foi demolido porque tudo que ele poderia opinar era visto como machismo. A sua autoridade não dizia respeito às ações dos filhos/as, isso era coisa para a mãe; (3) o movimento feminista – as mulheres reivindicam a igualdade entre os sexos, em certos aspectos certíssimos. Surge com o slogan “o mundo é nosso”. A partir daí a figura de uma mulher independente aparece: o mercado de trabalho torna-se uma realidade, as opções tornam iguais para homem e mulher. Este momento é bem evidenciado em alguns comerciais de TV, por exemplo, cito apenas dois: o comercial do café “Pilão” em que aparece uma mulher fazendo o tal café e experimentado, faz uma expressão de felicidade e sua última frase é “se o marido não gostar, troca de marido”. O outro comercial é do arroz “Pileco”. Ela esta fazendo o arroz e comendo e sua última frase é “depois você chama o marido, para lavar a louça”. Esta não é nenhuma observação de um machista, pelo contrário, as mulheres merecem todo o crédito pelo que conquistaram ao longo da história deste país, inclusive o direito ao voto, ao mercado de trabalho e a participação política, e não se surpreendam em ver daqui alguns anos uma mulher governando este país, e com muita competência e sensibilidade. O ponto aqui, é que o movimento feminista exagera quando coloca a mulher com o papel central na família.

Quando se colocou as coisas num nível de competição e superação, a figura paterna ficou relegada.

Contando ainda a tendência para a omissão de certos pais na condução da casa, onde tudo ele empurra para a esposa resolver, vemos um imenso buraco na formação da criança.

Não é preciso ser psicólogo para entender que a formação de uma criança passa pela via da mãe-pai. A psicologia educacional trata bem isso quando aponta os papeis definidos do pai e da mãe na formação dos filhos. A mãe representa o aconchego, a satisfação dos desejos, a intimidade. O pai, por outro lado, é lhe dado a responsabilidade de introduzir na criança os conceitos de ordem, disciplina, do correto, do dever. É por isso que em muitos casos quando o pai trabalha e mãe é dona de casa e o filho apronta algumas ela logo diz: “quando o seu pai chegar ele vai ter uma conversa contigo”. A ele é dado o reconhecimento da autoridade. Tanto pai e mãe são responsáveis por inculcar valores femininos e masculinos na criança, e na ausência de um dos dois a formação dos filhos fica comprometida.

O desaparecimento da figura do pai tem conseqüências desastrosas. Em um livro escrito por Leonardo Boff, São José: a personificação do Pai, ele relata uma pesquisa feita nos Estados Unidos com jovens que apresentavam desvios de comportamento: 90% dos filhos que fugiam de casa não tinham o pai; 70% dos jovens que se envolviam com crimes o pai era ausente; 85% dos jovens na prisão não tinham a presença do pai; 63% dos jovens suicidas não tinham o pai. Não precisa estar nos Estados Unidos para saber que isto se estende também aqui no Brasil.

Neste dia dos pais vai o nosso apelo: seja pai. Aquela figura que inspira amor e respeito, carinho e firmeza, doçura e integridade. Educar não é nenhuma tarefa fácil, mas quando se tem amor tudo fica mais fácil.

Feliz dia dos pais.

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