1.8.08

COMO ERA BOM...

(Publicado no Boletim Dominical da Igreja Batista Memorial em Iporanga, em homenagem ao Dia dos Pais - 03.08.2008)

Era fim de tarde, ele estava para chegar. Sabia que aquele dia ele trabalhara muito dirigindo um caminhão cheio de concreto pelo trânsito frenético e caótico da cidade de São Paulo. Ao entardecer esperava ele apontar no começo da avenida do bairro, cheio de expectativas. Não sei porque fazia isso, talvez fosse só aquele momento em querer ver aquele que na minha cabecinha era o portador de segurança, amor, provisão... Este era meu pai. Alguém que viveu a vida para trabalhar. Saia às 5 horas da manhã e retornava as 18 e até as 21 horas. Lembro-me que quando ele chegava uma das coisas que fazia era pegar o violão; em minha família sempre teve músicos, e alguns muito bons mesmo, e por isso meu pai insistia, logo cedo, para que eu e meu irmão aprendêssemos um instrumento, foi assim que ganhei meu primeiro contrabaixo. Ele não sabia muita coisa no violão, mas cantava algumas músicas da igreja e nós ouvimos; e hoje me pego cantando essas músicas tomando banho e orando, e é por isso que conheço boa parte dos corinhos que as irmãs de nossa igreja conhece. Nessa época a televisão não era a coisa mais importante de uma família, isso só foi possível porque meu pai não deixou que ela fosse.

Era bom... Bom acordar no domingo de manhã e correr para o banheiro porque a Escola Bíblica Dominical era cedo e o pai não gostava de chegar atrasado. Aliás, uma das coisas que ele sempre ensinou - "igreja é lugar para ficar comportado". Criança, ah! Você já viu. Ouvia mas não guardava. E quando fugia da sua vista, fazia uma baguncinha - ninguém é de ferro. Mas teve um dia que me dei mal. Terminei de tocar e logo fui para fora do templo. E lá fora muita risada, falar das meninas, das músicas... o papo era bom. Meu pai ouvia aquela bagunça e algazarra de dentro do templo. No caminho ele diz: "quando chegar em casa nós vamos conversar". Naquele dia tive medo. O suor ficou frio, a barriga teve calafrio, o batimento cardíaco aumentou e desci a avenida do bairro pensando na desculpa que falaria para ele - até então nunca tinha levado uma surra. Chegamos em casa e o medo não deixava entrar na porta. Ele diz: "senta aqui. A Bíblia diz isso sobre os filhos, e você vai levar uma surra para aprender a se comportar na igreja". Foram somente quatro cintadas que valia por quinze da minha mãe, mas aprendi. Não sei se este é o melhor método, mas funcionou comigo.

A verdade é que só vim perceber a importância do meu pai na minha vida depois que a vida me deu oportunidades para decidir. Foi aí que pesou o caráter daquele homem que falava pouco, mas dizia tudo com a sua vida. Percebi que a vida é feita de pequenos momentos e que as pessoas, assim como o meu pai, marcam nossas vidas de uma maneira imensurável, tanto que hoje sou pastor e boa parcela disso o pai tem culpa, portanto se o irmão quiser reclamar fale com ele.

Pai é para toda a vida, não escolhemos, temos.

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