1.6.08

ESPIRITUALIDADE NO COTIDIANO

Espiritualidade nunca foi especificidade de determinadas tradições religiosas. Delimitar a espiritualidade às tradições religiosas é ignorar a dimensão transcendental do ser humano e suas diversas manifestações. Antes das religiões, inclusive a cristã, está a espiritualidade, patrimônio da humanidade como porta aberta para o Absoluto. Antes são as religiões que fazem uso da espiritualidade e formulam prédicas, constroem edifícios teóricos. Mas é na dimensão existencial do ser humano – o Dasein (Ser-aí) de Heidegger – que se dá aquela abertura hospitaleira a uma voz que quer ser ouvida e atendida. É o que chamou Teilhard de Chardin de “diafania” – a presença do divino na realidade que a tudo perpassa e engloba. É uma transparência a ser desvelada. A espiritualidade esta no humano assim como o ar esta para os pulmões.

A esta dimensão de Espiritualidade que somos inquiridos a viver no dia-a-dia. Uma espiritualidade comprometida com a carne quente e mortal. Pois é no dia-a-dia que somos desafiados a vivenciar a barreira entre o bem e o mal. Na Idade Média os monges procuraram enclausurar esta dinâmica se refugiando nas montanhas onde não podiam experimentar o dia-a-dia desta dimensão. A espiritualidade no cotidiano é urgente; uma espiritualidade comprometida com o dia-a-dia. Foi no cotidiano que Luther King abraçou uma causa em nome da igualdade social; no dia-a-dia que Mahatma Gandhi conquistou a independência de seu país daqueles que deveriam demonstrar o amor de Deus.

Foi no cotidiano que Jesus demonstrou sua capacidade de amar, chorar, sorrir, gritar, se irritar. Sua espiritualidade era movida pela compaixão. Ele não ficava impressionado com grandes coisas, mas com as pequenas, pois sua atenção estava centrada nas pessoas com suas mazelas diárias. Enquanto os discípulos olhavam as gigantescas pedras do templo iniciado pelo tirano Herodes, ele observava atentamente a oferta de uma viúva pobre (Mc. 12,41-42; 13,1); enquanto todos estavam agitados e admirados com a cura da filhinha de Jairo, a sua preocupação era que dessem comida para ela (Mc. 5,42-43). Sua espiritualidade cotidiana era carregada de ternura e leveza, porque ele sabia que é sempre mais difícil superar as incoerências da vida como gestos nobres e maléficos, sorriso e temor, amor e ódio, esperança e desespero... É nessa espiritualidade de base que vemos na figura de Jesus o ideal diário – aquele que se for negado abraça o negador, se for traído ama o traidor, se for torturado intercede pelo torturador, se for crucificado perdoa os assassinos.

Uma espiritualidade vivenciada no cotidiano sempre irá nos mostrar condutas incompatíveis com a espiritualidade de Jesus – a nossa tendência em utilizar as pessoas, a capacidade de nos enchermos de orgulho e desconsiderar o outro. É no dia-a-dia o teste mais confiável para mostrar a qualidade de nossa vida e o espírito que nos inspira, onde podemos “ser o que se é, falar o que se crê, crer no que se prega, viver o que se proclama” (Pedro Casaldáliga).

Como disse Simón Bolívar, um dos messias deste continente, “é mais fácil conquistar a liberdade do que administrá-la a cada dia”. Com a espiritualidade não é tão diferente.

Um comentário:

Anônimo disse...

Infelizmente, a trombeta vai soar e Godim, Kivitz e seus seguidores vão ficar, estão descrendo na mensagem de salvação e transformação que o evangelho oferece. Godin não aceita mais ser eleito, nega a eleição. Somos eleitos em Cristo Jesus ou não. Godim perdeu a visão...