12.9.09

AS NOVAS RELÍQUIAS

A magia dos objetos no neopentecostalismo

A sociologia da religião tem como discurso comum que as representações religiosas são representações que exprimem realidades coletivas, fazendo parte disso os ritos, o símbolo, o comportamento e a doutrina como elementos necessários para se manter o lócus mundi do fiel. O imaginário religioso é composto de simbologia e elementos que invocam tal realidade do sagrado. As religiões estão repletas disso, mesmo de forma inconsciente.

Na história cristã, mais especificamente no período da Reforma, havia uma valorização extrema nas relíquias e indulgências. A magia evocada era para com os túmulos dos mártires; lugares sagrados que operavam milagres; peregrinações; tudo isso decorrente da união fé-Estado e os anos de paganismo do império romano. Com a promessa de milagres, as relíquias eram comercializadas nos templos e as indulgências vendidas. Havia ossos dos apóstolos; algemas de Pedro; lascas da cruz etc. Gregório I, considerado intelectual para a época, comenta os inúmeros milagres ocorridos por intermédio das relíquias. A Reforma Protestante com Lutero teve seu ponto culminante, todos sabem disso, devido as indulgências que Roma cobrava para liberar “almas” do purgatório.

Com o protestantismo o culto foi racionalizado e a liturgia enxugada de todas as possíveis bizarrices. O prejuízo foi a quase total ausência de elementos simbólicos no culto sendo, até mesmo, a cruz desprezada como símbolo nos templos protestantes. Pagamos um preço por isso, uma liturgia que centraliza a racionalidade, sendo quase totalmente desprovida de símbolos que integrem o corpo e forneça consolo para as situações-limites.

Desde o surgimento dos neopentecostais esta havendo comercialização de novas relíquias e indulgências. O elemento mágico é usado e abusado pelos universais, internacionais e mundiais. As bizarrices que se vê nem choca mais. Com práticas até então vistas nos cultos afro-brasileiros, os neopentecostais ungem objetos que tem como função serem miraculosos: o sabonete da prosperidade, a rosa ungida, a fogueira santa de Israel, o sal grosso, o copo com água em cima da TV ou rádio etc. Recentemente a novel empresa do ramo, a IMPD, lançou no mercado a “chave da vitória”, mediante uma oferta, simbólica, de R$ 100,00 o “cliente” recebe a chave. Até que é pouco, comparado aos R$ 900,00 do mais novo integrante da teologia da prosperidade, S. Malafaia, que já esta sendo chamado de “malacheia”, que dá em troca da oferta uma Bíblia de batalha espiritual e vitória financeira e, de brinde, a “unção financeira” em parceira comercial com Morris Cerullo.

Pesquisador da IURD, Leonildo Silveira Campos (UMESP), em sua tese de doutorado, Teatro, templo e mercado: uma análise da organização, rituais, marketing e eficácia comunicativa de um empreendimento neopentecostal, Petrópolis: Vozes, 1996 – tendo como objeto de pesquisa a IURD, uma das principais referências no estudo neopentecostal – deixa claro que na IURD os pastores são incentivados a descobrir em que as pessoas crêem para que, a partir disso, realizem um trabalho pedagógico e mágico. Daí as novas relíquias com a promessa de dar a bênção; as novas indulgências como a “oração forte” do homem de Deus que determina a vitória.

Sinceramente não sei o que vão inventar mais. Depois da oração para a “troca do anjo da guarda” na IURD não faço nenhuma previsão. Só vamos saber quando estes homens da TV tiverem mais uma reunião/visão com Deus para balanço e novas estratégias de “mercado religioso”.

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