16.10.17

“SOMOS COLECIONADORES DE DESAFETOS”

Uma conversa entre pastores

Em conversa com um colega pastor, falávamos de como o ministério tem seus bons momentos, sendo esses, os bons momentos, relacionados com a promoção humana. Ambos concordávamos de que um ministério pastoral “produtivo” precisava estar focado nos relacionamentos com efetiva participação do pastor na vida dos integrantes da comunidade de fé e a estrutura, obviamente importante, uma vez que estamos inseridos nela (prédio, recursos, denominação), não constava como a primeira na nossa agenda, mas tendo o seu lugar minimizado e o humano maximizado.

A participação efetiva do pastor na vida dos membros da comunidade passa, inevitavelmente, por lidar com problemas, conflitos e dificuldades dos participantes da comunidade, quando solicitado para uma intervenção (aconselhamento). Nessa lista constam casamentos desajustados e mal resolvidos; frustrações por perdas reparáveis; doenças das mais agressivas e complicadas de lidar como um câncer; pessoas com síndrome do pânico e depressão; a sexualidade; violência doméstica; disputas judiciais. Esses são alguns dos problemas e conflitos dos quais o pastor está, direta ou indiretamente, envolvido. A tomada de decisão em alguns casos desses, acarretam enormes desgaste emocional e físico, alguns sucumbindo em problemas depressivos e, lamentavelmente, tirando a própria vida. Além disso, a família é uma preocupação, principalmente quando há filhos e eles acompanham a rotina do ministério pastoral. Infelizmente, em alguma Casa Pastoral, os filhos não são, devidamente, “blindados” quanto aos problemas e desafios do ministério, principalmente quando assuntos que envolve pessoas da comunidade surgem na mesa do almoço em um domingo depois da EBD.

Ainda em conversa com esse colega, chegamos no ponto de falar dos desafetos. Uma frase que chamou a minha atenção foi: “somos colecionadores de desafetos”. Isso também! Concordei. Os pastores, na caminhada ministerial, colecionam, não como mérito ou honra pessoal, inúmeras vitórias quando envolvidos com pessoas que conseguem vencer suas dificuldades. Não obstante a isso, ele também coleciona desafetos. Esses desafetos são originados, geralmente, por situações em que os envolvidos não gostaram ou não concordaram com certos posicionamentos do pastor. Há pessoas que nutrem desafetos com o pastor por conta do sermão de domingo à noite; outros ainda porque o pastor não valorizou, devidamente, o filho que é um “prodígio” na música; desafeto declarado porque a visão ministerial do pastor não encontrou ressonância em um membro mais antigo da comunidade. Enfim, esses são os possíveis desafetos que o pastor, ao longo da sua trajetória, pode(rá) colecionar. Alguns desses desafetos causam danos, outros são irrisórios, mas todos deixam, de alguma maneira, marcas.

Um amigo pastor no Nordeste, quando conversou comigo sobre a sua saída da igreja da qual estava já algum tempo no pastoreio, disse-me que deixou a igreja com algumas mágoas. O trato não foi cordial para com ele e sua família. Mesmo assim, ele alertou: “deixei bons amigos lá e isso que conta no final”. Por onde o pastor passa, deixa desafetos, mas amigos também. 

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