8.3.12

CAMINHOS PARA UMA ECLESIOLOGIA PÚBLICA

O debate da relevância na Associação das Igrejas Batistas do Vale do Ribeira

O tema que a Associação das Igrejas Batistas do Brasil (AIBAVAR) escolheu para a reflexão deste ano é ao mesmo tempo desafiador e importantíssimo para a nossa realidade.

Tive o privilégio de iniciar este tema na Segunda Igreja Batista em Jacupiranga (11/02/2012) por ocasião do seu aniversário. Por estar naquela comunidade – conhecida pela sua maturidade e importância para a comunidade batista da região –, pontuei algumas coisas que entendo ser imprescindível se de fato houver interesse em ser relevante neste tempo.

O tema – Igrejas relevantes neste tempo – é abrangente e ao mesmo tempo carrega uma série de dificuldades. Primeiro é preciso pensar o que seja a igreja, a sua relevância para este tempo, ou seja, em que ela se sobressai em importância dentre outros segmentos sociais; depois é preciso fazer uma leitura deste tempo, saber ler os sinais deste tempo e a cultura pós-moderna que sempre está em processo de mudanças.

Além disso, o protestantismo de um modo geral e os Batistas em particular, tem as suas dificuldades de se inserir na cultura, de dialogar com o diferente. Ainda reina em nosso meio uma mentalidade igrejeira de gueto mesmo, onde o dualismo santo (templo) e profano (sociedade) funciona como uma barreira para entender essa cultura e sociedade. Esses são os desafios.

A questão é de que precisamos beliscar a própria carne para ser relevantes, ou seja, é preciso pontuar algumas coisas essenciais em nosso contexto e procurar mudanças que nos dê a perspectiva de sermos relevantes. Diferente do apóstolo Paulo (1Co 9.19-23) que soube lidar muito bem com a cultura judaica e helênica, com os postulados do judaísmo, mas também com a cosmovisão grega, padecemos de alguns paradigmas que fomentem esse diálogo, igreja e sociedade.

O primeiro ponto que podemos considerar axial nesse debate é a questão do Reino de Deus ou a Denominação.  Faço esse jogo dialético porque sobra em nosso ambiente eclesial uma preocupação além da conta com a Denominação. Aprendemos que a denominação, e não o cristianismo, é que deve crescer e avançar. Aprendemos a usar palavras de guerra para dizer que a denominação precisa avançar sobre o “território inimigo”, mesmo se há outras representações de igrejas no lugar aonde se quer chegar. Fomos ensinados que abrir templo é sinônimo de crescimento do Reino de Deus, como se o Reino de Deus fosse algo físico, onde as pessoas pudessem tocar em suas paredes (Lc 17.20-21). O denominacionalismo suplantou o Reino de Deus. Isso é claro no Brasil que segundo Paul Freston não existe uma Igreja Evangélica Brasileira, mas sim diversas denominações disputando espaço.

A igreja é chamada para sinalizar o Reino de Deus. Isso só é possível quando a igreja se convence da sua missão, que é ser continuadora do Reino de Deus inaugurado por Jesus.

Uma segunda perspectiva que precisa passar por um doloroso processo de revisão são as estruturas. Somos fascinados por estruturas. Na faculdade ou seminário aprendemos como funciona uma igreja a partir de um organograma, um modelo de ser igreja baseado em funções e cargos. Há igrejas que priorizam suas construções em detrimento do ministério pastoral. Parece que temos um espírito salomônico, quanto maior mais a aparência de que está dando certo!

As estruturas corroem os recursos financeiros; pessoas disputam poder nas estruturas; se gasta mais tempo com estruturas do que com pessoas. O Novo Testamento prioriza gente. Igreja é estar junto; ser comunhão. A valorização deve ser por um ambiente fraterno; de acolhimento; de reconciliação; um lugar onde Deus pode ser contemplado na face do irmão.

Na comunidade – e não nas estruturas –, os valores são outros: a solidariedade perde para a poupança e o compartilhar ganha de goleada do acumular. Não são as estruturas que fazem a igreja, mas os irmãos; não são as funções que fazem a igreja, mas os dons espirituais. Isso é algo que precisa ser revisado urgentemente!

No nosso tempo fala-se muito em espiritualidade. Já existem aqueles que nutrem a sua espiritualidade sem qualquer vínculo com a igreja, no seu sentido institucional. Temos uma resistência com a experiência da espiritualidade. Fomos ensinados a nos concentrarmos na ritualização e isso é sinônimo de santidade.

Rick Warren comenta: “igrejas dirigidas por tradição querem perpetuar o passado. Mudanças são quase sempre vistas de forma negativa e quando não há mudança é porque as coisas estão estabilizadas”.

Lendo O Jornal Batista, um irmão colocava que a igreja perdeu a sua espiritualidade ou santidade. Para ele isso ocorreu porque permitiu entrar a “banda” na igreja! Será que temos tempo para discussões deste nível ainda?

A igreja ritualista tem sérias dificuldades em desenvolver um ministério de espiritualidade social. Para entender essa ideia, conto a estória do galo que fazia o sol nascer: “o galo dizia que ia cantar para o sol nascer, e todas as manhãs ele cantava e o sol nascia. Todos acreditavam nele, pois foi assim com o galo-pai e o galo-avó. Todos tratavam o galo com o maior cuidado e muitos mimos. Ele abusava disso e ameaçava os outros bichos para ser bem tratado. Certa madrugada o galo perdeu a hora e o sol nasceu sem o seu canto – todos os bichos falaram ao mesmo tempo, o sol nasceu sem o galo! O próprio galo não conseguia acreditar como isso era possível. Ele ficou deprimido e todos os bichos ficaram felizes, pois o sol nascia com ou sem o canto do galo”.

O surgimento de uma igreja que seja pública, ou seja, que olhe para a cidade com graça e ternura, precisa fazer um caminho de introspeção – analisar o que impede de se comunicar adequadamente com a cultura que tem como característica a mutação. Esse processo é moroso e doloroso, mas extremamente necessário. Isto é se estivermos dispostos a ser igreja relevante para este tempo.

2 comentários:

jerielbrito disse...

Creio que estas considerações coloboram na construção de uma visão mais pura e menos pragmatica e denominacional sobre a igreja. Um abraço

Anônimo disse...

Obrigado pelo comentário.
É sempre difícil refletir abertamente sobre nós mesmos, mas se queremos ser relevantes precisamos aprender a ter uma leitura de cultura e sociedade com o coração aberto.
Vamos continuar refletindo.
Grato,
Pr. Alonso Gonçalves