25.11.09

O DEUS CONSUMIDO

Uma das características da nossa cultura é o individualismo. E sua vertente mais significativa é o consumo como estilo de vida. A dinâmica da vida em torno das mercadorias transformou o homem em mais uma mercadoria, indispensável, é claro, para o consumo, mas ainda assim marionete do mercado neoliberal.

Este processo de coisificação do humano começou com a Revolução Industrial, quando o homem entrou em contato com a natureza e por meio da técnica, modificou a natureza para o seu consumo, transformando o mundo moderno em um grande supermercado. Crítico da época, Karl Marx já alertava em seus escritos e jornais a condição exploratória do homem pelo homem e a demasiada ênfase no produto. Com seus escritos conseguiu modificar diversos comportamentos entre patrão e empregado, mas uma coisa ficou bem clara, a alienação do ser humano no mundo de consumo. Hoje o consumo é um deus na sociedade pós-moderna, forjou as relações das pessoas por meio do comprar-vender. Em outros termos, o consumismo bestializou as pessoas ao ponto de humanizar os objetos.

As concepções de Z. Bauman é perspicaz quando em seu livro, A modernidade líquida, coloca que os indivíduos nessa nova cultura não possuem critérios de escolha, o indivíduo consumidor sofre de uma angústia e lhe faltam orientação e critério, quando isso não ocorre o indivíduo se afoga na comilança. Parafraseando R. Descartes não funciona mais o penso, logo existo mas o compro, logo existo.

Na dialética, religião/economia, o discurso religioso é variado. Enquanto a teologia da libertação trabalha com a exploração e marginalização do sistema econômico, a teologia da prosperidade coaduna a fé com a economia, transformando o sucesso econômico sinônimo de agraciamento divino. Neste sentido há um “deus consumido”, onde a relação com a divindade passa por benefícios financeiros assim como uma fábrica/indústria processa e lapida a matéria-prima.

Assim como os shoppings centers das grandes cidades funcionam como verdadeiros templos ao deus consumo, e comprar nesses lugares é uma liturgia. Um tempo em que tudo passou a ser consumido do sexo até o café, as empresas de publicidade tem a função de criar desejos de compra no indivíduo que cresce vendo que quem tem é feliz.

A relação com Deus passa pelo crivo econômico: “o que Deus pode dá? qual o lucro que se pode ter?” As campanhas financeiras dos neopentecostais são verdadeiras marcas publicitárias. Impossível ver hoje pessoas se aproximarem de Deus para amar como ele ama, mas ter o que ele pode dar. Isso se reflete nas músicas que só cantam a vitória, nas orações que invocam o sucesso. Na verdade isso já virou epidemia e quem não à pega é anêmico.

3 comentários:

jerielbrito disse...

Isto revela o tipo de espiritualidade que as pessoas possuem. Uma espiritualidade individualista e desuhumana, buscam o sucesso e as coisas magníficas, extraordinárias, crendo num Deus criado a sua imagem e semelhança, ou seja num Deus criado no mundo da imaginação. Esta espiritualidade cheia de convites para o sucesso está muito longe da espiritualidade dos evangelhos, vista na pessoa de Jesus, o Deus que se tornou humano, para nos ensinar como ser humano. Vamos percorrer o caminho da cruz, do bom samaritano, o caminho da mulher perdoada após ser pega em adultério, do caminho em que os pães se multiplicam, o caminho da morte do eu, do egoísmo, do individualismo, do sucesso a qualquer preço.
Parabéns pelo texto!

Claudinei Paulino disse...

Fico pensando como o Reino de Deus está distante da vida das pessoas. Como precisamos pensar sobre a vida à luz do Reino de Deus!
Parabéns pelo texto

Alonso S. Gonçalves disse...

Colegas muito obrigado pela participação, vocês sempre enriquecem o debate.

Quanto a essa espiritualidade que está aí, ela é mais hedonista que cristã e os valores do Reino de Deus estão muito distantes da realidade da Igreja Evangélica.