19.7.16

JIMMY CARTER: PERDENDO MINHA RELIGIÃO PARA A IGUALDADE

As mulheres tem sido discriminadas por muito tempo por uma interpretação distorcida da palavra de Deus.
Eu tenho sido um cristão praticante toda minha vida e um diácono e um professor da Bíblia por muitos anos. Minha crença é uma fonte de força e conforto para mim, como as crenças religiosas são para milhares de pessoas no mundo. Então minha decisão de cortar meus laços com a CONVENÇÃO BATISTA DO SUL, após seis décadas, foi doloroso e difícil. 
Foi, entretanto, uma decisão INEVITÁVEL quando a convenção dos líderes, citando alguns versículos cuidadosamente escolhidos e afirmando que Eva foi criada depois de Adão e foi responsável pelo pecado original, ordenaram que as MULHERES devem ser SUBMISSAS aos seus maridos e PROIBIDAS de servirem como diaconisas, pastoras ou capelãs no serviço militar.
Esta visão que as mulheres são, de alguma forma, inferior aos homens não é restrita a uma religião ou crença. As mulheres são proibidas de terem um papel mais pleno e igual em muitas crenças. Essa discriminação, injustamente atribuída a uma Alta Autoridade, tem providenciado uma razão ou desculpa de privar as mulheres de direitos iguais pelo mundo por séculos.
Em seu mais repugnante, a crença que as mulheres devem se subjugar aos desejos dos homens permite escravidão, violência, prostituição forçada, mutilação genital e leis nacionais que omitem o estupro como crime. Mas também custa a muitos milhares de meninas e mulheres o controle sobre seus corpos e vidas e continua a lhes negar acesso justo a educação, saúde, emprego e influência dentro de suas próprias comunidades.
O impacto dessas crenças religiosas alcança todos os aspectos de nossas vidas. Elas ajudam a explicar porque em muitos países os meninos são educados antes das meninas; porque dizem às meninas quando e com quem devem se casar; e porque muitas enfrentam riscos enormes e inaceitáveis na gravidez e no parto por causa que suas necessidades básicas em saúde não são encontradas.
Em algumas nações islâmicas, as mulheres são restringidas em seus movimentos, punidas por permitir a exposição de um braço ou cotovelo, privadas da educação, proibidas de dirigir um carro ou de competir com homens por um emprego. Se uma mulher é estuprada, ela é severamente punida como culpada do crime.
O mesmo pensamento discriminatório está por detrás da contínua lacuna de gênero no pagamento e no porque existem poucas mulheres no escritório no Ocidente. A raiz desse preconceito se esconde profundamente em nossas histórias, mas seu impacto é sentido todo dia. Não são apenas as meninas e as mulheres que sofrem. Danifica a todos nós. As evidências mostram que investir nas mulheres desenvolve maiores benefícios para a sociedade. Uma mulher educada tem crianças mais saudáveis. Ela tem mais possibilidade de mandá-las para a escola. Ela ganha mais e investe na sua família.
Simplesmente é autodestruição para toda comunidade discriminar metade de sua população. Nós precisamos desafiar essas atitudes e práticas cíclicas e antiquadas.Eu entendo, entretanto, porque muitos líderes políticos podem ser relutantes sobre pisar neste campo minado. A religião, e tradição, são áreas poderosas e sensíveis para se desafiar.
Nós decidimos em dar uma atenção especial para a responsabilidade dos líderes religiosos e tradicionais em garantir igualdade e direitos humanos e publicamos uma declaração onde dizemos: "A justificação da discriminação contra as mulheres e meninas no campo da religião ou tradição, como se tivesse sido prescrito por uma Alta Autoridade, é inaceitável". Nós estamos convocando a todos os líderes para desafiar e mudar os ensinamentos e as práticas prejudiciais que justifiquem a discriminação contra as mulheres.
Nós pedimos, em particular, que os líderes de todas as religiões tenham a coragem de compreender e enfatizar as mensagens positivas da dignidade e da igualdade que toas as religiões mundiais majoritárias compartilham.
A verdade é que os líderes religiosos masculinos tem tido - e ainda têm - uma opção de interpretar os ensinamentos sagrados tanto para exaltar ou para subjugar as mulheres. 
Eles têm, para seus próprios propósitos egoístas, escolhido o último. Suas escolhas têm provido a fundação ou a justificação para muitas das constantes perseguições e abusos contra as mulheres no mundo. Esta é uma violação, não apenas contra a Declaração Universal dos Direitos Humanos, mas também aos ensinamentos de Jesus Cristo, os Apóstolos, Moisés e os profetas, Mohamed e os fundadores das outras grandes religiões. 
Está na hora de termos a coragem de desafiar estas visões.

Jimmy Carter - ex-presidente dos Estados Unidos

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