5.7.14

SEGUIMENTO COMO APROXIMAÇÃO AO JESUS HISTÓRICO

Na América Latina quem aprofundou a reflexão em torno do seguimento foi, indubitavelmente, Jon Sobrino.

De alguma maneira Sobrino trata do seguimento e coloca a cristologia latino-americana no cenário teológico com maestria.

Sua cristologia tem, pelo menos, três elementos básicos: (1) compreender quem é Jesus, (2) mostrar o caminho de Jesus e (3) ajudar as pessoas a seguirem a causa de Jesus.

A hermenêutica sobriniana contempla alguns eixos que, para a teologia latino-americana da libertação, significou um aprofundamento na pessoa, mensagem e práxis de Jesus. A obra sobriniana ecoa a cristologia moltmanniana. Um primeiro eixo é a hermenêutica quanto ao Jesus histórico.

A preocupação de Sobrino é com o Jesus histórico e o que isso significa para o seguimento. Ele se apropria da diversidade exegética em torno do debate e faz desse tema uns dos principais eixos hermenêuticos de sua cristologia para a América Latina. Para ele “a pergunta pelo Jesus histórico não é uma questão do passado, mas pertence à essência do cristianismo”. Para o teólogo salvadorenho, fazer o caminho da busca pelo rosto de Jesus, suas pretensões, gestos, palavras, significa também assumir certos compromissos como cristãos. É imprescindível se remeter ao Jesus histórico, porque somente assim será possível fazer uma leitura abrangente da figura de Cristo. O que deve ficar claro, na concepção de Sobrino sobre o Jesus histórico, é que, diferente de outras leituras sobre o tema, principalmente a europeia, que focou as vidas de Jesus, na América Latina não está em discussão à questão biográfica, mas sim “a totalidade da história de Jesus, e a finalidade de [se] começar com o Jesus histórico é que se prossiga a sua história na atualidade”. Sendo assim, para Sobrino, o conceito histórico, não abrange a sua cientificidade como na teologia europeia, mas sim a atividade de Jesus. Completa ele: “por Jesus histórico entendemos a vida de Jesus de Nazaré, suas palavras e atos, sua atividade e sua práxis, suas atitudes e seu espírito, seu destino de cruz [e ressurreição]”.

Sobrino tem no reino de Deus a principal mensagem de Jesus. Na cristologia sobriniana, o reino de Deus é central na vida, gestos e mensagem de Jesus. O reino de Deus proclamado por Jesus é a mensagem de esperança as pessoas, principalmente aos marginalizados. O reino de Deus ganhou tal envergadura na vida de Jesus que o levou à morte. O reino de Deus se dá na construção social, principalmente no desmantelamento do anti-reino, marcado pela injustiça e opressão que assola o povo, transformando-os em vítimas.

O seguimento é a relação que os discípulos têm com Jesus. Essa relação começa quando Jesus chama seus discípulos para segui-lo. A intenção é que eles reproduzam os seus passos, participando, especificamente, do seu projeto, o reino de Deus. O seguimento, portanto, é assumir os passos de Jesus ao ponto de compartilhar, até mesmo, o seu destino, a morte, como foi, por exemplo, o martírio de Dom Oscar Romero. O seguimento para Sobrino não tem a pretensão de imitação. Para ele isso é impossível por questões históricas. O seguimento é a disponibilidade para reproduzir, em outros contextos históricos, o movimento fundamental das ações de Jesus.

Seguimento é a principal identidade cristã, pois o seguidor deve reproduzir a estrutura fundamental da vida de Jesus e ao mesmo tempo tornar possíveis as ações dele de acordo com as exigências do contexto em que se vive.

O Jesus que Sobrino apresenta é alguém que chama seus discípulos para estar perto dele a fim de participarem dos seus anseios e ações. Não é um Cristo distante do povo e transcendente, mas perto ao ponto de pedir ajuda aos seus seguidores para que desçam da cruz de hoje os necessitados e desvalidos. É um Cristo que solicita companhia, pois reconhece que sem a ajuda dos seus discípulos não seria possível levar adiante as marcas do reino de Deus

2 comentários:

Ivani Medina disse...

O que se tem do Jesus histórico são apenas desculpas para a sua não confirmação como figura histórica. Quando não se tem um único motivo para justificar sua existência e diversos a contrariar, o que deve prevalecer?
A religião percebida como um instrumento político é bem diferente de quando é percebida como um instrumento de aperfeiçoamento moral. A tendência é que ela seja apreciada preferencialmente pela segunda possibilidade. No entanto, é sob o ponto de vista secular que faço essa reflexão a respeito da origem do cristianismo. Conheça um pouco mais a respeito da origem da nossa cultura ocidental. Visite a página do livro A Origem do Cristianismo em Reflexão, no Facebook:
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Anônimo disse...

Obrigado pela participação Ivani.

Quanto ao "Jesus histórico" na reflexão de J. Sobrino, ele se difere da reflexão europeia, assim não há, necessariamente, uma preocupação pela questão moral, mas sim uma configuração da realidade latino-americana com suas mazelas.

Grato pela dica do livro,
Alonso S. Gonçalves