4.12.13

A ALEGRIA DO EVANGELHO, OU COMO VOLTAR AO EVANGELHO

A igreja Católica tem uma longa história como instituição religiosa e sua estrutura é extremamente burocrática e hierarquizada.

Ocorre que ao longo de sua trajetória a igreja procurou se reformar para tentar dialogar com o mundo. É claro que há um passado que a coloca em situações delicadas como o episódio de Galileu Galilei (1564-1642) que depois de mais de trezentos anos teve sua reabilitação à igreja conduzida por João Paulo II em 1992.

Não obstante a isso, a maior expressão de diálogo que a igreja procurou fazer ocorreu com o Concílio Vaticano II. A principal tarefa do Concílio foi renovar a igreja. Estava diante de todos a possibilidade de resgatar alguns pontos fundantes da igreja: a noção de ser ela evangélica e sua dimensão missionária.

Embora houvesse contrários ao resultado do Concílio – Bento XVI, por exemplo, quando cardeal J. Ratzinger procurou minimizar as consequências do Concílio principalmente em sua dimensão eclesiológica como “povo de Deus” – o Concílio Vaticano II possibilitou o florescimento da Teologia Latino-americana da Libertação, por exemplo, e contribuiu para avanços significativos em todas as áreas da igreja.

Ao contrário do seu antecessor, o papa Francisco quer ver o Concílio Vaticano II ser concretizado em diferentes direções, a começar pela sua eclesiologia que priorizou uma igreja aberta, ou seja, não uma igreja para si mesma.

Com sua primeira exortação apostólica – um documento com peso menor que de uma encíclica – Francisco a intitula de Evangelli Gaudium – a alegria do evangelho. Nesse texto Francisco pontua algumas questões para a igreja e procura delinear suas colocações a partir do Concílio Vaticano II. Alguns pontos me chamaram atenção porque podem ser aplicados não apenas à igreja Católica, mas a toda a Igreja.

- A igreja deve sair da sua comodidade: uma igreja aberta às pessoas que necessitam e que mais precisam da presença e da luz do Evangelho é uma chamada sempre atual. Uma igreja enclausurada em si mesma não pode desenvolver sua vocação missionária.

- Reformar as estruturas: uma igreja que se estabelece de cima para baixo e que desde Gregório VII, com a chamada reforma gregoriana, passou a ser mais monárquica contraindo as características do Império e transformando preceitos das Escrituras em conceitos jurídicos e legais, é um grande desafio para Francisco que procura encurtar a distância entre clero e fiéis. Tal medida está prevista no Concílio Vaticano II, mas a hierarquia ainda causará dificuldades para que essa igreja seja cada vez mais dos pobres como quer o papa.

Algumas coisas que Francisco me ensina: (1) a chamada para uma igreja em missão é um desafio constante; (2) uma igreja centrada em si mesma é um equivoco em relação ao chamado de Jesus Cristo para sermos seus discípulos e discípulas; (3) procurar pensar e reformar a estrutura da igreja para que ela seja um meio de atuação e não um fim em si mesma é mexer com o sistema que procura se perpetuar para continuar garantindo posições de poder.


Nesse sentido, para se ter a alegria do Evangelho é preciso voltar ao Evangelho e olhar para Jesus como pastor.

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