13.5.12

EM DEFESA DA FÉ - O SURTO APOLOGÉTICO

Na História do Cristianismo sempre houve movimentos que reivindicava a “defesa” ou a “proteção” do bom nome de Deus. Todas as vezes que houve um confronto com a sociedade e suas formas de conhecimento que a Igreja não tinha competência, ocorreu o choque. Foi o caso de Galileu Galilei que sofreu as investidas da Santa Inquisição por conta de sua curiosidade sobre o Universo e tantos outros personagens.

No caso do protestantismo a questão da veracidade é uma preocupação premente. É uma fé em busca de conhecimentos absolutos, irrefutáveis. A verdade é uma obsessão, sem ela não há fundamentação protestante. Como bem observa Rubem Alves (Religião e repressão, São Paulo: Teológica/Loyola, 2005), “o critério de participação na comunidade é a confissão da reta doutrina”, o contrário disso provoca ruptura entre o indivíduo e a comunidade de fé. Essa ruptura é cruel tanto quanto a Santa Inquisição, só não há fogo literalmente, embora alguns quisessem esse item na disciplina.

O mercado editorial brasileiro protestante evangélico, tem tido um surto de textos sobre Apologética – ramo da Teologia que tem como proposta a defesa racional da fé cristã. Editoras como Edições Vida Nova (Batista) e Cultura Cristã(Presbiteriana) publicam quase que dois livros sobre o tema por ano. Entre os autores que tem recebido destaque é William Lane Craig que publicou no país três livros – Apologética Contemporânea: a veracidade da fé cristã; Apologética para questões difíceis da vidaEm guarda: defenda a fé cristã com razão e precisão.

A questão é saber: quem precisa de apologética? São os membros das igrejas? São os universitários? Ou é a sociedade que precisa entender que Deus existe e que a Bíblia não contém erros?

Em tempos de secularismo e pluralismo religioso, existem alguns caminhos a serem percorridos pelas diferentes alas da igreja de segmento protestante. A ala notadamente conservadora (para não dizer fundamentalista) está promovendo através de livros, sites, blogs, encontros e congressos temas de apologética para se discutir esse fenômeno (secularismo e pluralismo religioso), mas pelo viés daproteção da igreja. Nesse caso são os membros das igrejas quem precisam de apologética. Exemplo disso é o III Congresso de Cristianismo e Cultura promovido pelo Mackenzie e tendo como preletora Nancy Pearcey e sua principal fala –“Estratégias para Cristãos numa Era de Secularismo Global”.

Assim como ocorreu com a Eclesiologia – onde um punhado de métodos e programas foram importados para a realidade brasileira – tem ocorrido com a questão do secularismo e do pluralismo religioso. Se na América do Norte a preocupação é com o ateísmo e na Europa há vários do tipo de Richard Dawkins, aqui no Brasil, e na América Latina, a preocupação não é a mesma. Por aqui nunca tivemos uma discussão ferrenha sobre Evolucionismo e Criacionismo; o continente respira religião e, embora exista, não temos um surto de ateísmo no país, pelo contrário, o que há é uma efervescência religiosa sem conteúdo, nutrindo um relacionamento com Deus com base no “toma-la, dá cá”. Além disso, há uma bancada tida como evangélica que quer cercear o debate em torno de temas importantes para o país.

Nesse cenário de secularização e pluralidade em todos os sentidos a postura tem sido diversa – enfrentamento, daí o surto fundamentalista; reclusão, principalmente igrejas de segmento pentecostal que considera o mundo perdido para o diabo; diálogo, com a sociedade não por meio do fideísmo que não aceita nada e ninguém a não ser a própria fé como mediadora, mas um diálogo aberto, fraterno, profético.

Não precisamos de apologética, mas sim de Teologia Pública. Para isso ser possível colho as observações de Jürgen Habermas de que é preciso abrir mão de uma imposição violenta de verdades de fé; submeter-se a autoridade da Ciência naquilo que ela é competente; traduzir para uma linguagem descodificada a riqueza do Evangelho e da Tradição cristã.

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