4.11.11

O OLHAR DE JESUS PARA A CIDADE

Uma leitura a partir de Lc 13,34  

A relação entre Cidade e Igreja, muitas vezes, é de isolamento. Afasta-se das pessoas que estão na cidade por não professarem a mesma fé ou religião. Por conta disso há uma Igreja que não se mistura com ninguém, pois entende que tudo é mau. A Igreja se esqueceu de que está no mundo e que, portanto, precisa agir nele. Por isso a Igreja deve olhar a cidade sem indiferença. Para tratar bem a cidade é preciso compreender ela; modificar pensamentos; quebrar barreiras e preconceitos; ser sal e luz de fato. Vamos observar a atitude de Jesus em relação à cidade de Jerusalém.

UM OLHAR PROFÉTICO
Como toda a cidade, Jerusalém tinha as suas injustiças: matava os profetas, apedrejava... A cidade é lugar de desigualdade; de desespero; relações injustas. Diante das mazelas da cidade, Jesus não ficou quieto. Ele agiu como um profeta e denunciou as desigualdades, a arbitrariedade daqueles que detinham o poder para governar e cuidar do povo.
No seu tempo o templo de Jerusalém funcionava como um banco. Havia muito dinheiro. As pessoas pagavam diversos tributos para o templo, daí os cambistas que trocavam moedas estrangeiras em moedas do templo, isso favorecia o roubo de quem trocava esse dinheiro com a anuência dos sacerdotes (Lc 19,45-47). A atitude de Jesus foi de revolta, de dizer não ao sistema exploratório do pobre, enquanto poucos tinham muito, muitos tinham pouco! Ele não ficou quieto e isso lhe custou à própria vida, pois os sacerdotes viu nele uma ameaça ao sistema corrupto do templo.
A Igreja não pode ficar ser conivente com o erro. Ela deve assumir uma postura profética e pregar e apontar os erros, mas também ser instrumento de apoio para a cidade. Mas exercer uma ação política não pode ser confundida com partidarismo, e isso, infelizmente, muito ainda não conseguem discernir.

UM OLHAR DE MISERICÓRDIA
Jesus não ficava lamentando os problemas da cidade. Ele via as pessoas como ovelhas que não tinham pastor, daí a sua metáfora: galinhas e pintinhos (Lc 13,34). É preciso amar a cidade, ter empatia com ela. Um olhar de misericórdia nos dá condições de entender o todo e não apenas o particular. As pessoas na cidade são egoístas, querem saber apenas o que podem ganhar e a cidade e seus dilemas fica em segundo plano.
Quem olha para a cidade com um olhar misericordioso consegue vencer o limite do próprio umbigo.
Jesus tinha um olhar afetuoso pela cidade, tanto que ele chora por ela (Lc 19,41). O seu amor era tão grande, que esta mesma cidade que ele tanto ama o crucifica, mas ele os perdoa (Lc 23,34).

Vamos olhar a nossa cidade com um olhar profético. Uma Igreja que atua na cidade para o bem dela, e não para conquistar algo para si. Uma maneira de fazer política e não politicagem, com critérios, visando o bem estar das pessoas e não os interesses de alguns. O nosso olhar precisa ser também misericordioso, mas o olhar misericordioso não anula o olhar profético. Amar a cidade é cuidar; é assumir responsabilidades pela cidade onde vive.

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