14.5.10

A DESCONSTRUÇÃO DE UM DEUS METAFÍSICO

Apontamentos em Gianni Vattimo

Estamos diante de um fato: a pós-modernidade delineou um novo modo de se pensar e viver religião. Diante deste fenômeno, a filosofia da religião vem apontando caminhos para se pensar o religioso em outras matrizes. Esquemas que privilegie o diálogo, a abertura fraterna e honesta com os eixos da pós-modernidade. Um dos pontos que tanto teólogos quanto filósofos trabalham é o aspecto metafísico do conceito “Deus”. A construção teórica em torno de uma emancipação do conceito “Deus” da metafísica é tratada por F. Nietzsche com o seu famoso enunciado “Deus está morto”. Outro alemão que pensou sobre os limites da metafísica foi M. Heidegger. Com esses autores, o filósofo italiano Gianni Vattimo quer colocar a superação da metafísica. Sua intenção, a partir de Nietzsche e Heidegger, é desconstruir o “Deus” metafísico que norteou a cultura ocidental e apresentar novos rumos para o discurso sobre “Deus”.

O “Deus” gestado pelo Ocidente é o resultado da junção entre filosofia grega e escolástica (Santo Agostinho e Tomás de Aquino). Vattimo e outros filósofos concebem o retorno da religião como um fato; a ciência e a técnica não anularam o sentimento religioso do homem pós-moderno. Para Vattimo esse retorno se dá pelo esvaziamento de sentido, algo que a ciência e a filosofia não souberam trabalhar; uma maneira de preservar as culturas ancestrais, etc. Mas agora esse retorno corre alguns riscos e o principal deles é o fundamentalismo em suas diferentes vertentes.

O “Deus” metafísico da Idade Média proporcionava segurança, estabilidade. O ser era identificado com “Deus”. A partir da leitura de Nietzsche e Heidegger, Vattimo quer colocar a instabilidade de um solo que sempre se acreditou ser firme; “Deus” passa a ser não um fundamento imóvel, mas um vestígio, um traço. Para o filósofo italiano, “Deus” deixa de ser estrutura para se tornar evento. O discurso metafísico sobre “Deus” passa a não existir como um fato factível e torna-se evento, um “Deus” eventual.

O “Deus” metafísico desconstruído pela pós-modernidade e seus eixos, dá lugar agora a um pensamento que descobre os fragmentos do Sagrado por meio do vestígio, do evento histórico. Não é mais um “Deus” visto como absoluto, eterno, imóvel (Aristóteles), sem princípio e nem fim. Para aparecer este novo modo de interpretar e discursar sobre o Sagrado, Vattimo recorre ao conceito bíblico da encarnação. No entender do filósofo italiano, é o Cristianismo que supera o “Deus” metafísico! O Verbo encarnado assume a eventualidade do ser. Deus ter se tornado ser humano já é um enfraquecimento do “Deus” metafísico. Deixa de ser o “Deus” dos raios e trovões, o totalmente outro. O Deus que se torna ser humano come e bebe com malfeitores; assume as debilidades e fraquezas da vida; chama as pessoas de amigos.

O “Deus” metafísico é desconstruído e surge o Verbo, eventualidade do ser. A debilidade levou Vattimo ao Cristianismo. A encarnação torna-se elemento hermenêutico para um novo discurso sobre Deus, assumindo, portanto, a eventualidade do ser; algo em construção, em movimento, nunca fechado e inconcebível.

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