5.5.10

APONTAMENTOS SOBRE PASTORAL

Uma breve análise a partir do neopentecostalismo, catolicismo e protestantismo

Tenho pensado sobre a forma de ser pastor batista e seus desafios, até mesmo pensei em escrever alguma coisa neste sentido e procurar publicar numa dessas revistas eletrônicas, periódicos teológicos com a intenção de abrir um diálogo entre a forma de pastoral no campo católico, que tem muito a contribuir, aliás, teólogos católicos se debruçam e escrevem muito sobre este tema, teologia pastoral, onde um dos mais respeitados teólogos na área é Cassiano Floristán, teólogo católico espanhol, e o modo protestante de entender o pastor e suas tarefas/funções dentro da comunidade, visão aquém do que se pensa e escreve na academia sobre pastoral.

Na última postagem, impressões de um encontro, um resumo do que foi falado na Igreja Batista em Barra do Turvo/SP sobre posturas pastorais, recebi um comentário do Pr. Natanael Gabriel da Silva (pastor na Igreja Batista Central em Sorocaba/SP) que chamou a minha atenção. Seu texto diz: “tenho pensado que pastores e líderes de movimentos neopentecostais acreditam que o pastoreamento deve ser uma demonstração da sobrenaturalidade de Deus no mundo, outras comunidades, que têm uma preocupação social mais acentuada, observam tal pastoreamento como o atendimento a integralidade do ser humano em sua dinâmica social. No caso dos batistas, do conhecido evangelismo de fronteira, tem-se o pastoreamento quase exclusivamente sob a ótica conversionista, em relação ao "mundo", e sacerdotal (preservação do sistema) quando se refere à comunidade especificamente. Expressões de comando autoritário, como controle interpretativo dos textos, buscando o apoio dos originais, cuja língua é praticamente desconhecida pela comunidade, ou ainda assumindo a sobrenaturalidade na homilia, em que questioná-la é quase um sacrilégio, têm sido os recursos de controle comunitário mais utilizado, creio.”

Pr. Natanael tem uma contribuição ímpar à denominação e sua experiência como pastor batista e participante, até pouco tempo atrás, dos bastidores da denominação, o credencia a ler a fisionomia do pastor batista com perspicácia.

Gostaria apenas de ampliar suas colocações usando outros autores/teólogos sobre o tema. Por ora pensar na concepção pastoral a partir do neopentecostalismo, do catolicismo e do protestantismo, especificamente batista.

A partir das considerações de Antonio Gouvêa Mendonça e Leonildo Silveira Campos, os neopentecostais têm na figura do pastor o mágico. O elemento mágico é o mecanismo de trabalho do líder; a manipulação de fórmulas e crendices são indispensáveis para o fortalecimento do empreendimento neopentecostal. Mendonça chama de sindicato de mágicos quando seus líderes fazem uso de “água abençoada”, “rosa ungida”, “areia do deserto do Sinai”. Neste modo de ser pastor, a comunidade inexistem, os frequentadores são clientes a espera dos bens religiosos; a credibilidade do líder/pastor é dada pela confirmação sobrenatural da bênção de Deus, geralmente financeira.

No caso católico, a tarefa pastoral esta voltada para a integralidade da pessoa humana, independentemente se participa ou não da paróquia. Segundo João Batista Libânio, teólogo católico mineiro, a pastoral é o agir da Igreja no mundo, é o sinal do Reino de Deus na cidade, na sociedade. É a presença da graça de Deus, através da Igreja, na sociedade. Daí a preocupação com as diversas áreas da sociedade surgindo, portanto, as diversas pastorais como da terra, da criança, do encarcerado... É uma pastoral coerente com o Evangelho, sem dúvida.

Já no caso protestante batista de ser, segundo Israel Belo de Azevedo, o pastor batista é anticatólico; tem formação teológica fundamentalista; olha o mundo como alvo da evangelização com o intuito de “ganhar”. Não é uma pastoral de comprometimento com o contexto. A fisionomia do pastor batista é puritana, tem como princípio a santidade de homens como Spurgeon, Baxter, Moody e outros. O púlpito é o principal elemento de pastoreamento e a Igreja, refém do discurso, cabe a moralidade como chave hermenêutica de uma autêntica fé.

A tentativa hoje é procurar dialogar com os “sinais dos tempos” (para um aprofundamento, ler um artigo de minha autoria na revista eletrônica Protestantismo em Revista no link http://www.est.edu.br/periodicos/index.php/nepp/article/viewFile/5/11); fazer uma leitura coerente com os pressupostos da pós-modernidade sem perder os princípios norteadores e a identidade. O recurso da mágica não cabe no modelo pastoral protestante; resta-nos fazer um fraterno diálogo com teólogos que entendem o caminho pastoral a partir da comunidade e não apenas do indivíduo, o pastor. Uma pastoral que encare o Reino de Deus como tarefa imprescindível para a missão da Igreja.

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