12.3.10

A ATUALIDADE DE DIETRICH BONHOEFFER

Nas últimas postagens tratei do tema religião e as dificuldades que envolvem o atual contexto de abertura e diálogo com a globalização e o secularismo. Quando penso em religião estou colocando o Cristianismo em especial e suas dificuldades dialógicas com o mundo pós-moderno.

O distanciamento Igreja/mundo causou sérios problemas de interação com a Igreja Católica. Na passagem da Idade Média, período dominado pelo pensamento da Igreja, para a era Moderna, a Igreja não participou da separação Igreja-Estado; não forneceu subsídios pastorais para o distanciamento entre religiosidade e vida secular; não se envolveu com as demandas sociais das revoluções que estavam em ebulição. Resultado disso é que a Igreja acabou por ver esses movimentos e as mudanças como inimigos de Deus e de si mesma, ao invés de interagir e tornar-se consciência das novas posturas do mundo.

A Reforma Protestante trouxe a secularização. Os movimentos teológicos abriram um leque de pesquisas e uma diversidade de caminhos. R. Bultmann deu uma nova interpretação para o Novo Testamento, a demitização; Dietrich Bonhoeffer desenvolveu o conceito de “cristianismo sem religião”. O conceito de religião para Bonhoeffer significava dizer a institucionalidade da religião, ou seja, a velha maneira de ver Deus metafisicamente separado do mundo, a ideia do sagrado/profano. Para o teólogo alemão a religião que ignora o mundo e reivindica o indivíduo para si e proclama um espaço próprio, territorial e setorial não tem mais espaço mesmo. Neste quadro incube a todos apresentar um Cristianismo que não seja religioso, ou seja, não trate o homem pós-moderno como alguém que ignora os avanços da ciência, que não perceba a condução do mundo pelas nações e suas relações internacionais e que ainda sofre com carências espirituais!

O homem que morreu nas mãos de Adolf Hitler entende que é preciso assumir posturas pastorais não de convencimento, mas de dedicação ao homem. Bonhoeffer faz questão de frisar que Jesus nunca, e nem se quer deixou, a impressão de mostrar às pessoas que elas eram realmente piores quando na verdade eram de fato; com os ladrões na cruz ele não vez nenhuma tentativa de convencimento, até que um deles dirigiu a palavra a ele. Essa tentativa de ser mais religioso que Deus é pedantismo espiritual. É por isso que o luterano preferia a companhia de “não-crentes” à de piedosos que só falavam a respeito de Deus.

O Cristianismo que Bonhoeffer propõe é o do seguimento de Jesus, o discipulado mesmo. Cristianismo não é mera introspecção de soluções de problemas, mas é engajamento com o mundo e com o homem pós-moderno. Cristo não pertence à Igreja, ele pertence ao mundo, mas a Igreja deve desenvolver uma teologia política.

A atualidade de Bonhoeffer é no sentido de que hoje, inevitavelmente, não dá mais para explorar a fraqueza humana em nome do céu. O olhar é holístico, integral e não paliativo. A secularidade deve ser uma aliada da Igreja com sua missão no mundo, do contrário corremos o risco de cometer o mesmo erro da Igreja Católica quando ignorou a mutação social e foi perceber bem tarde que as cidades não são conhecidas pelas suas catedrais, mas pelos seus edifícios e chaminés. Não é com dominação social e discurso reacionário que a Igreja conseguirá ser portadora do Evangelho para esta sociedade globalizada.

6 comentários:

Claudinei Paulino disse...

Uma pastoral de 'dedicação ao homem', como você interpretou a partir de Bonhoeffer, compreende muito melhor a condição humana. Entretanto, é necessário que haja um consciência crítica entre pastores, entre a liderança de comunidades, o que me parece ainda algo muito distante. Mesmo assim, há reflexos de "renovação de mentes" (Rm 12:2), entre nosso meio. Bonhoeffer, para muitos, tem uma teologia ainda subjetivista, embora isso seja discutível. Para mim, o que chama atenção é que segundo ele, 'cristianismo sem discipulado não é cristianismo'. Hoje a gente deveria perguntar o que é o cristianismo, ou qual cristianismo... Belo texto.

Alonso S. Gonçalves disse...

Como você mesmo coloca, os grandes movimentos nunca partiu das estruturas, mas foram sempre marginais. Isso que fazemos é um movimento marginal, esse já é um bom começo.

Grato pela participação.

Danilo disse...

Ola Pastor Alonso,

Graça e Paz!

Vim conhecer seu espaço digital. Bom posts! A internet é um espaço precioso onde podemos falar de Jesus e discutir diferentes pontos de vista!

Aproveitando, faço uma apresentação do meu blog:

Genizah é um blog cristão diferente. Hilário e divertido, mas que não dispensa a seriedade na defesa do Evangelho. Uma mistura bem balanceada de humor, denuncia e artigos devocionais. No Genizah, você fica sabendo da última novidade do absurdário "gospel", mas também não falta material para inspiração e ótimas mensagens dos melhores pregadores. Genizah é um blog não denominacional apologético, com um time é formado por escritores, pastores, humoristas e chargistas cristãos.

Aguardo sua visita. Vamos nos seguir!

Abraços em Cristo e Paz!

Danilo Fernandes

http://www.genizahvirtual.com/

Alonso S. Gonçalves disse...

Obrigado Danilo pela participação.

Sobre o seu blog vou esta dando uma olhada.

Grato.

Hermes C. Fernandes disse...

Texto sensacional!

Parabéns pelo belo trabalho apresentado aqui no blog. Já estou seguindo.

Aproveito para lhe convidar a conhecer meu blog, e se desejar também segui-lo, será uma honra.
Seus comentários também serão sempre bem-vindos.

www.hermesfernandes.blogspot.com

Te espero lá!

Alonso S. Gonçalves disse...

Obrigado Hermes pela sua participação, vou acompanhar seu blog.