13.6.09

ERA POSSÍVEL UM MILAGRE?

A discussão teológico-filosófica sobre a relação Deus-mundo é ampla. Há algumas ideias clássicas sobre este tema como a doutrina da providência: o mundo e a humanidade não são governados por acaso ou pelo destino, mas por Deus, que dirige a história e a criação em direção a um objetivo supremo. Os pressupostos apontados pela doutrina da providência parecem não convencer a mentalidade pós-moderna de que Deus esta dirigindo a história e a criação, pelo contrário, o que se vê é um homem cada vez mais interessado em conhecer o universo e suas leis para dominar e explorar; um planeta em constante ameaça pelos poluentes produzidos pela ganância humana; uma história construída em meio a guerras e tragédias que poderiam ser evitadas se os homens vivessem em harmonia. Outra questão é: se Deus dirige a história ele esta sendo conivente com tudo isso?

Com isso gostaria de refletir sobre a mais recente tragédia humana: o voo AF 447 Rio-Paris da Air France. Até então não tinha nenhuma intenção de escrever sobre o assunto. Os depoimentos colhidos dos parentes e amigos daquelas pessoas, por si só já era sofrimento demais. Mas aí, como de costume nessas ocasiões, aparecem àqueles programas sensacionalistas querendo a qualquer custo ter audiência, buscando pessoas que poderiam estar no voo e por algum motivo não entraram naquele avião. Esta semana que passou, um programa de TV entrevistou um rapaz que no último minuto foi impedido de embarcar porque o avião já estava taxiando. Estavam no programa mais dois convidados: um astrólogo e um teólogo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Eles tentavam entender porque o jovem não morreu com todos os outros. Para encurtar aquelas bobagens, que nem mesmo tive paciência de acompanhar até o fim, o professor universitário afirmou que o jovem não entrou no voo porque ele precisava acertar alguma coisa em sua vida, por isso Deus o poupou. Simplesmente um absurdo. Uma postura recheada de conceitos calvinistas.

Para quem acredita em milagres, esse caso foi um deles. Mas, que Deus seria esse que poupou apenas uns e não mais de 200 pessoas? Se pudesse impedir, para quem entende que Deus permite tudo e se permite pode impedir, por que não segurou a aeronave no ar?

São vários os atalhos que tentam esquivar o homem do controle da história. O fato é que ao homem cabe a construção da história em liberdade e juízo, e que, portanto, cabem também as consequências de seus feitos e atos. Um mundo dirigido por milagres é inconsistente. Se o mundo fosse regido por milagres não haveria a necessidade da ordem natural das coisas e os efeitos que emanam da criação e sua complexa leis invioláveis. Se fosse possível um Deus atuando no mundo por meio de milagres, as grandes catástrofes naturais, as tragédias, a dor humana não seria mais possível, pois se Deus pode impedir que uma pessoa não entre no voo da morte pode também impedir que uma onda gigante não mate dezenas de milhares de pessoas! Por isso a impossibilidade de milagres, porque eles seriam contínuos a todo o momento e Deus estaria remendando a imperfeição do mundo com suas vicissitudes.

Com este texto não se pretende ser insensível com a dor humana ou muito menos negar o poder de Deus. O que se propõe é uma reflexão que indague se é possível uma predileção de Deus para alguns e outros não e ainda mais, essa predileção ser justificada como um milagre.

Deus não é o regente do mundo que a tudo manipula para se revelar; é entregue às criaturas a construção de sua história, Deus, tendo poder, leva muito a sério isso porque age com respeitosa resignação e aceitação consequente dos atos humanos.

A fé me sentencia a ver um Deus que não abandona na escura noite; um Deus de amor infinito que nunca quis o mal para seus filhos; um Deus que se coloca ao nosso lado nos momentos de dor, ajudando a suportá-la, dando alento e completando o coração com esperança.

Um comentário:

Pedro disse...

Deus é onisciente, onipresente e onipotente e continua no controle de todas as coisas. Não é um deus imanente e/ou transcedente que criou o mundo e o abandonou a sua própria sorte. Deus é Deus. Ele é construtor e continua sendo forte. A presença e o poder de Deus sempre dúvida sempre surge quando uma catástrofe. Deus é deus, se assim fosse porque aconteceu isso? Por que desabou o teto da Igreja Renascer ou por que caiu a torre de Siloé - A pergunta é mesma? Deus existe, se existe por que tal mal aconteceu? O Teólogo Ricardo Godim,(Artesão para uma grande história)quando aconteceu o tsunami, escreveu em um artigo sobre "onde estava Deus", mostrando a sua veia deísta, seguida por Kivitz, Natanael e outros que acreditam que boa parte da escritura é ficção ou lenda, não aconteceu como está escrito. Porém, eu creio que Deus é o mesmo, não muda, é o mesmo hoje, ontem e para sempre será.