1.11.08

A CRISE ECONÔMICA

Não sou economista. Na verdade estas linhas é um atrevimento de alguém que ouve nos jornais o que está acontecendo no universo econômico, à chamada crise financeira, e que gostaria de dar um pitaco.

Os historiadores costumam dizer que a história sempre se repete. Com esta crise parece que eles têm razão. Refiro-me a Crise de 1929. Ao final da Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos se estabelece como potência econômica e militar no mundo, fruto do seu messianismo para com os países europeus, que saíram arrasados da guerra. Responsável por quase 50% da produção mundial, os EUA assume a dianteira da economia mundial. O progresso tecnológico e o clima eufórico de consumo criaram o conhecido “estilo de vida americano”. A escalada de produção não acompanhou o consumo ocorrendo a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque em 1929 que abala o mundo inteiro, inclusive o Brasil e seus produtores de café.

É preciso voltar um pouco para entender como chegamos até aqui.

Com o Iluminismo a razão ficou sendo o instrumento de ordenação do mundo. Agora o homem domina a natureza e faz dela sua matéria-prima para produzir mercadoria. O Iluminismo terá como um de seus filhos a Revolução Industrial na Inglaterra no século XVIII. Desde o século XIV, com a expansão comercial, o dinheiro e o lucro se tornaram mediador das relações humanas. O novo sistema econômico tem em Adam Smith o seu teórico mais expressivo com seu liberalismo econômico. Smith entendeu o capitalismo como uma força autônoma, defendendo a não intervenção do Estado no plano econômico e a livre concorrência. Na contramão Karl Marx. Alguém que denuncia o sistema capitalista como desumano e cruel. Não quero entrar na sua teoria econômica, mas apenas salientar a sua preocupação com a transformação do homem em mercadoria. Ele diz: “a produção capitalista produz o homem não só como mercadoria, a mercadoria humana, o homem com caráter de mercadoria, mas o produz, de acordo com esse caráter, como um ser desumano quer espiritual, quer fisicamente.”

Seria Marx um profeta? Estaria ele com razão quando no Capital acredita que a produção capitalista acabaria destruindo o ser humano e a natureza?

José Saramago, escritor português que faz uma leitura dos dilemas humanos como a dominação política, as barreiras que se opõem aos sentimentos mais profundos do ser humano como o amor e a solidariedade, deu uma entrevista na semana passada, e como de costume poucos jornais deram esta notícia. O assunto era a crise financeira e as medidas milionárias que os governos de diversos países estavam tomando para salvar o sistema financeiro global. Na entrevista ele pergunta: “onde está este dinheiro para salvar os africanos da fome e da miséria?” É Saramago o sistema econômico sempre foi mais importante que as pessoas. Friedrich Engels tem razão quando coloca o Estado como o primeiro poder ideológico no sentido de garantir o bom funcionamento da economia e a defesa da propriedade privada.

A crise demonstra a relação dependente das pessoas com o dinheiro. As pessoas coisificam as relações pessoais e personalizam as coisas. O dinheiro é transformado em fetiche quando o ter é confundido com o ser. É muito comum ver alguém comprando algo não porque precisa de fato, mas porque deseja. O produto é mais um combustível de vaidade pessoal.

A crise financeira revela uma crise humana. Quando as pessoas colocam o dinheiro como centro de suas vidas, as relações ficam deterioradas. Isso não começou no setor imobiliário norte-americano que deflagrou a crise. Isso é conseqüência da relação depredatória que a humanidade vem construindo com o planeta desde a Revolução Industrial; o autoritarismo econômico dos países chamados ricos sobre os países emergentes; o lucro como fator preponderante nas relações diplomáticas.

Quando as relações entre nações forem pautadas pela ética e a solidariedade e não somente pelo fator econômico, seria possível ver um mundo melhor onde os milhões seriam destinados a pessoas e não a bancos.

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