1.10.08

O JUGO DE JESUS

A observação da Lei no tempo de Jesus pelos fariseus era absoluta. Havia, até mesmo, em alguns círculos teológicos, a compreensão de que o próprio Deus nos céus se ocupava por algumas horas por dia no estudo da Lei. Essa obsessão pelo cumprimento da Lei levava os fariseus a fiscalizar e oprimir as pessoas com suas diversas prescrições legais.

O autor do Evangelho de Mateus irá ser taxativo em denunciar a postura dos fariseus. No capítulo 23, o mais denso contra os fariseus, o autor descreve a dimensão do jugo sobre os outros: “amarram fardos pesados e põem nas costas dos outros, mas eles mesmos não os ajudam, nem ao menos com um dedo, a carregar esses fardos” (Mt 23,4 NTLH).

Os embates de Jesus com os fariseus serão em torno da interpretação da Lei. A postura hermenêutica de Jesus contrariava padrões e desconsidera tradições. O homem não era para o sábado, mas o sábado para o homem; a impureza não estava em lavar ou não as mãos para comer, mas dentro do homem, de onde brota toda a maldade; não é a Lei que salva, mas é o amor. Com essas interpretações “heréticas”, Jesus é acusado de blasfemo. Era um novo jugo que Jesus convidava a carregar. Não aquele da opressão, mas da leveza.

“Venham a mim, todos vocês que estão cansados de carregar as suas pesadas cargas, e eu lhes darei descanso. Sejam meus seguidores e aprendam de mim porque sou bondoso e tenho um coração humilde; e vocês encontrarão descanso. Os deveres que exijo de vocês são fáceis, e a carga que ponho sobre vocês é leve” (Mt 11,28-30 NTLH). Com este texto, que só se encontra em Mateus, o autor esta dizendo que sua comunidade, que também era judaica, é um lugar de descanso, suavidade e conforto.

É interessante observar que este texto é usado para “evangelizar”. Quando alguém se “converte” a uma igreja é logo lhe colocado um jugo. Tira o “jugo do pecado” e coloca-se outro. Em alguns lugares o jugo é: não poder ver televisão; mulheres não cortam o cabelo, não usa cosmético, não veste calça; crente não joga futebol; não vai à praia. A vida cristã é mais legalidades que espiritualidade.

Confundi-se Evangelho com Cultura. Só para constar: os missionários do Norte chegaram aqui e não viam problema nenhum no tabagismo, aliás, a obra missionária era sustentada com a indústria do tabaco. Para acentuar a ética do diferente, marcada pelo anticatolicismo, estabeleceu-se a regra de que crente não bebe e não fuma. O que dizer dos cristãos na Itália que bebem seu vinho no almoço e na janta? E os alemães com sua cerveja? Os africanos e suas danças? Alguns ainda irão dizer que isso é totalmente errado e “pecado”.

O jugo não deixa ver o Evangelho, apenas as regras. É sempre mais fácil estipular regras e proibições porque a liberdade de consciência assusta. Além do mais o legalismo dá um ar de santidade e do viver correto e funciona como termômetro da “verdadeira espiritualidade”.

O jugo de Jesus é o amor, o perdão e o abraço de irmão. Para alguns esse jugo é mais pesado que dos fariseus. Foi o que Paulo tratou em Gálatas e o caso com os judaizantes. O único jugo de toda a Lei é o amor (5,13) e o único jugo de Jesus é o amor.

Nenhum comentário: