7.10.08

DEUS NÃO TEM TÍTULO DE ELEITOR

Quando chega esta época é a mesma coisa. Os políticos fazem suas alianças, combinam suas barganhas, prometem o impossível e compram alguns votos. No cenário evangélico chega a ser até mesmo bizarro algumas coisas. Os pretensos “eleitos do Senhor” usam o púlpito, transformando-o em palanque e com a conivência do líder, despeja um punhado de asneiras para convencer o povo de Deus de que ele e não outro é o “escolhido de Deus” para o cargo. Já vi este filme: sacos de cimento são “doados” tijolos comprados e latas de tinta adquiridas tudo em nome da “providência divina” que ouviu as orações da igreja.

O discurso é o mesmo: “irmão vota em irmão”; “Deus não nos colocou para sermos calda, mas cabeça”. Em alguns lugares há até mesmo “revelação” de Deus confirmando o candidato X. Em algumas igrejas o candidato leva a igreja de “porteira fechada” e aí daquele que não cumprir com os “propósitos de Deus”. Cidadania, direito de votar em quem quiser não existe.

Nas eleições municipais do Rio de Janeiro o Tribunal Regional Eleitoral recolheu exemplares do jornal Folha Universal (IURD) no dia das eleições (05/10) porque estava beneficiando o candidato a prefeito o senador Marcelo Crivella. Aliás, o senador visitou vários pontos da cidade do Rio de Janeiro fazendo boca de urna porque pretendia ir para o segundo turno de qualquer jeito. A Igreja Universal do Reino de Deus fez a sua parte, investiu pesado na divulgação do candidato além, é claro, de pedir votos abertamente em suas reuniões. Uma cidade nas mãos deles é o maior sonho de consumo.

Essa tendência de teocratizar o Estado não é de hoje. Calvino, por exemplo, pretendia estabelecer em Genebra um sistema totalitário onde pudesse controlar a vida dos cidadãos usando como pressuposto a Bíblia. Ele queria na verdade uma aristocracia dos eleitos, para isso queimou pessoas contrarias as suas pretensões. A perseguição religiosa promovida pela monarquia inglesa foi legitimada pela Igreja Anglicana, surgindo daí grupos contrários à união Igreja-Estado, dentre eles os batistas levantando a bandeira da separação entre Igreja e Estado no século XVII. Parece que em época de eleições o povo evangélico respira ares teocráticos. O candidato tem como legitimação a “vontade de Deus” e sendo assim Deus irá fazê-lo ganhar. Não é democracia onde o povo elege seus representantes pelo seu plano de governo e biografia pública, mas é teocracia, Deus movendo os eleitores para eleger o irmão que é “servo do Senhor”.

Conversando com um colega sobre isso, ele dizia que Deus não tem título de eleitor e muito menos preferência partidária. É preciso entender que a história é conduzida pelo Homem e suas decisões têm conseqüências. Não foi Deus quem colocou Hitler no poder que por sua vez dizimou milhares de judeus; não é Deus o responsável pela gestão desastrosa do Bush; não foi Deus quem elegeu Collor que por sua vez surrupiou a poupança dos brasileiros.

Ser evangélico não credencia ninguém a cargo político. Ser cidadão comprometido com a justiça e o bem comum do povo sim.

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