22.4.16

ANTAGONISMO BATISTA - PARTE I

A eclesiologia batista e suas contradições: dons espirituais ou votação de cargos?

Vez ou outra escuto alguém dizer que a Igreja Batista é uma das melhores denominações do Brasil. Esse preciosismo se deve, em grande parte, à formação batista no Brasil que herdou o legado material, teológico e identitário dos missionários que aqui estiveram.

É sabido também que muitas pessoas que hoje pertencem a uma Igreja Batista, desconhecem a história do movimento e muito menos aquilo que baliza suas posturas. Há um desconhecimento quanto aos princípios batistas que são, notadamente, confundidos com doutrinas batistas. Há ainda quem diga que os batistas têm uma ortodoxia e a Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira é uma “regra de fé e prática”.

O que é uma Igreja Batista?

De acordo com a Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira, uma Igreja Batista “é uma congregação local de pessoas regeneradas e batizadas após profissão de fé. É nesse sentido que a palavra ‘igreja’ é empregada no maior número de vezes nos livros do Novo Testamento”. Com essa assertiva, os batistas se entendem como uma igreja neotestamentária e procuram ser fiéis ao que o Novo Testamento ensina sobre igreja. Deste modo, afirmam a autonomia das igrejas, daí não é possível nomear como Igreja Batista, mas sim Igrejas Batistas, por conta da sua pluralidade e sistema congregacional. Como igrejas autônomas e democráticas, elas não possuem um sistema centralizador, ou seja, cada igreja é soberana em suas decisões administrativas, que são tomadas democraticamente e isso é o que caracteriza a forma de governo de uma Igreja Batista. A democracia é sua forte característica e implica em uma participação igualitária dos membros de uma comunidade local, homens e mulheres, nas decisões a serem tomadas quanto aos rumos da comunidade. Isso é o ideal.

Segundo a Declaração Doutrinária da CBB quanto a natureza da igreja, ela é expressa em dizer que se trata de uma igreja nos moldes do Novo Testamento. Será?

Aponto algumas contradições da eclesiologia ideal (Declaração Doutrinária da CBB e Novo Testamento) e a real (com seu modus operandi na realidade das igrejas).

Em uma igreja neotestamentária não havia cargos a serem votados, pelo menos na de tradição paulina. Nem mesmo no caso de Matias foi uma votação, mas sim uma sorte entre dois nomes (At 1,15-26). Logo, votação para assumir cargos e funções na comunidade não havia. O Novo Testamento traz os dons espirituais como condição para o exercício das funções e possíveis cargos. Mesmo que haja uma certa compatibilidade entre votação e dons espirituais, é algo raro nas Igrejas Batistas. Ainda predomina a perspectiva dos cargos e a votação como condição para exercê-los. As disputas entre as pessoas para os respectivos cargos são acirradas e as assembleias se transformam em batalhas para assumir determinada posição, uma vez que ela pode conferir empoderamento. No Novo Testamento, há pelo menos quatro listas sobre os dons espirituais – (Rm 12,3-8; 1Co 12 e 14; Ef 4,11-13; 1Pe 4,10-11) – todas elas tratam de algo outorgado pelo Espírito Santo que dispõe como lhe cabe dentro da comunidade de fé.

Uma vez com os respectivos cargos, as pessoas passam a exercer uma função dentro da comunidade que só cabe a ele ou ela. Assim, outra pessoa não poderia fazer, mesmo que tenha condições para isso, porquê já foi votado quem deve/deveria realizar tal atividade. Aquelas pessoas que no memento da votação se sentiram pressionadas a aceitar algum cargo, assim que possível deixa de exercer tal função.

A igreja ideal, do Novo Testamento, tem nos dons espirituais sua maneira de se organizar, onde cada um servi uns aos outros “conforme o dom que recebeu” (1Pe 4,10). Se recebeu não há necessidade de ser votado. Se a comunidade reconhece os dons de alguém, logo não é preciso votar para que tal pessoa exerça suas funções dentro da comunidade.

Esse antagonismo batista se dá em confundir práticas do Novo Testamento com sistema de governo de uma Igreja Batista. Na prática do Novo Testamento, os dons espirituais são imprescindíveis. No sistema de governo de uma Igreja Batista, a votação é elemento preponderante na condução de uma comunidade. Isso leva/levou ao equívoco de votar em funções que o Espírito Santo já capacitara para tal, mas a igreja, desprovida de um inventário de dons e seus respectivos ministérios, desconhece a dinâmica dos dons e as pessoas que assim possam exercê-los dentro da comunidade e fora dela.

Consulta

Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira. Rio de Janeiro: JUERP, 1986.
Juan Antônio Estrada. Para compreender como surgiu a igreja. São Paulo: Paulinas, 2005.

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