1.11.13

E POR FALAR EM REVELAÇÃO

Revelar é mostrar, ou apontar, para um aquém. Pelo menos é assim que a palavra (conceito) desde Heródoto veio a significar, ou seja, desvendar, manifestar.

A linguagem é meio indispensável para a comunicação e as palavras servem para nomear, narrar, conceituar experiências que vivenciamos. Sem a linguagem não haveria a organização do nosso “mundo”, ela define o que somos e o que pensamos. O filósofo Wittgenstein, estudioso da linguagem, vai dizer que no jogo de linguagem é o aprendiz que dá nome aos objetos (coisas). Ainda lidamos com a dialética no pensamento ocidental, por culpa dos gregos, e sempre estamos tentando decifrar a coisa, ou seja, o objeto visto, experienciável. Rubem Alves, leitor de Wittgenstein, irá acentuar de que as “linguagens são construções da realidade”, sendo assim, a linguagem exerce um domínio, uma força que, de alguma maneira, nos aprisiona, e, ainda com o mineiro que é campineiro, ela nos enfeitiça. Em suma, toda a reflexão, seja que nome possa dar, é fruto de uma linguagem que exprime nossos palpites sobre o “mundo” ou acerca dele.

A palavra revelação, e sua tradução, sendo uma herança dos gregos também, é uma linguagem que procura expressar aquilo que estava encoberto e veio à tona, o que estava oculto e foi possível desocultar. A palavra revelação ficou tão restrita ao campo religioso, no caso aqui ao cristianismo desde o primeiro século, que a filosofia prefere o termo desvendamento por conta da ambiguidade etimológica da palavra.

O Novo Testamento (NT) é linguagem e o grego está na sua construção. Sendo assim, o NT é fruto de uma linguagem e, portanto, procura decifrar experiências que pessoas tiveram com o Deus de Israel e, posteriormente, com Jesus de Nazaré. Nesse sentido a linguagem expressa, ou, de alguma maneira, procura decifrar aquilo que essas pessoas vivenciaram.

Tendo isso como pressuposto, a Bíblia (o texto) em si não seria a revelação. Essa afirmativa pode chocar alguns por achar que ela, a Bíblia, é a Palavra de Deus enquanto letra. Está aí mais uma tremenda confusão, pelo menos para mim. Palavra de Deus não pode ser texto, ou seja, linguagem, esta, a linguagem, expressa àquilo que se vivenciou e não pode ser um instrumento em si puramente, mas um apontar para. Neste sentido a Palavra de Deus é uma pessoa e não um texto. O texto só foi possível porque houve uma pessoa e não ao contrário. A carta aos Hebreus (1,1-2), por exemplo, deixa isso bem claro: “nestes últimos dias nos falou pelo Filho”. Em Colossenses (1,15) temos a seguinte afirmativa: “ele (Jesus) é a imagem do Deus invisível”. Os exemplos bíblicos podem ser multiplicados facilmente e o exemplo mais cabal disso é a questão de Filipe com Jesus: mostra-nos o Pai (Jo 14,8-9).

A revelação não é a linguagem do texto, mas uma pessoa. A linguagem é usada para expressar aquilo que está diante dos olhos e mesmo assim ela ainda não dá conta: “o que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos e as nossas mãos apalparam, com respeito ao verbo (palavra = logos) da vida” (1Jo 1,1).

A revelação de Deus só é possível em uma pessoa, Jesus. E este, não ensinou sobre a onipotência, onisciência e a onipresença de Deus, aliás, uma linguagem adotada a partir de conceitos gregos, linguagem essa que o NT não usou e muito menos Jesus para falar do Deus Pai.  

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