5.12.11

A GRATUIDADE DA GRAÇA NA COMUNIDADE: UMA EXPOSIÇÃO DE MATEUS 18

Na Memorial em Iporanga estamos refletindo sobre a graça de Deus. Gostaria de compartilhar uma dessas mensagens a partir do evangelho de Mt capítulo 18 (leia o texto).

Se apropriando do evangelho de Mateus, que juntamente com Tiago são explicitamente judaico-cristãos, mais especificamente o capítulo 18 (cap. 18), faço uma leitura do texto olhando para a comunidade mateana que reflete a fé em Jesus como o Messias e procura resolver seus problemas internos.

É uma comunidade que enfrenta problemas externos (os fariseus, principalmente) e internos (a própria comunidade). Quando o autor quer falar a sua comunidade ele mesmo nos dá uma chave de leitura, utilizando a palavra irmãos (gr. adelfoz). O cap. 18 é conhecido como o “discurso comunitário”, o centro da experiência eclesial no evangelho de Mt. O ponto central do discurso é a graça de Deus fechando o capítulo com os versículos 21ss.

Na comunidade que vivência a graça de Deus não há maior ou menor. Daí a pergunta dos discípulos não serem condizentes com o real sentido de ser comunidade: “quem é o maior no reino dos céus?” A criança é metaforicamente utilizada para dizer: na comunidade da graça de Deus não deve haver reivindicação de prioridade, de superioridade, de posição. Antes deve haver humildade, franqueza, respeito, consideração.

Mais a frente o autor de Mt utiliza a palavra pequeninos. Quem são os pequeninos? São os fracos da comunidade; são os que necessitam de atenção. Traduzindo para uma linguagem coloquial, são os irmãos que tem dificuldades em frequentar os encontros da comunidade; dificuldades em fazer uma leitura atenta da Bíblia; são aqueles que possuem debilidades em sua fé, e quem não as tem? São aqueles em que não se pode contar muito. Para com esses pequeninos o cuidado deve ser dobrado. É melhor morrer do que fazer um desses tropeçar no caminho do discipulado.

O autor do evangelho de Mt usa até mesmo uma linguagem apocalíptica para defender os pequeninos da comunidade. Utiliza-se de fogo, inferno. Quando ele fala de mão, pé, olho é uma linguagem simbólica para exemplificar as ações dentro da comunidade (vs. 8-10). Sem dúvida a questão do imaginário infernal como julgamento definitivo está presente no evangelho de Mt, mas aqui no cap. 18 está se dirigindo à comunidade. Aqui é configurada uma situação em que o membro da comunidade se afastou do seu maior objetivo, a própria comunidade. Para Mt é o falso irmão, e o “fogo” (símbolo tão controverso no Novo Testamento) é a frustração angustiante de que está afastado do que Deus deseja para a comunidade. Nesse caso, o texto não está falando de gente que não conhece a Cristo, mas sim de pessoas que dizem ter tido uma experiência com ele. Esse é o mesmo caso no cap. 25 versos 41-42, o julgamento final levará em conta a atuação ao próximo, e aqueles que não corresponderam quanto a essa prática, o destino será o inferno. Ele encerra a questão dos pequeninos contado a parábola da ovelha perdida, ou seja, deixa a noventa e nove no aprisco e sai a procura daquele que se perdeu. Tudo isso para dizer: não deixem que suas pequenas coisas afastem ou façam perecer os pequeninos da comunidade.

E quanto aos erros que toda comunidade tem? Mt irá regulamentar isso a partir do vs 15: “se teu irmão pecar contra ti...”. O roteiro é apresentado: primeiro entre as partes envolvidas, depois se não houver solução duas pessoas, persistindo, a igreja, recusando ouvir a igreja, tratar como alguém que nunca teve ou perdeu o senso de comunidade (gentio/publicano). Mas o foco maior mesmo está na boca de Pedro: “até quantas vezes devo perdoar, sete vezes?” O perdão na comunidade não é uma questão de contabilidade. Assim como Deus que nos libera perdão numa rotação máxima, deve ser a comunidade para com os erros do próximo. Mais uma vez Mt encerra contando a parábola conhecida como “credor incompassivo”. Uma grande dívida foi perdoada (o Pai e sua infinita graça) e mesmo assim aquele homem decidiu cobrar uma ínfima quantia de outro.

A graça na comunidade é assim: ela nos nivela, não existindo maior ou menor, todos como crianças; a graça exige cuidado para com os pequeninos (fracos) da comunidade e perdão para os erros que com certeza aparecem na comunidade. Essa é a graça de ser dependente da graça de Deus e de ser comunidade. 

Nenhum comentário: