8.10.09

ENTRE O ALTAR E O PALANQUE

Dilma Rousseff na Assembleia de Deus

Não é de hoje que os candidatos a presidência da república levam em consideração o número de evangélicos-eleitores do país, que chega a ser 15% da população brasileira. Começou com Fernando Henrique Cardoso em seu primeiro mandato, logo ele que se diz ateu, indo a reuniões de igrejas evangélicas.

Com a possível candidatura de Marina Silva (PV-Acre) em 2010, que é ligada à Assembleia de Deus, de propósito ou não (mais sim que não) Dilma Rousseff (PT) – ministra-chefe da Casa Civil – vem colecionando encontros com os evangélicos do país. Já esteve com os “Hernandes” e agora é vista na Igreja Assembleia de Deus em São Paulo numa reunião que comemorava o aniversário do seu papa, José Wellington Costa, e disparou elogios aos assembleianos. O discurso dela se inicia saudando a todos com "queridos irmãos e irmãs, que a paz do Senhor esteja com vocês", apesar de não ser religiosa. É claro que os evangélicos não são os únicos a se encontrar com a candidata petista, ela já esteve com o Pe. Marcelo Rossi e seus encontros pop; participou de celebrações com os católicos carismáticos da Canção Nova; por último se reuniu com os líderes assembleianos em vistas a 2010. Registra-se que entre os presentes estava lá o presbiteriano e ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho (PR), assegurando apoio e prometendo preparar palanque para Dilma no Rio.

O que mais chamou atenção na noite inesquecível com a ministra foi a palavra do deputado federal e pastor assembleiano Hidekazu Takayama (PSC). Defendeu abertamente a candidatura de Dilma, e como não podia faltar o conhecido espírito messiânico que este povo tem em líderes políticos, disse: “em suas mãos está o destino do nosso país".

Ao lado da Universal, a Assembleia de Deus é a igreja que mais tem sucesso eleitoral. Elege deputados com um discurso ainda batido: “é preciso ter gente nossa lá, para que no caso de perseguição...”. A campanha é aberta, declarada. A união palanque-altar é evidente. Em templos assembleianos há lugar de “honra” para políticos e tribuna para discursar. Para quem tem memória, a Assembleia de Deus foi a principal opositora da candidatura do presidente Lula, alegando que ele promoveria o fechamento das igrejas e apoiaria o casamento homossexual, e hoje...

Ainda não chegamos em 2010, mas já dá para ter uma ideia o que será isso. Não se esta criticando a postura dos candidatos de participarem de reuniões evangélicas, mas a postura dos evangélicos diante de candidatos a presidência da república. Não há uma postura profética que nasce da consciência límpida de que a igreja tem deveres sociais e éticos, e que a ela cabe uma ação responsável de cidadania como expressão de santidade a Deus e compromisso com o povo. Parece que o número de evangélicos no país não tem contribuído em nada para influenciar a vida social e política. Os conchavos são feitos em vista de benefícios corporativos; manipulam-se os votos dos fiéis com um discurso apocalíptico e reivindica apoio irrestrito a um candidato de consenso.

Os líderes assembleianos perderam a oportunidade para falar se a secretária da Receita Federal, Dra. Lina, entrou ou não em seu gabinete; perderam a oportunidade de entregarem um manifesto reivindicando melhorias em instalações públicas como hospitais e escolas; perderam a oportunidade de pregar contra a corrupção e o cuidado para com o dinheiro público e sua devida aplicação; perderam a oportunidade de afirmar que a igreja estará de olho tanto para fiscalizar como também, se preciso for, apontar os desvios de conduta de quaisquer políticos deste país. Enquanto isso não ocorre parece que o altar será usado mais para palanque.

Fonte: Notícias Yahoo: www.yahoo.com.br

Textos de apoio
Robinson CAVALCANTI. A igreja, o país e o mundo: desafios a uma fé engajada. Viçosa: Ultimato, 2000.
Ricardo MARIANO. Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo no Brasil. São Paulo: Loyola, 1999.

4 comentários:

Blog da IBBG disse...

Só para registrar, uma vez participando de uma culto, numa igreja batista, o pregador disse em alto e bom som: "Esse homem que Deus colocou para ser o nosso Presidente!" Referia-se a Fernando Collor. Sem comentários.

Natanael

Alonso S. Gonçalves disse...

Parece que este povo ainda não aprendeu nada, lamentavelmente.

Mimi, Lili, Theo e Liz disse...

Ola pastor... Gostei do artigo.Alguém pode até usar aquela celebre frase que expressa a "filosofia formal" do século XXI, onde dizem: "não tem nada de mais" líderes evangélicos e políticos juntos. Lembram do Sinédrio e o Palácio no inicio desta era? Os mais antigos também se lembram da união da igreja católica com a UDN e o PSD para depor o então presidente João Goulart, só pra refrescar a memória, era o ano de 1964; o que dizer das ultimas noticias de Magé, sobre o pastor batista Ricardo Barcellos Nascimento e sua milionária conta bancaria enquanto velhinhos da ONG viviam em péssimas condições? Este é um extrato das possibilidades deste "casamento politico-religioso" ou "altar-palanque". Parabéns pelo artigo.

Alonso S. Gonçalves disse...

A união Estado-Igreja sempre foi prejudicial para o cristianismo. Vale lembrar que foram os protestantes, entre eles os batistas, no século XVII que lutaram contra o rei da Inglaterra para separar Igreja-Estado, os mesmos protestantes (batistas e presbiterianos) que foram para os EUA e lá construíram a primeira Constituição no mundo em que há liberdade religiosa e separação Igreja-Estado, dando ao Ocidente a noção de democracia. Sobre 1964, vale lembrar que nesta época a Igreja Católica estava preocupada com o comunismo na América Latina e no continente inteiro apoiou ditaduras. No Brasil, na figura de Dom Evaristo Arns (Diocese de São Paulo), os católicos viram o mal que os militares estavam fazendo e lutaram contra a repressão sendo uma força política incrível para a redemocratização do país. Hoje vemos os conchavos, os acordos, principalmente na Assembleia de Deus que tem um histórico de aliar-se a políticos em campanhas eleitorais. Há batistas? Deve haver, não tão evidente como os assembleianos, alguns que fazem esse papelão de aliar-se a políticos. Sobre o tal pastor Ricardo que tinha R$ 980 mil em sua conta, é deploravel, mas ele não representa a denominação batista e nós, os batistas, pelo caráter de sermos automistas, não podemos ter um controle sobre isso. É uma pena.