6.12.08

O QUE NÃO SE APRENDE NA ESCOLA

Uma homenagem aos formandos do 3º Ano/2008 da
Escola Estadual Nascimento Sátiro da Silva – Iporanga/SP

Eles estão felizes. Em fim saíram da escola. A frase mais ouvida é: “não via a hora de deixar esta escola; até que fim acabou”. Devem estar contente mesmo, quase doze anos estudando em uma instituição que tem a função de democratizar o ensino e a cultura adquirida pela humanidade ao longo dos anos. Eles não agüentavam mais mesmo!

Fica uma pergunta: o que de fato aprenderam na escola? As fórmulas, a língua, a história, a pensar? Eles viram todas as disciplinas possíveis para se tornarem o que a sociedade vigente deseja – cidadãos preparados para o mercado de trabalho. Foi o tempo, e muito tempo mesmo, em que o ensino era a lição de vida e as experiências adquiridas pela família. A escola não existiu sempre. Vale lembrar que antigamente o meio social em que a pessoa estava inserida era o contexto educativo. Foi a partir da Idade Média que a educação tornou-se produto da escola. É aqui que surgem as pessoas especializadas para transmitir o saber em espaços definidos e específicos. Com a industrialização, a educação ganhou outro status: preparar o indivíduo para o trabalho. É este modelo que temos até hoje. Exigem-se cada vez mais pessoas com mão-de-obra especializada. A técnica alienou o processo educativo, estipulando um único fim: o sucesso financeiro. Para isso o aluno é enclausurado em um prédio com o pretexto de prepará-lo para a vida pública, e quanto mais ele se destacar neste casulo mais tem sucesso lá fora. É por isso que a teoria pedagógica acentua que o aproveitamento do aluno é definido pelas notas, sendo estas o resultado do esforço ou o fracasso dele, e no caso de fracasso o sucesso na sociedade está comprometido.

A escola ficou com a responsabilidade que muitos educadores não gostariam de ter: educar os filhos dos outros para a vida. Antes os papéis eram mais definidos – a escola preparava o indivíduo para a vida pública e a família ficava com a formação moral da criança. Isso não é mais possível. Hoje a escola ocupa os espaços e as lacunas deixadas pela família. Daí a sua influência na formação profissional, na orientação sexual, nos valores para a vida, nos ideais de cidadania. O agravante é que a escola ainda custa a acreditar que ela, querendo ou não, esta com a responsabilidade de vincular todos esses temas. Mas isto não consta no currículo escolar. As disciplinas devem ser propedêuticas, alegam. Afinal de contas o que interessa mesmo são os números, e por isso o pragmatismo metódico e os prazos para cumprir propostas e alcançar metas, pois o produto final são as planilhas e as tabelas de aprovação, e neste emaranhado de burocracia inútil o aluno é apenas mais um número no sistema.

O que não se aprende na escola? Não existe uma disciplina que ensine ao aluno a ter consciência política de que o poder público não esta acima dele, mas abaixo, como quem ganha para servir; não se aprende que o indivíduo é responsável pelo outro, mas exagera-se na idéia de que o outro deve ser eliminado; não se aprende a ser crítico frente a cultura vinculada na mídia; não se aprende a se engajar em movimentos sociais que valorizem a coletividade; não se aprende que o futuro não cai do céu e que as pessoas são responsáveis por suas histórias de vida.

Paulo Freire combateu este sistema educacional que privilegia o individualismo em detrimento do companheirismo. A educação para ele passava pela ética e virtudes como solidariedade, amorosidade, tolerância, respeito ao outro e suas diferenças, convivência e persistência. Seu lema era: “outro mundo é possível”.

Eles podem até estarem alegres porque finalmente saíram da escola, mas a escola nunca sairá deles. Lá na frente eles irão perceber que a escola foi a coisa mais importante de suas vidas, e com certeza, terão saudades. O que consola o professor(a) é a sensação de que alguma coisa que não estava no currículo escolar ficou em suas vidas.

A vida irá ensiná-los. Como diz a expressão popular: “quanto mais se vive, mais se aprende”.

“Ninguém nasce feito: é experimentando-nos no mundo que nós nos fazemos”.
Paulo Freire

Pr. Alonso Gonçalves

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