19.5.08

CONVIVÊNCIA

Alguém já definiu convivência como viver em comum, ter familiaridade.

Mas o que é viver em comum? Comum é o mesmo que dizer que o que ocorre com um pode muito bem ocorrer com o outro e isso nos torna seres comuns. A nossa comu-nidade (uma unidade comum) se dá em três dimensões básicas - planetária, humana e eclesial. A planetária - porque habitamos o mesmo planeta; a humana - porque somos de uma mesma espécie e isso nos define como seres semelhantes, e querendo ou não, o que nos torna semelhantes são, exatamente, as semelhanças que temos uns com os outros, como a capacidade de amar, odiar, rir, chorar, se alegrar, sofrer... Talvez isso seja viver em comum, ou seja, conviver. Porque o tu não é tão diferente do eu.

Estamos condenados pela nossa existência humana a conviver com os seres humanos. E só há possibilidade de se reconhecer como humano, ou seja, de que sou isso e não outra coisa, e que portanto estamos, todos, passíveis de erros e acertos, sentimentos nobres e maléficos, no outro. Porque o outro não é diferente, e por não ser diferente torna-se semelhante e é esta semelhança, que, de forma inexorável e de maneira inevitável, nos sentenciam a conviver, uma maneira comum de viver a vida.
A convivência só é possível quando se reconhece e compreende de que somos feitos da mesma coisa e que portanto isso nos torna familiares.

Se somos feitos da mesma coisa temos virtudes, defeitos, patologias, sentimentos... E se tenho isso o outro também têm! Mas o grande problema, e uma das barreiras para a convivência, é não aceitar no outro aquilo que há em nós. A isso a psicologia profunda chama de projeções - é a capacidade de projetar ou transferir para o outro aquilo que vai no íntimo da personalidade como sentimentos e frustrações. Vê-se no outro aquilo que não gostaria de ver em si mesmo, atribuindo ao outro aquilo que não quer admitir para si. Alguém que, por exemplo, não conseguiu perdoar uma pessoa por um erro que cometeu têm a tendência de não acreditar em ninguém que esteja pedindo perdão. Esta é uma barreira psicológica à concretização da convivência porque em vez da tolerância a intolerância, a cooperação a competição, o amor o ódio, o altruísmo o egoísmo, o perdão o rancor e a mágoa.

Somos feitos para a convivência. Se olharmos para a epopéia de Gênesis 2,18 ("não é bom que o homem esteja só") veremos que ao ser humano foi lhe dado a dimensão da convivência. Agora ele não apenas vive, mas convive - vive em comum com o outro com defeitos e qualidades, erros e acertos. O eu tem um eco no tu, e isso nos define como irmãos.

Está aí o grande diferencial da Igreja - proporcionar a convivência entre os humanos, esta é a dimensão eclesial. E para a Igreja a fonte da convivência é o próprio Cristo. Uma vez batizados e participantes da comunidade de fé a convivência é estabelecida porque todos estão nele.

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