8.10.15

UMA REFORMA QUE NÃO ACONTECEU: OS HOLANDESES NO BRASIL

Esse ano a Reforma Protestante completa 498 anos (31 de Outubro de 1517). A contagem regressiva para os 500 anos da Reforma Protestante está dada, um feito histórico que definiu os rumos do cristianismo e favoreceu mudanças em diferentes vertentes da sociedade. Indubitavelmente a Reforma abrigou aspectos que não são plausíveis, como as guerras religiosas, mas também favoreceu abertura de caminhos que o mundo contemporâneo ainda respira suas “conquistas”.

No Brasil a Reforma bateu à sua porta por duas ocasiões, antes da inserção definitiva do comumente denominado protestantismo(s) de missão.

A primeira se deu com a chegada dos huguenotes – calvinistas franceses. Na França as batalhas religiosas provocaram inúmeras mortes, como a mais sangrenta delas, conhecida como o massacre de São Bartolomeu. Além disso, as disputas e conflitos entre católicos e protestantes agravaram a instabilidade política e econômica do país. É dentro desse contexto que Nicolau Durand de Villegagnon chega à baía de Guanabara em 1555 com o sonho de fundar no Brasil a França Antártica. Tal empreitada não obteve êxito principalmente por disputas internas entre Villegagnon e os pastores, enviados e recomendados por Calvino, envolvendo questões doutrinárias como a transubstanciação, por exemplo. De um modo geral, as disputas entre os calvinistas franceses e Villegagnon envolviam prestígio pessoal e questões políticas.

A segunda presença de protestantes no país se deu com os holandeses.

Um país dominado pela Espanha, a Holanda também enfrentou conflitos envolvendo católicos e protestantes. Depois da Revolta dos Camponeses, os holandeses se revoltam contra o rei espanhol, Felipe II. Abraçam o calvinismo e a liberdade que almejavam, destituindo assim um sistema absolutista.

Nesse tempo, a Holanda é um país com ares de liberdade religiosa, recebendo grupos de outros países que buscavam vivenciar a fé fugindo da perseguição religiosa. Entre eles estão os anabatistas e depois os batistas (1609). Por esse tempo convivem luteranos, bem como anabatistas e calvinistas.

É dentro de um contexto de guerra, que os holandeses se lançam ao mar a fim de pilhar riquezas dos espanhóis. Assim, chegam ao Brasil em 1630. Estabelecem o comércio no país e dão enormes prejuízos aos espanhóis e portugueses quando capturam seus navios.

Os holandeses, ao que parecia, possuíam condições favoráveis para estabelecer uma colônia bem sucedida no Brasil. Dois motivos eram bem claros: comércio e propagação da fé reformada.

Uma vez no Brasil, há registros de tolerância religiosa entre reformados e católicos, com alguns excessos de ambos os lados, mas ainda assim os católicos poderiam exercer sua religião de maneira livre nos seus espaços. Diferente da posição portuguesa, que não admitia nenhuma outra expressão religiosa que não fosse católica.

Um dos principais objetivos dos holandeses reformados no Brasil foi à evangelização dos nativos. Para isso, enviavam líderes nativos para serem educados na Holanda a fim de voltarem e continuarem a propagação da fé reformada. Entre esses estão Pedro Poti, um dos líderes mais destacado nessa face de evangelização holandesa no país.

A reforma que não aconteceu de maneira concreta, contribuiu para o avanço da economia, ciências, artes e liberdade religiosa. Foram os primeiros a desenvolver literatura religiosa em três idiomas (holandês, tupi e português).

Um período de guerras e traições culminou na retirada dos holandeses em 1654. Quando os católicos procuram recristianizar o território até então ocupado pelos holandeses, se dão conta do projeto político, econômico, educacional e social que a pequena reforma deixou no território. O padre Antônio Vieira, chegando lá para tal trabalho, se depara com algo assim: “uma verdadeira Genebra de todos os sertões do Brasil, porque muitos dos índios pernambucanos foram nascidos e criados entre os holandeses”.

A proposta da reforma impetrada pelos holandeses deixaram os padres atônitos com o que viram. Os trajes com que se vestiam e a capacidade de ler e escrever. Além disso, o aspecto religioso era notório na fé reformada. Era outro modelo de inculturação, diferente do modus operandi dos portugueses.

Diferente dos huguenotes, os holandeses deixaram uma marca, favorecendo uma mentalidade cristã reformada entre os nativos do Brasil.

Em uma época onde a questão religiosa era tão impregnada com as demais áreas da vida em sociedade, sem a presença do secularismo contemporâneo, os holandeses no Brasil demonstraram o espírito reformado, deixando uma clara diferença entre os dois modelos de colonização e religião quando comparado ao português.

Nenhum comentário: