21.4.13

O ESPÍRITO SANTO: ATUALIZADOR DA PRÁXIS DE JESUS

José Comblin é, indubitavelmente, um dos mais conhecidos teólogos na América Latina e no mundo. Sua vasta produção bibliográfica o colocou na lista dos teólogos mais importantes da teologia latino-americana da libertação. Falecido em Março de 2011, Comblin deixou uma profícua reflexão em torno do tema da pneumatologia. A sua última obra, editada postumamente, leva o seguinte título: O Espírito Santo e a tradição de Jesus. São Bernardo do Campo: Nhanduti, 2012. O livro é um ajuntamento de vários textos que Comblin vinha trabalho sobre o Espírito Santo e sua relação com Jesus e, como consequência, com os discípulos de Jesus, ou seja, com a igreja de Jesus.

Uma frase chamou-me atenção no livro de Comblin: “pois Jesus foi a revelação do Pai, mas essa revelação somente pode ser entendida pelo Espírito Santo. Somente podemos entender Jesus agindo como ele”. Nesta frase há alguns enfoques seminais sobre a pneumatologia que passo a destacar brevemente.

O Novo Testamento sempre deixou muito claro que Jesus é a revelação de Deus. Por mais que alguns queiram colocar a Bíblia como revelação de Deus, o Novo Testamento parte do pressuposto de que Jesus revelou a Deus Pai planamente: Jo 14,9 – quem me vê a mim, vê o Pai. A revelação, portanto, não é um texto, é uma pessoa – Jesus de Nazaré. Como Jesus revelou o Pai? Agindo, curando, ensinando, se relacionando, comendo junto, bebendo junto, participando de festas, andando com os marginalizados e etc. Tudo isso e muito mais é Jesus! A novidade teológica de Comblin é que essa revelação só pode ser entendida pelo Espírito Santo. A questão é como se dá esse entendimento. Há princípio não é um entendimento intelectual de aprender lendo apenas. Também não é um entendimento meramente racional, ou seja, é preciso ir além da mera letra, é preciso agir como Jesus. Para que a revelação de Jesus sobre o Pai seja entendida por nós – seus discípulos hoje –, se dá por meio do Espírito Santo, mas se não for possível compreender como o Espírito Santo atualiza a prática de Jesus, a revelação que Jesus faz do Pai não será entendida.

Jesus – enquanto portador da mensagem do Reino de Deus – buscou estar aberto ao outro em suas necessidades e problemas. A missão de seus discípulos foi em seguir os passos do Mestre, reproduzindo sua práxis em situações históricas diante de outros contextos e circunstâncias. Aos discípulos de hoje só é possível entender Jesus por meio do Espírito Santo, e para isso é preciso entender como o Espírito Santo age nos discípulos de Jesus. Se Jesus foi abertura incondicional ao outro, ou seja, ao próximo, o Espírito Santo é essa força (δυναμις = Dunamis) que possibilita ao discípulo a abertura para o outro, porque a tendência geral do ser humano é o fechamento em si mesmo no egoísmo. No entendimento da revelação e no agir como Jesus é que se dá a atuação do Espírito Santo.

Diante disso, a ideia de que as pessoas precisam aprender doutrinas porque assim elas entenderão Jesus é apenas menos da metade. Doutrina, não necessariamente, ajuda a entender o agir de Jesus. O entendimento racional sobre Jesus é possível, mas a sua práxis é que é fundamental. Sem a práxis de Jesus não é possível entender Jesus plenamente. A atualização da práxis de Jesus é o Espírito Santo que realiza com sua força que impulsiona o discípulo a agir como ele.